Em sua pequena propriedade, da
qual ele retira o sustento da família, nunca precisou de leis ambientais para preservar as espécies nativas e as
nascentes. “ Cuidar para não faltar” é o lema da família, transmitido de
geração em geração. Diferente da maioria
das pessoas, que tem animal de estimação, Sô João tem árvores de estimação. Ele
se preocupa com a preservação de todas as espécies, mas o seu coração pulsa forte é pelos pequizeiros, abundantes em sua gleba e que já
foram defendido à bala, pelo seu avô, quando madeireiros tentavam derrubá-las na calada da noite e vender a madeira clandestinamente para a construção civil. Quando os pequis estão maduros, ele abre as porteiras
para as pessoas de baixa renda colherem os frutos e aumentarem a sua renda,
garantindo assim, a compra do material escolar das crianças e outras despesas.
Em sua simplicidade, ele diz que o cerrado, o segundo maior bioma
nacional, é a caixa d’água do Brasil, é
o berço das águas, já que abriga várias nascentes que beneficiam grandes rios, entre eles o
Velho Chico, o rio da integração nacional. E para ter este recurso em abundância, é preciso ter
centenas de milhares de árvores nativas.
Cientificamente, ele não sabe explicar, mas tem
firme convicção que, menos árvores é igual a menos água para todos, menos
alimento e menos energia elétrica.
Tem coisas que estão além da compreensão do Sô João, por exemplo: Os
jovens, após um período mínimo de nove
anos estudando, deixam a escola sem
conhecer a importância do cerrado como fonte de recursos hídricos,
biodiversidade de fauna e flora, e que o
desperdício comum, das populações
urbanas, tem reflexos diretos no campo. Ele costuma dar exemplos,
como estes: Se espécies como angico,
aroeira, cedro, peroba, jacarandá, ipê, vinhático, e outras, são utilizadas na construção civil, indústria
moveleira, fabricação de instrumentos
musicais entre outros objetos utilitários; então a responsabilidade da preservação, do que
resta do cerrado original, é de todos; como exemplo se o jovem músico,
cuida de seu instrumento, ele durará mais. A máxima vale também para os móveis.
Trabalhadores da construção civil, que preocupam –se em reduzir e reutilizar a
madeira, também estão contribuindo
para diminuir o desmatamento.
Outro ponto que o Sr João também não compreende é porque o fruto do cerrado não é largamente utilizado na
gastronomia urbana. Por que as pessoas da cidade preferem alimentar-se dos frutos que foram
introduzidos em vez de se deliciarem com
o sabor marcante do pequi e do jatobá, ambos de riquíssimo teor nutricional.
A exploração dos frutos do cerrado na
gastronomia urbana, contribui na redução do desmatamento, porque são
espécie nativas e o manejo da agricultura sintrópica se torna mais fácil, e também reduz
a quantidade de agrotóxicos, consequentemente, aumenta-se a produção de
mel silvestre, com o retorno das abelhas, que são vítimas dos inseticidas utilizadas nas lavouras.
Como diz o Sô João, “É de responsabilidade do Poder Público
zelar pelo bem estar na nação. Mas
também é dever de todos fazer a sua parte. Onde está a falha? Por que as
pessoas se distanciaram tanto da natureza? Se
na escola lhes foi ensinado que o
cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, porque não fazem a sua parte para
preservá-lo?” Ele sempre se pergunta! Informação somente não basta, é preciso atitude!
Um dos caminhos para a preservação do bioma deve começar no seio da
família, ensinando os filhos a consumirem frutos nativos. A igreja, que sempre
promove quermesses para angariar fundos, também deve ter uma barraca de
produtos típicos da região. A escola, por onde passa todas as crianças, deve
ser uma incentivadora, não somente com a
informação intelectual, mas com atitude e exigir do Estado ou Município,
a introdução dos frutos do cerrado na
merenda escolar. A popular em geral, deve exigir de seus governantes, que
criem incentivos aos produtores rurais e indústrias alimentícias
para que possam explorar o
potencial gastronômico do cerrado, de
maneira mais natural possível, visando
o bem comum.
Embora com quase noventa anos, Sô João costuma dizer que vem do cerrado a sua força e desejo de viver. É
lá que retira grande parte de seu alimento e é lá
também que encontra-se a sua farmácia e
que as Universidades devem pesquisar
mais as espécies medicinais e juntos com a indústria farmacêutica nacional,
curarem as dores da nação. Na visão de Sô
João, é preciso que
a nação brasileira entenda que o cerrado não precisa o homem, mas o
homem precisa dele e, preservá-lo é uma necessidade, para a continuidade da
espécie humana, porque sem água e
alimento ninguém sobrevive. E o
pequizeiro? È o ouro do cerrado! Isto já
diz tudo.
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