terça-feira, 2 de julho de 2024

A Face Oculta do Vizinho Amigável

 

Em um pacato  povoado, que quase chegava a ser um bairro da cidade, mas ainda sem projeto lei para  integrá-lo ao município e,  por outro lado, os moradores não tinham  interesse uma vez que urbano, o IPTU seria mais caro, lá residia o   Seu Eduardo, homem carismático, sorriso largo e sempre disposto a ajudar, enfim, era uma pessoa que todos gostavam de ter por perto, inclusive, o Seu Pedro, idoso que viajava muito para ver os netos que moravam na capital, e que apesar da humildade,  era o morador de maior poder aquisitivo. Porém, por trás dessa fachada de amabilidade, escondia-se um segredo que mudaria a percepção de todos.

            Sempre que Seu Pedro retornava de alguma viagem, notava o sumiço de pequenos objetos, principalmente ligados a hidráulica,   ferramentas, e utensílios domésticos. Nada de grande valor financeiro, mas cada peça tinha um significado especial para seu proprietário por ser coisas que pertenceram a falecida. Estranhamente, nunca  havia vestígios de arrombamento. Depois de muita reflexão,  Seu Pedro, lembrou que  no dia do falecimento de sua amada esposa, fora ele que fechara a casa e  somente entregou  as chaves após o sepultamento. Temendo  arrumar inimizades, no horário em que o vizinho fora  cumprir com suas obrigações na igreja, ele chamou um  chaveiro da cidade, trocou todas as fechaduras externas e pediu discrição ao profissional, mediante uma boa gorjeta e  aos amigos e vizinhos, anunciou uma nova visita aos netos. Em seu retorno, observou que havia sumido, pequenas coisas que não estavam dentro da residência, mas no quintal, como mangueira, tela do  galinheiro. Desta vez Seu Pedro chamou  uns  dois moradores, inclusive o Seu  Eduardo, para comunicar o fato e alertar a comunidade. A  partir daquela data, as conversas entre os moradores começaram a girar em torno desses estranhos desaparecimentos. Alguns suspeitavam de furtos, outros cogitavam que era mera distração. Mas um fato é que o Sr. Antônio estava presente para consolar e oferecer apoio ao vizinho lesado, que teve sangue frio para não deixar transparecer a sua suspeita.

 A desconfiança crescia,  e Seu Pedro,  aproveitou os festejos em homenagem ao Santo Padroeiro  do povoado,  contratou uma  equipe de  jovens profissionais para colocar câmeras escondidas em pontos estratégicos. Para não levantar suspeita quanto a presença de estranhos, alegou que os hospedara, a pedido dos netos, que vieram  também. Quando os   pseudos convidados  foram se despedir dos moradores, Sr.Pedro anunciou que os acompanhariam até  a capital, aproveitando a carona. E foi assim que a verdade veio à tona.

Na mesma noite, antes do cantar do galo, a  câmera captou o Sr. Eduardo entrando sorrateiramente  e tentando abrir as portas com uma chave mestra.  O neto de Seu Pedro, que estava  hospedado em um hotel na cidade, monitorando tudo, chamou a Polícia. Os policiais, após  analisarem as imagens capturadas, tiveram o cuidado de não ligarem a sirene e o pegarão com a “boca na botija.” O Sr. Eduardo, autuado em flagrante confessou seus atos. Disse que nunca tivera a intenção de magoar ninguém, apenas sentia uma estranha compulsão ao ver objetos que pertenciam ao morador, uma vez que eram de melhor qualidade do que os que ele possuía. O episódio deixou marcas na comunidade. A confiança no vizinho prestativo foi abalada, e os laços de amizade entre os moradores ficaram mais tensos por um tempo. O caso do Sr. Eduardo  serviu como um lembrete doloroso de que, por trás das aparências, sempre há segredos e facetas ocultas que podem surpreender até mesmo aqueles que julgamos conhecer bem.

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