Em um pacato povoado, que quase chegava a ser um bairro da
cidade, mas ainda sem projeto lei para
integrá-lo ao município e, por
outro lado, os moradores não tinham
interesse uma vez que urbano, o IPTU seria mais caro, lá residia o Seu Eduardo, homem carismático, sorriso
largo e sempre disposto a ajudar, enfim, era uma pessoa que todos gostavam de
ter por perto, inclusive, o Seu Pedro, idoso que viajava muito para ver os
netos que moravam na capital, e que apesar da humildade, era o morador de maior poder aquisitivo. Porém,
por trás dessa fachada de amabilidade, escondia-se um segredo que mudaria a
percepção de todos.
Sempre
que Seu Pedro retornava de alguma viagem, notava o sumiço de pequenos objetos,
principalmente ligados a hidráulica,
ferramentas, e utensílios domésticos. Nada de grande valor financeiro,
mas cada peça tinha um significado especial para seu proprietário por ser
coisas que pertenceram a falecida. Estranhamente, nunca havia vestígios de arrombamento. Depois de
muita reflexão, Seu Pedro, lembrou
que no dia do falecimento de sua amada
esposa, fora ele que fechara a casa e
somente entregou as chaves após o
sepultamento. Temendo arrumar
inimizades, no horário em que o vizinho fora
cumprir com suas obrigações na igreja, ele chamou um chaveiro da cidade, trocou todas as fechaduras
externas e pediu discrição ao profissional, mediante uma boa gorjeta e aos amigos e vizinhos, anunciou uma nova
visita aos netos. Em seu retorno, observou que havia sumido, pequenas coisas
que não estavam dentro da residência, mas no quintal, como mangueira, tela do galinheiro. Desta vez Seu Pedro chamou uns
dois moradores, inclusive o Seu Eduardo, para comunicar o fato e alertar a
comunidade. A partir daquela data, as conversas
entre os moradores começaram a girar em torno desses estranhos
desaparecimentos. Alguns suspeitavam de furtos, outros cogitavam que era mera
distração. Mas um fato é que o Sr. Antônio estava presente para consolar e
oferecer apoio ao vizinho lesado, que teve sangue frio para não deixar
transparecer a sua suspeita.
A
desconfiança crescia, e Seu Pedro, aproveitou os festejos em homenagem ao Santo
Padroeiro do povoado, contratou uma
equipe de jovens profissionais
para colocar câmeras escondidas em pontos estratégicos. Para não levantar
suspeita quanto a presença de estranhos, alegou que os hospedara, a pedido dos
netos, que vieram também. Quando os pseudos convidados foram se despedir dos moradores, Sr.Pedro
anunciou que os acompanhariam até a
capital, aproveitando a carona. E foi assim que a verdade veio à tona.
Na mesma noite, antes do cantar do galo, a câmera captou o Sr. Eduardo entrando
sorrateiramente e tentando abrir as portas
com uma chave mestra. O neto de Seu
Pedro, que estava hospedado em um hotel
na cidade, monitorando tudo, chamou a Polícia. Os policiais, após analisarem as imagens capturadas, tiveram o
cuidado de não ligarem a sirene e o pegarão com a “boca na botija.” O Sr. Eduardo,
autuado em flagrante confessou seus atos. Disse que nunca tivera a intenção de
magoar ninguém, apenas sentia uma estranha compulsão ao ver objetos que
pertenciam ao morador, uma vez que eram de melhor qualidade do que os que ele
possuía. O episódio deixou marcas na comunidade. A confiança no vizinho
prestativo foi abalada, e os laços de amizade entre os moradores ficaram mais
tensos por um tempo. O caso do Sr. Eduardo serviu como um lembrete doloroso de que, por
trás das aparências, sempre há segredos e facetas ocultas que podem surpreender
até mesmo aqueles que julgamos conhecer bem.
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