sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

O gavião

             Era uma vez um homem que não tinha um porte atlético, nem se enquadrava em nenhum padrão de beleza, porém, tinha algo que o fazia sentir-se seguro e prepotente: muito dinheiro na conta. Há muito tempo, quando saia de uma agência bancária, após uma produtiva reunião com o seu gerente, cruzou com uma  linda moça, que olhou para ele, rápido, o rapaz entabulou uma conversa e não foram necessário mais do que vinte segundos para ele perguntar se poderia acompanha-la até o serviço  dela, que ficava apenas três quadras do banco. Durante o percurso, conversaram como se fossem dois conhecidos e marcaram um encontro. Ele era rico,  estudado, viajado e ela, apenas uma recepcionista de uma pequena clínica odontológica. Ele não levou o namoro adiante, pelas diferenças sociais e culturais, e por desejar   para mãe de seu filhos,  uma mulher da mesma classe social, casou-se com uma rica herdeira, que lhe traiu, inclusive com os seus funcionário. Após a grande vergonha, a separação!

 O tempo passou. Ele manteve o mesmo patamar  financeiro e o belo par de chifres pesava em sua testa. Em sua solidão, ele se vê como um pássaro solitário, vivendo em uma caverna abandonada e imagina que a   linda jovem que ele desprezou por ser pobre, alça voo do seu ninho, em sua direção e fica a vagar sobre o que ela espera dele, agora um ancião carcomido, quase no final da linha, no declínio da vida e que o fica provocando, mesmo após o adeus. Tudo o que ele quer é ficar aconchegado em seu ninho de painas brancas, quentinho e confortável para esquecer as mazelas do mundo. Mas não consegue, é alta madrugada e o sono não chega. Ele tenta, mas não consegue afastar os pensamentos da  jovem. Em seus devaneios, imagina-a uma feiticeira,  alquimista medieval que o transformou em seu capacho e o ciúme corrói a sua alma ao imaginá-la  no aconchego do ninho de alguma gavião, ou que está em sua cabana, a revirar  o seu caldeirão de bruxa, fazendo uma traquinagem, para fazê-lo perder o sono.

            A dúvida atormenta a sua alma! Ele esquece que a rejeitou, e sofre com a falsa crença de que foi abandonado por ela, mas tem a firme convicção de que um dia, ela irá buscar  o aconchego de seu ninho. Hoje, ela está voando, voando, voando, de ninho em ninho,  mas pousará no seu e desta vez  não lhe escapará, como das outras vezes. -Linda como um colibri e todinha sua! Suspira  o gavião  em sua solidão. Ele, uma ave de rapina, espera uma colibri mestra para  ampliar os seus conhecimentos sobre a vida das flores. Ele deseja ser um aluno aprendiz, aquele que fica enamorado da professora, e não importa o tema da matéria lecionada, ele ouvirá histórias lindas, fábulas encantadas, ele, o gavião triste e solitário espera  aquela que não vai chegar

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