quinta-feira, 11 de julho de 2024

Caneta de quatro cores

       Rosária foi alfabetizada em escola rural e classe multisseriada, até a antiga terceira série primária, quando ainda se recebia o diploma da quarta série e fazia exame de admissão para entrar na quinta série. Aos pequeninos, era permitido apenas o uso do lápis; pode-se concluir que o conhecimento adquirido deixava muito a desejar. Para a certificação, era necessário cursar o último ano na escola urbana. Rosária estava animadíssima! Ganhara cadernos e livros novos, e pasmem, até uma caneta Bic de quatro cores, que era o sonho de consumo dos alunos rurais. Rosária já se imaginou fazendo amizades com os alunos da cidade, todos admirados com a sua caneta, a qual ela emprestava com alegria. Já no primeiro dia de aula, a criança já sentiu na pele o peso das diferenças culturais. Os colegas de classe a olhavam com desprezo, ignorando-a quando ela tentava puxar conversa. E quanto à caneta de quatro cores? Que decepção, todos a possuíam e muito mais: canetas hidrocor, caixa de lápis de cor com 36 lápis e outros materiais que a pobre criança desconhecia.

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