Diário de meu isolamento domiciliar – Covide 19
Agora são 18 horas do dia 18 de março de 2020, final de verão. O termômetro marca 31º e a umidade relativa de
ar, 71%, mas a sensação térmica é bem menos, já que não estou transpirando como
um funcionário da Prefeitura,
consertando os intermináveis buracos no asfalto da cidade, e nem como um
soldado do Corpo de Bombeiros, apagando
incêndio de grande proporções. Por que decidi escrever este diário? Para passar o tempo e
também, para o caso de um lapso de memória, eu ter a certeza de que a Pandemia
do Coronavírus existiu mesmo. Hoje eu tive
ciência da gravidade da situação pela qual o país e o mundo estão
passando. Como eu cheguei a esta conclusão?
Não apenas pelo noticiário, mas, principalmente pela experiência vivida quando eu saí para resolver os
problemas característicos de toda dona de casa.
Ás noves horas, fui ao consultório
do meu dentista, e para minha surpresa,
a sala de espera estava vazia e eu fui atendida
no horário marcado. Faz mais de dez anos que sou paciente do Dr
Joselito e sempre suportei em média um
atraso de trinta minutos. Já fique
apreensiva!
Como o Banco fica em meu trajeto, resolvi aproveitar para pagar a conta de água e sacar algum dinheiro
e fazer a tão famosa prova de vida, a
que todo aposentado é submetido, embora eu ache desnecessário, já que o caixa eletrônico é digitalizado e o dedo indicador é
fundamental para que eu possa efetuar
qualquer transação, e surpresa! Havia apenas eu na agência. Fique bem preocupada!
Aproveitando que já estava na rua,
fui fazer a renovação do meu cartão de
idosa e encontrei as atendentes em
altos papos porque não havia ninguém na
fila, mesmo assim, decidi ir a
Prefeitura para verificar uma
pendência no IPTU de minha residência,
lá também, não havia ninguém a minha frente, pude até escolher a
recepcionista para pedir a informação que precisava.
Resolvida às pendências, retornei ao
meu lar e ao adentrá-lo, ligo a televisão e as noticias são ainda mais
preocupantes, discute-se a possibilidade do Brasil decretar estado de
calamidade pública. Não sei o que significa isto, quais as consequências para as pessoas pobres como eu, mas tenho
certeza que é algo muito sério, a situação é de fato muito grave e que eu faço
parte das pessoas mais vulneráveis porque já
sou uma idosa e, com dois
agravantes: Sou sozinha e dependo do SUS
para qualquer tratamento. Com receio de
precisar de atendimento público para cuidar de minha saúde em tempos de crise,
fui até o Posto de Saúde com o intuito de pedir uma receita de vitaminas par fortalecer o meu sistema imunológico,
mas não fui atendida, sequer pude entrar. A atendente informou que consultas de
rotinas estão canceladas, somente estão atendendo os casos suspeitos de Covide 19.
Diante desta triste constatação,
decide que dos males, o menor, seguir rigorosamente as orientações do Governo e
que recolher-me voluntariamente ao isolamento
domiciliar é a melhor opção, mas não está
sendo fácil. Um desânimo repentino abateu-se sobre mim. Não consegui cuidar dos
afazeres domésticos, tentei falar via
whatsApp com duas amigas e o papo girou em torno da pandemia o que
deixou-me bem mais deprimida e para completar o quadro, chegou mensagem das
instituição que promovem eventos para a
terceira idade, avisando que todas as atividades estão suspensas
temporariamente, provavelmente por três meses, até que se consiga conter o avanço do vírus. Neste
período de quarentena, quero reler os livros que estão empoeirando na estante,
aprender inglês para viagem, tenho todo o material guardado na embalagem que chegou e também, estudar matemática para exercitar o
cérebro e, principalmente, vencer esta tristeza, este vazio que invadiu
o meu coração. Sair? Somente ao supermercado para comprar alimentos essenciais. Feira livre, rodízio de pizza, bingo, atividades na
igreja, nem pensar, Deus ajuda a quem se ajuda e eu tenho que aceitar a
fragilidade inerente à minha idade. Sou
uma idosa, não importa quão jovem seja a minha mente e meus sonhos; o meu
corpo envelheceu e não há nada que possa mudar isto.
Com está sendo o
seu isolamento domicilar?
Deixe aqui o seu
comentário. Obrigada!
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