Foi assustador!
Hoje tive que sair à rua para ir ao banco retirar
dinheiro, fazer recarga no celular e comprar laranja e ovos. Como eu moro em
bairro residencial, afastado da área
comercial, não existe nada a menos de um km de minha casa e sem condução para a avenida principal
onde fica a agência bancaria. Vesti uma
roupa surrada, coloquei a máscara caseira, na expectativa de manter os transeuntes distantes de mim. Organizei-me para sair exatamente às 14 horas,
com o sol a pino na expectativa que os raios
fortes fritasse o Covid-19 diminuindo
assim a possibilidade de ser infectada. Tive meu primeiro susto ao sair do meu condomínio porque já avistei ciclistas com atitudes
suspeitas. Firmei o pensamento em Deus,
forcei tosse seca e espirro e acelerei o
passo. Para evitar uma neurose, tenho
evitado ouvir noticiários e ler as mensagens de whatsapp e já levei o segundo
susto: o banco estava fechado, somente os caixas eletrônicos estavam disponíveis,
por sorte havia um carro da Polícia Militar no estacionamento. Fiz o saque rápido
e saí apressada para ir à farmácia. Foi uma caminhada tensa, de aproximadamente
uns dois km. Efetuei a recarga e
retornei rápido rumo a padaria.
Ao dirigir-me ao caixa da padaria, já levei o
meu terceiro susto, como o movimento estava muito fraco, as funcionárias
conversam em alto e bom tom, assustadas,
comentando a última noticia: os saques em
supermercados e não são fake news porque elas conhecem a comerciante que
foi vítima. Saí apressada e fui ao mercadinho para comprar ovos e pedir o número do telefone para fazer pedidos de
entrega, porém, fui informada que somente acima de trinta reais. Uma pessoa
sozinha, comprar trinta reis em verduras é jogar dinheiro fora. Eles não dispunham da mercadoria e tive que retornar
à padaria e voltando cabisbaixa, fui abordada por um jovem pedindo dinheiro,
disse que não tinha e perguntei se estava com fome, eu tinha um pão a oferecê-lo,
porém, ele simplesmente virou-me as
costa e eu segui e frente o mais rápido que pude. Ao virar a esquina de minha
rua, pela primeira vez fique feliz em ver o meu eterno fã, um senhor casado,
que vive convidando-me para sair, claro que recuso e evito passar em frente a
casa dele para evitar complicações, porém, hoje foi diferente, eu estava
assustada e com medo, cruzando sempre com ciclistas, motoqueiros com garupa
e pedintes, e um senhor, sentado em frente
a sua residência, naquelas circunstâncias,
representava um porto seguro. Com a graça ao Misericordioso, cheguei ao meu condomínio
segura, com o meu cartão de crédito na
bolsa. Encontrei com uma morada do meu andar, conversamos um pouco e ela aparenta
estar em perfeito estado de saúde
físico e mental, o que deixou-me intrigada, ontem, uma moradora do último andar, entrou
em contado comigo para avisar para que eu tomasse cuidado porque ela estava
contaminada com Covid-19 e internada. Mistério!
Talvez eu
esteja ficando paranóica, mas deixei os sapato na entrada, tomei banho, lavei cabeça e a roupa que usei,
joguei fora todas as sacolas e embalagens, desinfetei bem minha compra e minhas
mãos, quando pego o celular, arrisquei olhar algumas mensagens e vi uma que está
falando que os motoristas, revoltados
com a falta de comida e demais assistências nas estradas, irão aderir a
proposta do governar e ficar em quarentena. Misericórdia Senhor !
Até ovos está difícil de encontrar, o que será de nós, seus humildes servos?
26 de março de 2020,
20h 27 min.
Temperatura, 28º
graus
Umidade relativa do
ar 60%
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