Hibernar solitária nas profundezas de uma caverna já não é mais o sonho de nenhuma pessoa após nove meses em isolamento social. Voltar á rotina de trabalho e lazer é o sonho acalentado por todos e, retornar as atividades religiosas é um privilégio daqueles que perceberam que com a presença de Deus, todas as provações da vida tornam-se suportáveis. Tantas atividades que outrora eram cansativas como sair a percorrer shopping da cidade em busca de ofertas e lanches altamente calóricos, durante a pandemia são desejos ardentes da criança ao idoso.
As irritantes picuinhas dos enamorados de outrora hoje são doces lembranças, até mesmo
aquela injusta acusação de que a jovem
efetuou uma chamada e quando a cunhada
atendeu ao telefone, desligou sem dizer nada. Claro que ela negou veemente, com
o argumento de que já havia falado anteriormente com a cunhada e ela atendeu com educação e boa vontade, e
que não havia motivos para fazer uma
falta de educação desta. O confinamento provoca risada naquela moça, que um dia
foi acusada injustamente pelo namorado
de estar paquerando o vizinho, na época, ela se alterou e gritou, para todo o
quarteirão ouvir; recorda todas as palavras ditas durante a discussão: -“ Novamente você está com ideias absurdas sobre mim. Já
me confundiu com um pé de chuchu e agora com uma papa Anjo. Tão absurdo o seu
comentário que nem consigo ficar com raiva, é simplesmente, hilário! Eu gosto
de fazer amizades com os vizinhos, de relacionar-me bem com eles. Entre a política
da boa vizinhança e sexo eventual, a distância é bem grande. Em todos os
lugares em que morei, mantive bom relacionamento com os vizinhos: amizade,
respeito e solidariedade sempre foram o meu
lema. É difícil entender relacionamentos pautados no respeito? O que
sexo tem a ver? Você perdeu a noção das coisas?”
As mulheres maduras e independentes de hoje, recordam com orgulho
de sua força interior, dos preconceitos enfrentados na luta pelo direito de trabalhar e morar sozinha. Difícil encontrar uma que não teve um embate com um namorado por
questões familiares, ele, alegando que era homem de forte laços familiares,
que via a família como o alicerce da nação,
já ela, era uma pessoa arredia à família,
que é daquelas pessoas que não estão nem aí para a família de origem vão embora, tentar a vida,
sozinha. E ainda tenta passar a imagem que gosta de seu padrasto. Ela se defendeu: “ Você pensou e analisou friamente
e como sempre, concluiu errado. A questão é outra, mas você não admite uma
opinião que seja diferente da que você espera ouvir, então, nada direi. Você
clama pela verdade das pessoas, mas tem o péssimo hábito de desmerecê-las e já
fez isto comigo várias vezes. E tem mais! Estar distante não significa
abandono, negação das origens. O amor, o
respeito e a gratidão aos antepassados está dentro da gente. E você acredita se
quiser, sou grata ao meu pai pela vida e cuidado, mas agora que ele está no céu,
eu não tenho porque odiar o meu padrasto, ele não ocupou o lugar
do meu genitor, em meu coração, é apenas o homem que minha mãe escolheu para
compartilhar as mazelas da velhice.” Outrora, momentos dolorosos, mas diante do tédio que um
isolamento social, as mágoas passados são momentos de alegres recordações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário