Hoje o dia amanheceu ensolarado e eu saí da cama
cedo, não pude protelar nada porque tinha reunião de condomínio ás 9horas para
eleição do novo síndico. Em uma
situação crítica como a que estamos vivendo, com o crescente avanço do Covid 19, achei um
absurdo ter mantido a reunião, porém, o
representante da administrada informou que tinha que acontecer pois vencido o
mandato, o banco cancela a conta e problemas maiores surgirão. É difícil
acreditar que uma empresa especializada em administração não saiba conduzir
uma reunião séria, sequer seguiram a
pauta. Foi sofrível! Para participar,
prendi os cabelos, coloquei
turbante, máscara e sentei, o mais isolada possível, as cadeiras foram posicionada em uma distância razoável.
Retornando ao meu lar, tirei a roupa
que foi direto para a máquina, tomei banho. Este ritual de deixar os sapatos na entrada, a
porta aberta, lavar as mãos, voltar e passar álcool gel na maçaneta, na chave e
na bolsa, está me deixando neurótica.
O transcorrer do dia foi normal,
apenas as atividades relacionadas com a
alimentação. Estou acometida de uma inércia,
uma vontade de não fazer nada; faz três
dias que não limpo casa e a gaveta da cômoda,
que por distração deixei aberta,
continua aberta, o grampo de cabelo que caiu em baixo da cama, lá está
ele à espera de retornar ao conforto da caixa, junto aos companheiros, vejo as
atividades a serem feitas e não sou capaz de executá-las. Outro fator
deprimente é que nem posso refugiar-me
na cozinha, preparando pratos diferentes porque tenho que poupar os
alimentos estocados. Sair está cada dia mais perigoso, principalmente
para as idosas, as que são mais orientadas a ficarem em casa e se saem á
rua, são alvo fácil. Recebi o telefonema
de uma amiga que reside em um bairro próximo ao meu e estava bastante assustada! Ela mora em uma casa térrea, sozinha, como
não tem nada a fazer fica várias horas
do dia olhando o movimento da rua e tem
notado uma movimentação suspeita de ciclistas que passam devagar, várias vezes
ao dia e observando as residências,
provavelmente estudando uma maneira fácil
para invadir. Ela também disse, que
ontem a tarde, avistou, na entrada do
mercado carros de polícia e mais um seis
policiais montados em elegantes cavalos.
Bem estranho, a cavalaria somente é
vista em dias de megaevento, o que poderá ter acontecido? A mídia tem
priorizado o noticiário sobre o Covid 19 e ainda não sabemos com precisão se
nestes dias de quarentena, a
criminalidade tem aumentado, principalmente
roubos em residências, porque na rua, está mais difícil, em virtude da
escassez de pessoas circulando.
Espero que
amanhã eu esteja mais animada, com
disposição para limpar a casa e a alma. Hoje terminei de ler o livro do escritor japonês Haruki Murakami, Crônicas
do Pássaro de Cordas. É um livro muito interessante, envolvente, porém,
acredito que eu tenha absorvido um pouco
do estado emocional do protagonista, que
é um sujeito sem ambição e garra. Como eu já tenho uma pré-disposição inata para a procrastinação, por menor que seja o estímulo, eu já quero
deixar tudo para depois de amanhã, porém, o depois de manhã não chega nunca.
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