domingo, 29 de março de 2020

Diário do isolamento social 12ºdia

                                     Hoje  o dia amanheceu ensolarado e eu saí da cama cedo, não pude protelar nada porque tinha reunião de condomínio ás 9horas para eleição do  novo síndico.   Em uma situação crítica como a que estamos vivendo, com o  crescente avanço do Covid 19, achei um absurdo ter mantido a reunião, porém,  o representante da administrada informou que tinha que acontecer pois vencido o mandato, o banco cancela a conta e problemas maiores surgirão. É difícil acreditar que uma empresa especializada em administração não saiba conduzir uma  reunião séria, sequer seguiram a pauta. Foi sofrível! Para participar,  prendi os  cabelos, coloquei turbante, máscara e sentei, o mais isolada possível, as cadeiras  foram posicionada em uma distância razoável. Retornando ao meu lar,   tirei a roupa  que foi direto para a máquina, tomei banho.  Este ritual de deixar os sapatos na entrada, a porta aberta, lavar as mãos, voltar e passar álcool gel na maçaneta, na chave e na bolsa, está me deixando neurótica.
            O transcorrer do dia foi normal, apenas as atividades relacionadas   com a alimentação. Estou acometida de  uma inércia, uma vontade de não  fazer nada; faz três dias que não limpo casa e a gaveta  da cômoda, que por distração deixei aberta,  continua aberta, o grampo de cabelo que caiu em baixo da cama, lá está ele à espera de retornar ao conforto da caixa, junto aos companheiros, vejo as atividades a serem feitas e não sou capaz de executá-las. Outro fator deprimente é que nem posso refugiar-me  na cozinha, preparando pratos diferentes porque tenho que poupar os alimentos estocados.  Sair  está cada dia mais perigoso, principalmente para as idosas, as que são mais orientadas a ficarem em casa e se saem á rua,  são alvo fácil. Recebi o telefonema de uma amiga que reside em um bairro próximo ao meu e estava bastante assustada!  Ela mora em uma casa térrea, sozinha, como não tem nada a fazer fica  várias horas do dia olhando o movimento da rua e  tem notado uma movimentação suspeita de ciclistas que passam devagar, várias vezes ao dia e observando  as residências, provavelmente estudando uma  maneira fácil para  invadir. Ela também disse, que ontem a tarde,  avistou, na entrada do mercado carros de polícia e   mais um seis policiais montados em elegantes  cavalos. Bem estranho, a cavalaria  somente é vista em dias de megaevento, o que poderá ter acontecido? A mídia tem priorizado o noticiário sobre o Covid 19 e ainda não sabemos com precisão se nestes dias de quarentena,  a criminalidade tem aumentado, principalmente  roubos em residências, porque na rua, está mais difícil, em virtude da escassez de pessoas circulando.
            Espero que amanhã eu esteja  mais animada, com disposição para limpar a casa e a alma. Hoje terminei de ler  o livro do escritor japonês Haruki Murakami, Crônicas do Pássaro de Cordas. É um livro muito interessante, envolvente, porém, acredito que  eu tenha absorvido um pouco do estado emocional do protagonista,  que  é um sujeito sem ambição e  garra. Como eu já tenho  uma pré-disposição  inata para a procrastinação,  por menor que seja o estímulo, eu já quero deixar tudo para depois de amanhã, porém, o depois de manhã não chega nunca.
 Domingo,29 de março de 2020
Temperatura 28º graus
Umidade relativa do ar 75%

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