domingo, 22 de março de 2020

Diário do isolamento social – 5º dia

                                   
            
         São 18 h e 11 min. Um vento  fresco  deixa  suportável a  temperatura  no interior da minha  residência, não sendo necessário ligar o ventilador  para  suavizar os 29º graus  e a umidade relativa do ar de 59%, o que deixou a minha respiração difícil, mas estou tranquila,  acredito não estar com o vírus covide 19, o mal estar é consequências das atividades realizadas hoje. Para quem está em confinamento, um dia segue o outro e não se faz distinção dos dias da semana e o serviço doméstico vai sendo executado de acordo com a disposição, tanto faz se é quarta-feira ou domingo.  Hoje acordei com o intuído de  vencer a preguiça e até que consegui, lavei a roupa de cama, limpei   e  organizei as gavetas da cômoda e do guarda-roupa e   varri a casa, não consegui  passar pano, estava muito cansada. Bem diz o ditado popular que  a ociosidade é  mãe de todos os males, uns dias sem caminhar e ir à academia e já   fico exausta com tudo, um cansaço físico e mental que não  justifica-se,  um marasmo sem limite, preciso lutar  e movimentar do banheiro para os quartos, dos quartos para a sacada, da sacada para a cozinha e da cozinha para a área de serviço, e agarrar-me com o que está a minha disposição,  o rodo, a vassoura, o balde, o tanque e a pia. Preciso movimentar, senão terminarei  esta quarentena,  com uma depressão profunda que poderá levar-me a morte por inanição. Agradeço a Deus por ter conseguido executar estas pequenas tarefas e amanhã  farei mais, dizem que arrumar as gavetas faz com que arrumemos também o nosso interior,  verdade ou mentira, não sei dizer, mas estou me sentindo bem melhor.
            Encontrei na internet um vídeo de uma  linda canção indígena de cura, estou ouvindo enquanto escrevo, com fé nos meus ancestrais, passarei ilesa por  esta  pandemia. O céu está lindo!  O dia está despedindo-se com  um lindo laranja, prenúncio de um amanhecer ensolarado o que é muito bom, não somente pela alegria que o sol transmite,  mas, principalmente porque o covide 19 não  é muito resistente ao calor oriundo do astro rei, assim diz os especuladores de plantão.
            O efeito colateral da quarentena é o estresse oriundo do excesso de tempo para prestar atenção em tudo o que acontece no prédio, a música irritante de um morador, as conversas vias interfones entre vizinhos, o barulho  das maquinas de lavar, de liquidificador e  gritaria  das mães com as pobres e indefesas crianças, confinadas nos aptos,  sem poder usufruir das áreas comuns. O crepúsculo de outono convida para um passeio, mas não posso sair, a programação da  televisão aberta é  cansativa, vou providenciar uma salada, um banho e um chá calmante e tentarei dormir e espero de coração que a moda dos panelaços não chegue ao meu bairro.

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