Sob o céu de concreto, nos prédios populares, a vida dança no fio tênue entre segurança e incerteza. Cada passo no corredor é um compasso na sinfonia dos vizinhos, e o que se desenrola ao lado reverbera em nosso próprio espaço.
No apartamento contíguo, o gás escapa em suspiros
silenciosos, e o cheiro se infiltra pelas frestas. Panelas de pressão estouram
como trovões domésticos, ecoando histórias de pressa e descuido. E os
vazamentos ocultos, esses fantasmas líquidos, sussurram segredos nas paredes, infiltrando-se
como intrusos indesejados.
Os incêndios, como brasas adormecidas,
aguardam o momento certo para se inflamar. Não ousamos mencioná-los, pois o
medo é um fogo que arde sem chama aparente. E os arrastões, as brigas
apaixonadas, são dramas que se desenrolam nas sombras dos corredores, como atos
de uma peça trágica.
E a insônia, essa companheira noturna, nos
visita com seus olhos insondáveis. Deitamos sob lençóis finos, temendo que o
sono seja um abismo do qual não retornaremos. A certeza do repouso é um luxo
reservado aos que habitam outros mundos, enquanto nós, inquilinos da urgência,
nos equilibramos na corda bamba entre o sono e a vigília.
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