sábado, 27 de julho de 2024

Perfume da fé

 

A fé, como uma harpa invisível, ecoa através das histórias dos que dobram seus joelhos e elevam preces. E assim, em meio a momentos difíceis, os santos se revelam como faróis de esperança, amparando-nos na terra pelo poder da oração.  Nas encruzilhadas do destino, ela se ajoelhava. Não era a primeira vez que entrelaçava suas súplicas à novena de Santa Terezinha das Rosas. O coração, como um pássaro inquieto, batia asas contra o peito. E então, os sinais surgiam. Ela sabia que a fé não era apenas uma palavra; era um aroma que impregnava o ar. Nas manhãs silenciosas, quando o mundo ainda dormia, ela se ajoelhava e entrelaçava suas preces à novena. Santa Terezinha das Rosas, a guardiã dos segredos, ouvia.

Na primeira novena, um buquê de flores desabrochou em sua vida, inesperado como um verso de amor. Na segunda, uma flor de hibisco, improvável e delicada, pousou em suas mãos. E agora, na terceira, uma foto no Facebook: mãos entregando uma rosa com a mensagem: “Para você que precisou ser forte hoje e foi.”

A emoção, indescritível, dançava entre os poros. Era como se alegria, essa onda invisível, penetrasse em seu corpo e alma. A graça já estava tecida no tempo, esperando apenas o momento certo para se revelar. Seu coração, leve como as asas de um anjo, sabia disso.

E ela olhava para os ancestrais, aqueles que haviam sido melhores, que encontraram a iluminação em vida. Inspirava-se neles, desejava ser o eco de sua fé. Queria tornar a vida das pessoas mais leve, como quem borda estrelas no céu noturno.

Assim, convidava todos os que lessem seu testemunho: confiem. A graça é uma promessa sussurrada pelo vento. Entre com devoção, ergam seus pedidos à amada Santa Terezinha das Rosas. A confirmação virá, como o nascer do sol. E a fé, como um esteio, sustentará suas almas.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Reverencia aos avós

     Hoje é dia dos avós, e João sentia em seu peito uma profunda gratidão por aqueles que vieram antes, por aqueles cujas vidas foram marcadas pela coragem e pela determinação. Homens e mulheres que desbravaram caminhos para que a vida de seus descendentes fosse mais leve, para que tivessem mais tempo para o lazer que eles mesmos não puderam desfrutar, para que pudessem amar seus filhos de uma forma que lhes foi negada, pois o trabalho era árduo e as jornadas, intermináveis. Começavam suas lidas ao cantar do galo e só cessavam com a escuridão da noite. E, em noites de lua cheia, tão logo os raios de luar beijavam a terra, iniciavam uma nova jornada até o corpo ceder ao cansaço. Era necessário. Máquinas não existiam, e toda a produção era artesanal, desde o preparo da terra para o plantio até o preparo das refeições no fogão a lenha. Assim também eram as roupas: plantavam o algodão, compassavam, capinavam, colhiam, passavam no escaroçador para retirar as sementes, batiam, cardavam, fiavam, faziam as meadas, tingiam, e, depois de secas, enrolavam em novelos, teciam, e só então as roupas eram confeccionadas. Era um processo longo, as roupas eram pesadas e difíceis de lavar. Eles foram heróis, e ele os reverenciava. Neste dia dos avós, ele honrava suas memórias com profundo respeito e gratidão.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Camas em cinzas

             Desfazer-se do passado não é tarefa fácil. Rosalina, coração em turbilhão, adentrou a casa herdada dos pais. Esquecida desde o falecimento de ambos, a morada outrora imaculada agora abrigava ácaros, cupins, aranhas e formigas. Curiosamente, as baratas haviam desertado, talvez por meses de inatividade na cozinha. O velho fogão, testemunha silenciosa, evocou lágrimas em Rosalina, trazendo à memória o aroma das refeições preparadas por sua mãe. Herança da avó materna, aquele fogão resistira ao tempo sem jamais clamar por conserto. Quantas bocas alimentara, quantos corações aquecera?

As lembranças se agitaram como folhas ao vento. A infância, os cachorros e gatos à espreita, olhares pidões implorando sobras. E o quarto dos pais, santuário de nascimentos e despedidas. A cama, outrora berço de sonhos, agora jazia deteriorada. Rosalina ansiou deitar-se, reviver cada instante ali vivido, mas a madeira carcomida pelos cupins e o colchão manchado de fezes de morcegos negaram-lhe esse último abraço ao passado.

Com força desconhecida, arrastou a cama e o colchão para o quintal. O fogo, aliado da transmutação, consumiu a madeira, as lembranças, os suspiros da  maternidade/paternidade. Pediu perdão aos pais, enquanto as chamas dançavam, libertando o quarto para novas histórias.

A segunda fogueira, agora com as três camas de visitas, ardeu. Ali repousaram os filhos, testemunhas das visitas aos pais. Rosalina, olhos fixos no fogo, compreendeu: era hora de despedir-se da cama que embalara seus sonhos, inquietações e responsabilidades. O fogo, transformador e impiedoso, liberou o espaço das lembranças. E Rosalina, corajosa, jurou honrar o sacrifício dos pais, construindo um novo legado sob as estrelas que agora os abrigavam.


quarta-feira, 24 de julho de 2024

Pó de memórias

                   

Hoje, 22 de julho de 2024, Clara e Helena partiram juntas em direção ao velho casarão herdado de seus pais. A casa, mergulhada em um inventário interminável e necessitando de uma reforma urgente, permanecia indisponível para locação. Situada em um bairro periférico, na rota do tráfico, Clara nunca ousava ir sozinha; assim, dependia da companhia de Helena, que ficava no quintal, vigilante, observando qualquer sinal de perigo.

No universo dos mais pobres, possuir um casebre já é sinônimo de riqueza, e esse era o caso delas. Ninguém ponderava que, dividida entre tantos herdeiros, a herança mal daria para comprar uma bicicleta nova. Mas, com a economia do país cambaleando, qualquer real recebido era um lucro inesperado.

O suplício começou cedo, quando Clara passou na casa de Helena. Helena resmungava sobre o horário, o frio matinal que lhe cortava a pele. Clara sugeriu um casaco, mas Helena recusou veementemente, convicta de que o calor da tarde dissiparia qualquer frio.

Ao adentrarem a casa, foram recebidas por uma nuvem de poeira, traças nas paredes, aranhas no teto e fezes de morcego no chão. A magnitude do esforço necessário para a limpeza se revelava ali, em cada canto escuro e empoeirado. As chaves, emaranhadas em confusão, adicionavam uma camada extra de frustração à tarefa.

Enquanto Clara se dedicava à limpeza e à organização, Helena perambulava pela casa e quintal, em busca de algo que pudesse levar. Alguns móveis e utensílios domésticos dos pais ainda não tinham destino certo. Clara, paciente, separava o que podia ser doado e o que só servia para o lixão. Entre tantas coisas, encontrou uma jarra de plástico bem conservada e separou para si. Mas Helena, sem uma palavra, apoderou-se da jarra, enchendo-a com itens do quintal, com uma naturalidade que assustava Clara.

Foi nesse instante que Clara compreendeu a transformação de Helena. Ela se tornara o espelho do que mais criticava no vizinho que vivia à direita da casa, aquele que recolhia tudo por pura cobiça, acumulando inutilidades em seu lar. A percepção desse reflexo entre Helena e o vizinho trouxe uma tristeza silenciosa ao coração de Clara, enquanto continuava seu trabalho, imersa na poeira do passado e nas sombras do presente.

Poeira, sombras e chaves

              Sob o manto do tempo, em um dia  frio de julho, a figura da herança se desdobrou diante dos olhos de duas irmãs. A casa velha, legada por seus pais, erguia-se como um relicário de memórias e sombras. O inventário, como um pergaminho envelhecido, clamava por atenção, mas a reforma, como uma epopeia esquecida, permanecia à margem.

Era uma morada periférica, nos confins da cidade, onde os ventos sussurravam segredos e os muros guardavam cicatrizes. Na rota do tráfico, a casa se encolhia, temerosa, enquanto os herdeiros, como personagens de um drama barroco, dançavam entre o medo e a necessidade.

A irmã, sempre vigilante, mantinha-se no quintal, olhos atentos à aproximação de qualquer ameaça. Ela era o escudo, a sentinela das sombras. Enquanto isso, a irmã, no interior da casa, enfrentava o pó e a decadência. Traças dançavam nas paredes, aranhas teciam teias como fios do destino, e fezes de morcego manchavam o chão como versos obscuros.

As chaves, como símbolos enigmáticos, resistiam à identificação. Cada porta guardava segredos, e o esforço para desvendá-los era como decifrar um enigma divino. A irmã, impaciente, percorria os cômodos, ávida por algo que pudesse carregar consigo. A irmã, solitária em sua tarefa, separava móveis e utensílios, como um alquimista dividindo elementos em busca da pedra filosofal.

E ali, no limiar entre o passado e o presente, a jarra plástica emergiu como um artefato sagrado. Com tampa intacta, ela brilhava como uma relíquia. A irmã a separou, sem saber que a irmã, como uma bruxa gananciosa, já a enchia com fragmentos do quintal. Coisas sem valor, mas carregadas de cobiça.

E assim, na penumbra da casa velha, o drama se desenrolava. As herdeiras, como personagens de uma tragédia, enfrentavam a ganância e a decadência. A jarra, agora repleta de insignificâncias, era o símbolo de suas vidas fragmentadas. E o barroco, com suas curvas e excessos, tecia a teia do destino, onde a casa velha, como um altar profano, aguardava sua redenção ou sua ruína.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Crônicas de um edifício anônimo

             Sob o céu de concreto, nos prédios populares, a vida dança no fio tênue entre segurança e incerteza. Cada passo no corredor é um compasso na sinfonia dos vizinhos, e o que se desenrola ao lado reverbera em nosso próprio espaço.

No apartamento contíguo, o gás escapa em suspiros silenciosos, e o cheiro se infiltra pelas frestas. Panelas de pressão estouram como trovões domésticos, ecoando histórias de pressa e descuido. E os vazamentos ocultos, esses fantasmas líquidos, sussurram segredos nas paredes, infiltrando-se como intrusos indesejados.

Os incêndios, como brasas adormecidas, aguardam o momento certo para se inflamar. Não ousamos mencioná-los, pois o medo é um fogo que arde sem chama aparente. E os arrastões, as brigas apaixonadas, são dramas que se desenrolam nas sombras dos corredores, como atos de uma peça trágica.

E a insônia, essa companheira noturna, nos visita com seus olhos insondáveis. Deitamos sob lençóis finos, temendo que o sono seja um abismo do qual não retornaremos. A certeza do repouso é um luxo reservado aos que habitam outros mundos, enquanto nós, inquilinos da urgência, nos equilibramos na corda bamba entre o sono e a vigília.

Assim, nos prédios populares, a vida se desdobra em capítulos anônimos, e cada porta guarda segredos que jamais serão contados.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Quando o amor acaba

 

Quando o amor se esvai, deixando um vazio profundo no coração, o senso comum sugere que a mesquinharia sutilmente preenche este espaço. Os filhos, outrora laços de ternura, transformam-se em moedas de troca, e a disputa pelos pertences do lar adquire dimensões inimagináveis. Nos finais de semana, as crianças, que deveriam ser a essência de pureza e alegria, tornam-se um fardo, pois os pais, agora solitários na pista da vida, buscam libertar-se da responsabilidade, ansiando por novos amores.

Crê-se que, na maioria das vezes, não se casa por amor verdadeiro, mas sim por uma paixão fugaz ou interesses materiais, desejando enriquecer o patrimônio com o mínimo de esforço. E há aqueles sonhadores, idealistas de um ninho de amor eterno, que, ao enfrentar a primeira adversidade da vida conjugal, clamam pelo divórcio. Em um gesto de vingança, tornam a divisão dos bens um campo de batalha, disputando objetos que, na verdade, só têm valor por serem desejados pelo outro. E assim, o objeto da contenda, uma vez obtido, acaba esquecido em alguma caixa ou destinado ao lixo.

Presenciar tais cenas corriqueiras e melancólicas na dissolução de um matrimônio faz qualquer alma temente a Deus refletir sobre o sagrado juramento feito aos pés do altar: cuidar com amor e responsabilidade dos filhos que o Pai Celestial confiou, e permanecer unidos, apoiando-se mutuamente, até que a morte os separe.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

A Cassandra ignorada

 

Sempre estive certa, mas perpetuamente ignorada. É como se eu carregasse a maldição de Cassandra de Troia: o dom da previsão concedido por Apolo, apenas para ser recebido com descrença. Nos aconchegos familiares, minhas intuições eram toleradas, mas no âmbito profissional, meus alertas causaram perdas substanciais, e minha frustração cresceu.

A saga começou com um vazamento oculto, uma gota insidiosa que ameaçava os alicerces de nosso condomínio. Implorei ao síndico, sempre ocupado, que prestasse atenção. ‘Contratem um engenheiro civil qualificado’, implorei. Mas eles escolheram outro caminho, favorecendo seus comparsas: os autoproclamados bombeiros hidráulicos. Sua gambiarra não segurou água, literalmente.

E então, o Corpo de Bombeiros—sentinelas vigilantes da segurança dos edifícios—chegou. Seus olhos treinados escanearam nossas paredes, seus instrumentos detectando uma teia de problemas. Eles emitiram ultimatos: ‘Resolvam isso ou enfrentem consequências.’ Mas nossos cofres condominiais estavam vazios, sem fundo de reserva.

Por que isso aconteceu? Porque eu, a persistente Cassandra, fui silenciada. Desde o dia em que adquiri minha unidade, advoguei por um fundo de contingência. ‘Preparem-se para emergências’, implorei em todas as reuniões do condomínio. Mas minha voz ecoava em uma câmara vazia.

Quando o vazamento eclodiu, fiquei sozinha, lançando meu voto a favor de um verdadeiro profissional. Mas a maioria zombou, ignorando meu apelo. Agora, enquanto o prazo do Corpo de Bombeiros se aproxima, corremos para encontrar recursos, nossas paredes ainda chorando.

Talvez eu seja amaldiçoada—uma Cassandra moderna, minhas profecias caindo em ouvidos moucos. Mas me recuso a ser silenciada. Da próxima vez, gritarei mais alto, escreverei com mais ousadia e lutarei pelas ameaças invisíveis que rondam nosso refúgio."

terça-feira, 16 de julho de 2024

Desejo Matinal e a Renovação da Vida

 

Ao despertar desta matutina aurora, fui acometido pelo desejo insaciável de degustar carne suína. Para dominar tal anseio, que parecia emanar dos próprios desejos das grávidas, aguardei a abertura do comércio. Munido da vassoura, desci ao átrio, varrendo não apenas minha calçada, mas também a dos dois vizinhos acima, a fim de que suas impurezas não profanassem meu domínio. Uma transeunte ousou interpelar-me, arguindo que as folhas ensujavam excessivamente a calçada, impondo labor intensivo. Discordei, e com firmeza repliquei que tal tarefa empreendo com o coração transbordante de gratidão, pela sombra que oferecem, pelo oxigênio que exalam. No ciclo da vida, quando secas, essas folhas fertilizam a terra, perpetuando o curso da existência. Sou eu parte deste ciclo de renovação, e o que verdadeiramente me entristece não é o recolhimento das folhas outonais, mas sim o destino cruel que as espera no lixão, onde seu ciclo vital se interrompe abruptamente. A maior das sujidades, revelo-lhe, advém daqueles transeuntes que, sem escrúpulos, poluem nossa via com papéis, garrafas, restos de cigarro, latinhas e outros detritos. Acredito que minha resposta não tenha lhe agradado, pois nosso diálogo estagnou. Posteriormente, encaminhei-me ao mercado, onde adquiri um pernil, temperado com alecrim, exalando um aroma divino. Neste ato, expresso minha sincera gratidão ao animal que, ao sacrificar sua vida, provê sustento à minha existência.

domingo, 14 de julho de 2024

Reescrito com ajuda

 Em solene data, quase findando um mês do inverno, no dia 14 de julho do ano de 2024, as vestes invernais de Rosalina repousam, silenciosamente, acumulando ácaros desde a primavera transcorrida no ano anterior, quando foram meticulosamente lavadas e recolhidas. Mulheres que atingiram a "idade do condor" têm um apreço singular pelo inverno, estação que as enobrece, ocultando os desditosos acenos dos braços e protuberâncias abdominais, resquícios de gestações, inatividade e indulgências gastronômicas. E não são apenas tais imperfeições que se ocultam, mas também as manchas senis que emolduram braços e pernas, varizes aflitivas, bolsas sob os olhos, e outras marcas da inexorável lei da gravidade. Entre as quatro estações do ano, é unicamente o inverno que permite às damas exibir com regozijo aquilo que já não são mais.

Logo ao alvorecer, um frescor modesto cede lugar ao sol ardente que desponta no leste, impossibilitando que se sigam os preceitos do geriatra de expor-se aos raios solares, em prol da manutenção da saúde corporal e mental. A sapiência popular, ancestral e sábia, sempre acentuou a vitalidade solar para o bem-estar físico e psíquico, um elixir natural contra a melancolia, fortalecendo ossos para evitar quebras em anciãos, robustecendo o sistema imunológico contra diversas enfermidades e regulando o ciclo do sono.

Contudo, Rosalina e suas afáveis companheiras anseiam pela severidade invernal, pelo conforto do sol matutino a tocar-lhes as costas e os pés, e pelo deleite de um chá quente. Para estes simples prazeres terrenos, necessitam do gélido abraço. Em um país tropical como o Brasil, uma estação de frio prolongada, de cerca de 90 dias, seria acolhida com júbilo pelos anciãos.

Saudades do rigor do inverno

            Oficialmente, quase um mês de inverno, no dia 14 de julho de 2024, as roupas de inverno de Rosalina  continuam silenciosamente acumulando ácaros desde a primavera de 2023, quando foram lavadas e guardadas. Mulheres que alcançaram a "idade do condor" tendem a apreciar o inverno, estação que as torna mais bonitas e elegantes ao esconder o indesejado aceno dos braços e as barrigas salientes, consequências de gestações, ociosidade e excessos gastronómicos. Isso sem mencionar as manchas senis nos braços e pernas, varizes, bolsas sob os olhos e outras marcas da inexorável lei da gravidade. Entre as quatro estações do ano, somente o inverno permite às mulheres exibir com prazer o que já não são mais.

Assim que amanhece, um friozinho tímido dá lugar ao  ardente sol no leste, impossibilitando seguir as recomendações do geriatra de se expor aos raios solares para manter a saúde do corpo e da mente. A sabedoria popular milenar sempre enfatizou que o sol é vital para o bem-estar físico e mental, sendo um antidepressivo natural, fortalecendo os ossos para prevenir fraturas em idosos, reforçando o sistema imunológico contra diversas doenças e regulando o ciclo do sono.

No entanto, Rosalina e suas amigas anseiam pelo rigor do inverno, pela sensação de sol nas costas e nos pés pela manhã, e pelo prazer de tomar chá quente. Para esses simples prazeres mundanos, precisavam do frio. Num país tropical como o Brasil, uma visita de cerca de 90 dias de frio seria muito bem-vinda pelos idosos.

sábado, 13 de julho de 2024

A herança de Petrina

              Petrina não é chegada ao labor, sua  índole é a de parasita, sanguessuga - quanto mais dinheiro, melhor - mas sem uma gota de suor, é o seu lema, que ela recita como um mantra, para as companheiras de festas. Qual o sonho?  Qual o seu propósito além de ser sustentada pelos pais?  Espera ansiosamente pela morte deles para  herdar e desfrutar a vida ,  sem o controle dos pais, principalmente a mãe, que  às vezes  era até  cansativa, ao aconselhá-la persistentemente, para que se interessasse pelos negócios da família. Mais rapidamente do que  esperava,  os pais faleceram em um acidente de  avião e, finalmente, como filha única, ela assumiu o patrimônio. Antes mesmo de comprar o tão sonhado  pacote para o cruzeiro internacional, ela foi confrontada por seus locatários sobre o risco de desabamento do prédio de 22 andares, agora de sua propriedade, devido a um vazamento oculto.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Caneta de quatro cores

       Rosária foi alfabetizada em escola rural e classe multisseriada, até a antiga terceira série primária, quando ainda se recebia o diploma da quarta série e fazia exame de admissão para entrar na quinta série. Aos pequeninos, era permitido apenas o uso do lápis; pode-se concluir que o conhecimento adquirido deixava muito a desejar. Para a certificação, era necessário cursar o último ano na escola urbana. Rosária estava animadíssima! Ganhara cadernos e livros novos, e pasmem, até uma caneta Bic de quatro cores, que era o sonho de consumo dos alunos rurais. Rosária já se imaginou fazendo amizades com os alunos da cidade, todos admirados com a sua caneta, a qual ela emprestava com alegria. Já no primeiro dia de aula, a criança já sentiu na pele o peso das diferenças culturais. Os colegas de classe a olhavam com desprezo, ignorando-a quando ela tentava puxar conversa. E quanto à caneta de quatro cores? Que decepção, todos a possuíam e muito mais: canetas hidrocor, caixa de lápis de cor com 36 lápis e outros materiais que a pobre criança desconhecia.

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Portas do conflito familiar

 

    No âmago de uma disputa fraternal, duas irmãs se enfrentavam em um palco de intrigas sobre a herança de um pai em estado de letargia. Sob a generosidade paterna, ambas habitavam apartamentos em propriedade sua, isentas de custos comuns. Sara, encarregada dos negócios familiares, e para desafiar Clotilde, que residia no térreo e desfrutava do jardim solitário, alugou um antigo barracão, erguido como depósito durante a construção, contendo uma área para armazenar materiais, um banheiro e uma zona com um tanque para limpar ferramentas – sem portas, entretanto. Sob acordos verbais, o idoso, em dificuldades financeiras e abandonado pela família devido ao alcoolismo, aceitou agradecido, preferindo essas condições modestas ao frio e às ameaças da rua.

Émily, a segunda irmã, que residia noutra paragem, ao tomar conhecimento do impasse, procurou intervir e, com meios próprios, custear a instalação de duas portas: uma para o quarto e outra para o banheiro. Contudo, a busca por um artífice capacitado, munido de ferramentas e habilidades necessárias, revelou-se infrutífera. Até ao presente, as portas compradas jazem esquecidas num canto do quarto, pois o profissional contratado enfrentou três acidentes inexplicáveis, lançando suspeitas de encantamento; cada tentativa de agendar a conclusão do trabalho resultava numa nova calamidade para ele.

Assim, entre as paredes silenciosas do lar, as portas permanecem testemunhas mudas de um conflito familiar, enquanto o tempo se desenrola em seu ritmo enigmático e implacável.

terça-feira, 9 de julho de 2024

Entre a honra e a violência

        Não é um conto de fadas com final feliz.  É um conto que fala das agruras da vida do cidadão comum e dos pequenos pretextos para a explosão da violência. Em mil novecentos e vinte e seis, os corações da pacata cidade interiorana batiam em compasso com a disputa eleitoral. Doutor Preto e Doutor Branco, os dois candidatos a prefeito, travavam uma batalha feroz pelas mentes e votos dos cidadãos. Nas ruas de paralelepípedos, onde o sol se escondia timidamente entre as casas coloniais, o Meritíssimo Juiz dedicava-se diariamente ao trabalho de alistamento de eleitores no salão do Fórum. Ao seu lado, o enigmático escrivão Piau, cujo nome de batismo permanecia um mistério, às más  línguas diziam até que não   tinha recebido o sacramento por ser filho de mãe solteira, razão pela qual permanecia solteiro aos 40 anos de idade, afinal, qual moça de família arriscaria casar com um pagão?

Mas não eram apenas os votos que fervilhavam naquela cidade. O destacamento policial, liderado pelo Anspeçada Genivaldo Paulo, impunha uma atmosfera de apreensão. Genivaldo, homem de natureza forte e que levava a sério o dever, era temido por todos aqueles que tinham uma conduta duvidosa. Suas ações severas  fazendo cumpriro rigor da lei, geravam queixas amargas entre meliantes e admiração e gratidão ao restante da população, e o medo pairava no ar como uma nuvem escura, não  só pela honradez  eficácia do militar, mas temendo alteração dos ânimos entre os eleitores fanáticos.

Era um tempo de lembranças sombrias, quando o voto de cabresto rigoroso do passado ainda ecoava nas memórias dos mais velhos, agora era somente um compromisso verbal, sem o capanga ao lado, quebrando o sigilo do voto, para conferir se o eleitor estava cumprido com o acordado. A tensão se fazia palpável, pronta para explodir em ódio suprimido.

Em um dia quente de julho, que nem parecia inverno, que o destino de Genivaldo tomou um rumo inesperado. Enquanto os trabalhos de alistamento prosseguiam no pavimento superior do Fórum, no térreo, junto à porta de entrada, um atrito irrompeu entre o Anspeçada e um homem conhecido como Torresmo. Armado, decidido e encrenqueiro por natureza, Torresmo tentava subir ao salão, mas Genivaldo não permitiria, era o regulamento. A luta foi intensa, e das proximidades, homens armados e  de má fama, observavam, prontos para intervir,  e mudar o rumo da luta, a  favor deles.

Tiros ecoaram, contra o Anspeçada, que respondeu com valentia e quando o combate cessou, não havia sobreviventes. Na Praça da Matriz, à luz do dia, em frente à cadeia e sob o olhar atento do juiz de direito, jaziam Genivaldo e Torresmo. Um indigente curioso, a mula de carga e o cachorro de um eleitor que estavam amarrados no limpador de pés, também compartilhavam o destino trágico.

O pânico se espalhou como fogo, dentro e fora do edifício. Os trabalhos do juiz foram interrompidos, e um eleitor, apavorado, dirigiu-se ao magistrado. É o Apocalipse Meritíssimo!  Com um sorriso amarelo  o magistrado respondeu:- Não, é apenas um entrevero entre homens que respeitam as Leis  e os que as desrespeitam;

Naquele dia, soube-se o quanto o militar era odiado pelos meliantes da cidade: seu corpo apresentava quarenta e seis perfurações de bala. Em seu velório, compareceu em peso a população honesta e trabalhadora, para despedir-se daquele que, com sua severidade, tanto os havia protegido. E por muitos anos, ao pé do fogo, os avós contavam  aos netos, o episódio, no dia em que o amor e o ódio, a política e a violência, honra  e desonra, tudo se fundiu naquele momento, como as águas de um rio que não pode voltar atrás.

 

segunda-feira, 8 de julho de 2024

O Rosário da Fé

       O rufar dos tambores ressoam ao longe, são as  guardas que homenageiam Nossa Senhora do Rosário, e meu coração se enche de saudades da minha mãe, que hoje habita em  uma estrela no céu. Ela sempre foi uma católica fervorosa, e durante toda a quaresma rezávamos juntas o terço. Ao longo do ano, não deixávamos passar um dia sequer sem honrar um santo da nossa devoção familiar.

Mamãe me ensinou desde o berço sobre a importância da fé e da devoção, valores que ela própria vivênciava diariamente. Rezava com uma sinceridade e uma convicção que tocavam profundamente quem a conhecia. Lembro-me das histórias que ela contava sobre os milagres de Nossa Senhora do Rosário, especialmente aquele ocorrido na batalha de Lepanto, em 1571.

Foi nessa batalha que um exército cristão, liderado por João da Áustria e unido pela devoção ao Santo Rosário, enfrentou e venceu um vasto império otomano, mesmo em desvantagem numérica. Os comandantes e soldados, por inspiração  do Papa São Pio V confessaram, receberam a Eucaristia e rezaram o rosário fervorosamente. O que parecia impossível se tornou realidade, provando que a fé pode mover montanhas e alcançar vitórias além das expectativas humanas.

Os jesuítas e franciscanos trouxeram essa devoção ao Brasil como forma de evangelização, encontrando na devoção a Nossa Senhora do Rosário um meio de conforto e esperança para os mais necessitados. Minha mãe acreditava firmemente nisso, assim como nos momentos difíceis de nossas vidas, onde encontrava consolo na oração e na confiança na providência divina.

Hoje, mais do que nunca, sinto falta da presença e da orientação espiritual da pessoa iluminada que mamãe era. Seus ensinamentos sobre fé e devoção ecoam em meu coração, inspirando-me a buscar também essa mesma confiança na providência divina que guiou os soldados na batalha de Lepanto. Que Nossa Senhora do Rosário, nossa protetora celestial, continue a guiar nossos passos e a fortalecer nossa fé, assim como fez com os bravos soldados que, sob sua intercessão, alcançaram a vitória naquela memorável batalha, em que a liga Santa, formada pela República de Veneza, Reino de Espanha, Cavaleiros de Malta e Estados de Malta, tendo como líder espiritual o Papa São Pio V, e com uma frota de duzentas e oito  galés e seis galeaças (navios a remos com quarenta e quatro canhões) e a força do Santo Rosário, enfrentou e venceu o Império Otomano, que dispunha de duzentas e trinta galés turcas ao largo de Lepanto, na  Grécia, a     7 de Outubro de 1571.

Que a mística católica que minha mãe tanto amava continue a iluminar nossas vidas, trazendo paz, esperança e proteção nos momentos de adversidade. E que a saudade e remorso que sinto por não ter  procurado absorver todos os seus ensinamentos, transforme em perseverança e fé em um aprimoramento espiritual  contínuo.

domingo, 7 de julho de 2024

Tristeza de inverno

 

Num piscar de olhos, as suaves brisas do outono sussurram a chegada iminente do inverno  um convite à introspecção não apenas para os seres humanos, mas para toda a natureza, que sabiamente conserva sua energia para ressurgir em cores e aromas na primavera. Em dias melancólicos desta estação, as floradas dos ipês trazem uma mensagem de persistência. Parece que quanto mais baixa a temperatura, mais exuberantes se tornam suas flores, nutrindo diversas formas de vida. Os ipês nos ensinam que cultivar nossa força interior e permitir que a tristeza nos ensine lições preciosas é o caminho seguro para a vida continuar no eterno ciclo de outono, inverno, primavera e verão, desde o início dos tempos.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

As aventuras gaúchas de Pedro

   

    Era uma vez um menino chamado Pedro, que morava em Minas Gerais com seus pais. Um dia, eles se mudaram para  a pequena cidade  gaúcha  Quatro Irmãos. Lá, as pessoas tinham costumes diferentes e falavam uma língua que Pedro não conhecia. Os mais velhos o chamavam de piá, mesmo ele dizendo várias vezes que o seu nome era Pedro. Outros lhe davam dinheiro diziam: - toma estas pilas. Nos dias mais frios, o convidavam para ir lagartear no parque. 

Na escola, Pedro se sentia um pouco perdido no começo. Mas um dia, ele viu as crianças dançando uma dança bonita chamada chula em um CTG. Ele achou aquilo tão legal que quis aprender também.

Com o tempo, Pedro fez novos amigos e começou a entender melhor a cultura gaúcha. Ele descobriu que mesmo sendo diferente, era legal aprender coisas novas e fazer amigos de jeitos diferentes.

No final, Pedro percebeu que era bom ser diferente, porque assim ele podia aprender muitas coisas legais sobre o Rio Grande do Sul.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

A magia oculta do amanhecer!

      

Quando o véu da noite ainda paira sobre a terra molhada pelo orvalho da noite e  o som do cantar dos pássaros anunciam a nova aurora, os tons quentes  começam a tingir o céu, fazendo desaparecer a escuridão da noite,  é como se o universo despertasse de um sono profundo e longo, revelando aos poucos sua face misteriosa e  luminosa, convidando a todas a despertar para mais um dia  de renovação. Os raios solares, que timidamente se despontam  no horizonte,   podem ser entendidos como os dedos das divindades celestiais acariciando a paisagem e neste momento sagrado,  o céu é um altar de louvação ao criador, e os pássaros,  discípulos fiéis e madrugadores, entoam cânticos de gratidão, pelo repouso propiciado pela mãe noturna, a noite e louvam também o grande pai, o sol, que aquece a terra.

            Na cosmologia de vários  povos da antiguidade, das grandes civilizações desaparecidas, estes,  viam o  amanhecer como algo bem mais profundo que apenas um evento astronômico. Acreditavam que era o momento em que se abria o portal do mundo dos homens  e dos deuses, momento de respirar profundamente, absorver a  energia do novo dia, dizer adeus as mazelas do  dia anterior, buscar uma orientação espiritual porque acreditavam que os primeiros raios  solares são curativos e purificadores, capazes de  dissipar as sombras da noites, portanto, capazes de purificar a alma  daqueles que se dedicam poucos minutos  para testemunharem o esplendor do novo dia.

            Desta sabedoria milenar,   daqueles que contemplavam  o momento efêmero, que se repete desde o “sempre”, quando   os tons de laranja e dourado incendeiam o céu, deve-se absorver  a máxima de que com a energia do novo dia, renova-se a alma e a  vida diária, desprendendo do ontem e abraçando o potencial do hoje.

            Enquanto o sol segue sua rota no horizonte, conforme as estações do ano, cada centímetro da terra recebe o seu beijo caloroso e  o ser humano é lembrado que é um ser conectado aos mistérios da imensidão do universo. A cada nascer do sol, nasce também a promessa de um dia cheio de possibilidades místicas e transformadoras.

 

terça-feira, 2 de julho de 2024

A Face Oculta do Vizinho Amigável

 

Em um pacato  povoado, que quase chegava a ser um bairro da cidade, mas ainda sem projeto lei para  integrá-lo ao município e,  por outro lado, os moradores não tinham  interesse uma vez que urbano, o IPTU seria mais caro, lá residia o   Seu Eduardo, homem carismático, sorriso largo e sempre disposto a ajudar, enfim, era uma pessoa que todos gostavam de ter por perto, inclusive, o Seu Pedro, idoso que viajava muito para ver os netos que moravam na capital, e que apesar da humildade,  era o morador de maior poder aquisitivo. Porém, por trás dessa fachada de amabilidade, escondia-se um segredo que mudaria a percepção de todos.

            Sempre que Seu Pedro retornava de alguma viagem, notava o sumiço de pequenos objetos, principalmente ligados a hidráulica,   ferramentas, e utensílios domésticos. Nada de grande valor financeiro, mas cada peça tinha um significado especial para seu proprietário por ser coisas que pertenceram a falecida. Estranhamente, nunca  havia vestígios de arrombamento. Depois de muita reflexão,  Seu Pedro, lembrou que  no dia do falecimento de sua amada esposa, fora ele que fechara a casa e  somente entregou  as chaves após o sepultamento. Temendo  arrumar inimizades, no horário em que o vizinho fora  cumprir com suas obrigações na igreja, ele chamou um  chaveiro da cidade, trocou todas as fechaduras externas e pediu discrição ao profissional, mediante uma boa gorjeta e  aos amigos e vizinhos, anunciou uma nova visita aos netos. Em seu retorno, observou que havia sumido, pequenas coisas que não estavam dentro da residência, mas no quintal, como mangueira, tela do  galinheiro. Desta vez Seu Pedro chamou  uns  dois moradores, inclusive o Seu  Eduardo, para comunicar o fato e alertar a comunidade. A  partir daquela data, as conversas entre os moradores começaram a girar em torno desses estranhos desaparecimentos. Alguns suspeitavam de furtos, outros cogitavam que era mera distração. Mas um fato é que o Sr. Antônio estava presente para consolar e oferecer apoio ao vizinho lesado, que teve sangue frio para não deixar transparecer a sua suspeita.

 A desconfiança crescia,  e Seu Pedro,  aproveitou os festejos em homenagem ao Santo Padroeiro  do povoado,  contratou uma  equipe de  jovens profissionais para colocar câmeras escondidas em pontos estratégicos. Para não levantar suspeita quanto a presença de estranhos, alegou que os hospedara, a pedido dos netos, que vieram  também. Quando os   pseudos convidados  foram se despedir dos moradores, Sr.Pedro anunciou que os acompanhariam até  a capital, aproveitando a carona. E foi assim que a verdade veio à tona.

Na mesma noite, antes do cantar do galo, a  câmera captou o Sr. Eduardo entrando sorrateiramente  e tentando abrir as portas com uma chave mestra.  O neto de Seu Pedro, que estava  hospedado em um hotel na cidade, monitorando tudo, chamou a Polícia. Os policiais, após  analisarem as imagens capturadas, tiveram o cuidado de não ligarem a sirene e o pegarão com a “boca na botija.” O Sr. Eduardo, autuado em flagrante confessou seus atos. Disse que nunca tivera a intenção de magoar ninguém, apenas sentia uma estranha compulsão ao ver objetos que pertenciam ao morador, uma vez que eram de melhor qualidade do que os que ele possuía. O episódio deixou marcas na comunidade. A confiança no vizinho prestativo foi abalada, e os laços de amizade entre os moradores ficaram mais tensos por um tempo. O caso do Sr. Eduardo  serviu como um lembrete doloroso de que, por trás das aparências, sempre há segredos e facetas ocultas que podem surpreender até mesmo aqueles que julgamos conhecer bem.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Promessas e desiluzões

                 Na  confortável casa amarela, ao lado da serralheria, residia uma dinâmica  peculiar. A matriarca, Dona Zilá, era detentora dos usufrutos sobre a casa que outrora pertencera ao saudoso marido, que tinha ciência do filho que tinha,  deixou em testamento, o usufruto  para a  esposa. Quando este casou, alegando precisar de mais intimidade com  esposa, nos primeiros meses de casamentou, alugou uma casa para mãe. A mãe, acreditando   que o filho cumpriria a sua promessa, e que quando o primeiro filho nascesse, eles a chamariam de volta para ajudar a cuidar do neto, aceitou de bom grado e abriu mão de seu direito legal. Entre poucos risos e muitas discordâncias os anos foram passando, filhos nascendo e nada do filho cumprir a promessa de convidar à mãe  para retornar à sua casa e desfrutar do espaço que lhe era de dinheiro, como também, compartilhar as histórias da família aos netos e ensiná-los que  amor é o que transforma uma casa em lar, independentemente dos direitos que a Justiça lhe confere. Esperou por este momento por longos 30 anos, e quando a neta primogênita, foi levar o bisneto para conhecer a bisavó, esta jazia em seu leito, em estado de putrefação avançado.