terça-feira, 16 de julho de 2024

Desejo Matinal e a Renovação da Vida

 

Ao despertar desta matutina aurora, fui acometido pelo desejo insaciável de degustar carne suína. Para dominar tal anseio, que parecia emanar dos próprios desejos das grávidas, aguardei a abertura do comércio. Munido da vassoura, desci ao átrio, varrendo não apenas minha calçada, mas também a dos dois vizinhos acima, a fim de que suas impurezas não profanassem meu domínio. Uma transeunte ousou interpelar-me, arguindo que as folhas ensujavam excessivamente a calçada, impondo labor intensivo. Discordei, e com firmeza repliquei que tal tarefa empreendo com o coração transbordante de gratidão, pela sombra que oferecem, pelo oxigênio que exalam. No ciclo da vida, quando secas, essas folhas fertilizam a terra, perpetuando o curso da existência. Sou eu parte deste ciclo de renovação, e o que verdadeiramente me entristece não é o recolhimento das folhas outonais, mas sim o destino cruel que as espera no lixão, onde seu ciclo vital se interrompe abruptamente. A maior das sujidades, revelo-lhe, advém daqueles transeuntes que, sem escrúpulos, poluem nossa via com papéis, garrafas, restos de cigarro, latinhas e outros detritos. Acredito que minha resposta não tenha lhe agradado, pois nosso diálogo estagnou. Posteriormente, encaminhei-me ao mercado, onde adquiri um pernil, temperado com alecrim, exalando um aroma divino. Neste ato, expresso minha sincera gratidão ao animal que, ao sacrificar sua vida, provê sustento à minha existência.

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