Hoje,
09 de março de 2020, o sol brilha
intensamente e faz calor. Rosalina olha pela janela e sente-se desanimada para sair em busca de algo especial para o
almoço, mesmo sozinha, ela deseja comemorar o 60º aniversário natalício. Sem querer, sua mente é invadida com a lembrança de sua mãe, relatando-lhe a madrugada fria e chuvosa em que ela veio ao mundo à luz de uma lamparina, condição está
que deixou mais difícil o trabalho da
também inexperiente comadre, que por
sorte, pedira pouso porque não conseguiria chegar em seu casebre, com
todo o lamaceiro decorrente de dias de chuvas fortes e contínuas. Duas
mulheres lutando sozinhas para trazer ao mundo
uma criança que teria como marca em todas as décadas de sua vida, dificuldades a serem enfrentadas e sempre sozinha.
A primeira década da vida de
Rosalina, aos olhos de terceiros,
parecia perfeita. Morava em uma boa casa com seus pais, que
apesar de pobres, eram trabalhadores e honrados. Mas a criança não era feliz, trazia dentro do
peito uma angústia indescritível, um
desejo inexplicado de partir e percorrer outros caminhos, de voltar
falando outro idioma e surpreender a todos a com a sua inteligência e experiência
de mundo. Às voltas com a sua infelicidade interior, nunca percebeu a beleza da
paisagem á sua volta e das fortes relações de afeto que a envolviam. Sempre a desejar o que estava além das montanhas.
Na segunda década da vida de
Rosalina, suas angustias e dores existências
atingiram o ápice, tudo à sua volta
parecia-lhe feio e antiquado e já não conseguia concentrar nos estudos,
envolver-se com os tradicionais
namoricos da juventude. Ninguém parecia estar á sua altura e de ser capaz de compreendê-la.
Sempre infeliz, começou a trabalhar e economizar para mudar para a capital,
onde acreditava que viveria feliz e próspera longe de pessoas simples e
humildes, com uma visão de mundo limitada, segundo a sua percepção, que também
era limitada.
A terceira década da vida de
Rosalina foi marcada pelas dificuldades
de enfrentar a vida sozinha e de viver a terrível experiência de ser apenas mais uma migrante em busca de uma vida profissional bem sucedida
e que, como centenas de
milhares de jovens, com muitos sonhos, planos e pouco preparo
profissional, enfrentou assédio moral,
sexual, traições de colegas, calunias e difamações e o tão sonhado dinheiro e
prestígio, cada dia mais distante.
A quarta década da vida de Rosalina
foi marcada pelo desespero de ainda
conseguir realizar, pelo menos uns dez por centos de seus sonhos de juventude. Procurou
preparar-se para conseguir um trabalho melhor que lhe rendesse
na velhice, pelo menos uma aposentadoria de
um salário mínimo e meio.Trabalhou com afinco, dentro de suas limitações de tempo e
dinheiro, estudou, mas fez a escolha errada e não conseguiu nem o
dinheiro, nem o prestígio profissional, sentimental e familiar.
A quinta década de vida de Rosalina
foi marcada pela angustiante espera da aposentadoria, com as especulações sobre
as mudanças de regime previdenciário, o medo de ter que pagar pedágio e continuar a trabalhar por
mais alguns anos em uma atividade que não lhe proporcionava nenhum prazer,
somente dissabores e de baixa remuneração,
assim, Rosalina foi parar no consultório das despreparadas psiquiatras
do serviço público e passou a fazer uso
diário do tarja preta.
A sexta década da vida de Rosalina,
que se inicia hoje, com certeza, será marcada pela reflexão de suas falhas ao
direcionar a sua vida e pelo erro que
cometeu ao menosprezar a importância dos laços familiares e de amizades
porque a espécie humana é grupal e
precisa uns dos outros para serem felizes e que dinheiro? Ele traz conforto,
facilidade, mas alegria plena, somente é adquirida no convívio diário com o outro.
Como foram as décadas de sua vida? Deixe aqui os seus comentários.
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