sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Descaso

                          Ser sincero, nunca mentir, são conselhos dos pais, religiosos e demais  pessoas envolvidos na formação das crianças. Na convivência diária, a  realidade é outra. Falar a  verdade é um perigo  que pode levar  tanto à Delegacia de Polícia, e em situações mais  delicadas, até o repouso eterno  em algum cemitério. Assim, nunca se sabe qual a importância que uma pessoa tem para a outra, principalmente no trabalho.
             No mercado  profissional existe um objetivo em comum que  é trabalhar e crescer  na empresa em busca de satisfação pessoal e melhor remuneração, portanto, falar a verdade pode colocar em risco estes planos. Como dizer ao seu chefe, que   é difícil   trabalhar com ele, não só pela sua desorganização e  atrasos  na entrega de documentos que precisam ser  enviados  com urgência, mas, principalmente pela mania de ficar  longo tempo em chamadas particulares e  recusando à atender clientes. Difícil!  Em  tempos de crise e crescente desemprego,  qualquer pessoa ajuizada, prefere  contornar a situação  e dizer suaves mentiras que a  ajudarão a permanecer no cargo, sem prejuízo para  ninguém.
            As relações do ambiente de trabalho perduram pós-demissão, já que na busca de uma nova oportunidade,  precisa-se de referências do anterior, logo, profissionalmente, o bom senso manda falar somente aquilo que precisa e pode ser dito e cria-se a ilusão de que todos se dão bem,  se respeitam e que preocupam-se  uns com os outros. Mas com perspicácia, em situações simples, percebe-se que  aquele funcionário dedicado, sempre disponível para atender os superiores e por parte deles, não recebe o valor que merece.
            O pontual  e  leal Sr  Carvalho saiu de férias e  precisou  ir à empresa para resolver umas pendências e, enquanto esperava pelo superior, percebeu jogada displicentemente em cima  do balcão, uma  carta pessoal, a ele  endereçada, uma distração do remetente, que enviou no endereço comercial em vez do residencial.  Ao olhar a data da postagem, ficou decepcionado!  Tinha sido postada a mais de vinte dias. Naquele momento ele percebeu que  a estima que lhe era dedica  não era sincera, pois todos sabiam o número do   seu telefone, quando precisavam dele para resolver alguma questão, fora de seu horário de trabalho.  Era uma carta particular, da sua cidade natal, poderia ser de um parente idoso que não tem familiaridade com  as redes sociais. Por que  ninguém se preocupou em guardá-la com cuidado e  lhe telefonar para que fosse buscá-la? Pensou  amargurado! Mas por prudência, preferiu não dizer nada,  colegas de trabalho melindram  com coisas pequenas, principalmente quando estão errados, e  conseguir um novo trabalho está difícil até  para as pessoas que cursaram uma faculdade, imagine ele, com apenas segundo grau completo!

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