sexta-feira, 20 de março de 2020

Diário do isolamento social – 3º dia

                     
            
             São  21h30min, quinta –feira, 20  de março de 2020, temperatura marca 29º. O outono chegou com uma chuva fina, silenciosa e esporádica  o que facilitou bastante porque tive que ir ao centro pegar um  documento no cartório, uma pequena gentileza para um amigo que não pôde fazê-lo porque mora em outro município e a rodoviária está fechada. Apesar de ter ônibus circulando, eu preferi solicitar um motorista de  99, que é mais barato que o Uber; portando documentos originais,  fiquei receosa, não somente com  o risco de contagio pela proximidade das pessoas  dentro de um transporte público,  mas principalmente dos fugitivos da  prisão, que devem estar ávidos para  limpar os  idosos que estão nas ruas. Por mais inexperiente que seja o ladrão, ele sabe que em situação de  pandemia,   os aposentados que estão nas ruas não é para desfilar pés-de-galinha, rugas, manchas sênior,  varizes, estrias e celulites, mas porque têm algo importante a fazer e podem estar portando dinheiro ou alguma outra coisa de valor.
            Durante o trajeto, observei quão vazia está a cidade,  muitas lojas com suas portas fechadas e  dos poucos transeuntes, a metade apresenta atitude suspeita. Agradeci a Deus ter retornado ao meu lar, com a missão  cumprida e sem passar por nenhum dissabor.  Cheguei  cansada, sem disposição para as tarefas de rotina, para estudar o meu inglês; tentei ler o livro de Norbert Wiener “ Cibernética  e Sociedade – o uso humano de seres humanos, edição antiga, de 1954. Não  consegui concentrar  na leitura porque não  estou entendendo nada, sequer consegui  decifrar o que é cibernética. Sempre há campanhas incentivando a leitura, falando de sua importância para o desenvolvimento do cidadão e eu fico a pensar: por que não dá certo comigo? Sempre lí, desde a infância, mas não consigo  discutir sobre o tema lido, lembrar   o conteúdo, às vezes eu tenho a sensação que  minha leitura é mecânica, que apenas pronuncio palavras, assim como um papagaio, que fala sem saber o que está dizendo. Além de  minha dificuldade de concentração, por três vezes tive que  deixar o texto de lado para  atender o interfone.  Uma grande perda de tempo, sempre a mesma vizinha,  pedindo algum favor e querendo tirar dúvida sobre as face news do whatsApp.
            Para descansar a cabeça, ligo televisão e  sempre as mesma noticias, já repetidas a exaustão, com o intuito de esclarecer a população. A novidade foi que não haverá atividades de  Semana Santa, que até pela internet, estão vendendo álcool gel falsificado, uma receita de fundo de quintal-  gel  para os cabelos, misturados com álcool, o mais barato, com 30 º. -  As pessoas, na ânsia de  levar vantagem em tudo, sequer  prestam atenção  se  há rotulo na embalagem.  A única noticia que valeu a pena foi a que  as redes de farmácia e supermercados venderão álcool gel a preço  de custo. Assim findou o tedioso terceiro dia de cativeiro.

Deixe o seu comentário falando de sua rotina durante  o isolamento.

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