quinta-feira, 26 de março de 2020

Diário do isolamento social - 9º dia

                             
            Foi  assustador!
Hoje tive que sair à rua para ir ao banco retirar dinheiro, fazer recarga no celular e comprar laranja e ovos. Como eu moro em bairro  residencial, afastado da área comercial, não    existe nada a menos de  um km de minha  casa e sem condução para a avenida principal onde fica a agência  bancaria. Vesti uma roupa surrada, coloquei a máscara caseira, na expectativa de   manter os transeuntes distantes de mim.  Organizei-me para sair exatamente às 14 horas, com o sol a pino  na expectativa que os raios fortes fritasse o Covid-19  diminuindo assim a possibilidade de ser infectada. Tive meu  primeiro susto ao sair do meu condomínio  porque já avistei ciclistas com atitudes suspeitas. Firmei  o pensamento em Deus, forcei tosse seca e espirro e acelerei  o passo.  Para evitar uma neurose, tenho evitado ouvir noticiários e ler as mensagens de whatsapp e já levei o segundo susto: o banco estava fechado, somente os caixas eletrônicos estavam disponíveis, por sorte havia um carro da Polícia Militar no estacionamento. Fiz o saque rápido e saí apressada para ir à farmácia. Foi uma caminhada tensa, de aproximadamente uns dois km. Efetuei a recarga e  retornei rápido rumo a padaria.
            Ao  dirigir-me ao caixa da padaria, já levei o meu terceiro susto, como o movimento estava muito fraco, as funcionárias conversam em alto e  bom tom, assustadas, comentando a última noticia: os saques em  supermercados e não são fake news porque elas conhecem a comerciante que foi vítima. Saí apressada e fui ao mercadinho para comprar ovos e pedir o  número do telefone para fazer pedidos de entrega, porém, fui informada que somente acima de trinta reais. Uma pessoa sozinha, comprar trinta reis em verduras é jogar dinheiro fora. Eles  não dispunham da mercadoria e tive que retornar à padaria e voltando cabisbaixa, fui abordada por um jovem pedindo dinheiro, disse que não tinha e perguntei se estava com fome, eu tinha um pão a oferecê-lo, porém, ele simplesmente  virou-me as costa e eu segui e frente o mais rápido que pude. Ao virar a esquina de minha rua, pela primeira vez fique feliz em ver o meu eterno fã, um senhor casado, que vive convidando-me para sair, claro que recuso e evito passar em frente a casa dele para evitar complicações, porém, hoje foi diferente, eu estava assustada e com medo, cruzando sempre com ciclistas, motoqueiros com garupa e   pedintes, e um senhor, sentado em frente a sua residência,  naquelas circunstâncias, representava um porto seguro. Com a graça ao Misericordioso, cheguei ao meu condomínio   segura, com o meu cartão de crédito na bolsa. Encontrei com uma morada do meu andar, conversamos  um pouco e ela  aparenta  estar em perfeito estado de saúde  físico e mental, o que deixou-me intrigada,  ontem, uma moradora do último andar, entrou em contado comigo para avisar para que eu tomasse cuidado porque ela estava contaminada com Covid-19 e internada. Mistério!
            Talvez eu esteja  ficando paranóica,  mas deixei os sapato na entrada,  tomei banho, lavei cabeça e a roupa que usei, joguei fora todas as sacolas e embalagens, desinfetei bem minha compra e minhas mãos, quando pego o celular, arrisquei olhar algumas mensagens e vi uma que está falando  que os motoristas, revoltados com a falta de comida e demais assistências nas estradas, irão aderir a proposta do governar e ficar em quarentena.  Misericórdia Senhor! Até ovos está difícil de encontrar, o que será de nós, seus  humildes servos?
26 de março de 2020,
20h 27 min.
 Temperatura, 28º graus
Umidade  relativa do ar 60%

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