No âmago de uma disputa fraternal, duas irmãs se enfrentavam em um palco de intrigas sobre a herança de um pai em estado de letargia. Sob a generosidade paterna, ambas habitavam apartamentos em propriedade sua, isentas de custos comuns. Sara, encarregada dos negócios familiares, e para desafiar Clotilde, que residia no térreo e desfrutava do jardim solitário, alugou um antigo barracão, erguido como depósito durante a construção, contendo uma área para armazenar materiais, um banheiro e uma zona com um tanque para limpar ferramentas – sem portas, entretanto. Sob acordos verbais, o idoso, em dificuldades financeiras e abandonado pela família devido ao alcoolismo, aceitou agradecido, preferindo essas condições modestas ao frio e às ameaças da rua.
Émily, a segunda irmã, que residia noutra paragem, ao tomar conhecimento do
impasse, procurou intervir e, com meios próprios, custear a instalação de duas
portas: uma para o quarto e outra para o banheiro. Contudo, a busca por um
artífice capacitado, munido de ferramentas e habilidades necessárias,
revelou-se infrutífera. Até ao presente, as portas compradas jazem esquecidas
num canto do quarto, pois o profissional contratado enfrentou três acidentes
inexplicáveis, lançando suspeitas de encantamento; cada tentativa de agendar a
conclusão do trabalho resultava numa nova calamidade para ele.
Assim, entre as paredes silenciosas do lar, as portas permanecem testemunhas
mudas de um conflito familiar, enquanto o tempo se desenrola em seu ritmo
enigmático e implacável.
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