segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Dureza

              É duro  o trabalho  do agricultor. Somente quem já enfrentou  o sol ardente e  tempestades violentas  consegue valorizar   o homem do campo. Imagine  você, trabalhando na roça,  plantando tomates, rasteiro ou enveredado em uma área aproximada de uns cinco alqueires paulista, no calor do mês de agosto, em um ano de excelente safra, e que se dentro de uma semana,  não forem colhidos, apodrecerão ao ar livre.  Você tapeia o chapéu na testa  e observa com orgulho a sua roça. Relembra o trabalho que teve durante o preparo do solo, a luta para conseguir mão de obra, o custo operacional, a dívida com o banco, os contratos firmados para a entrega da colheita  para as fábricas, atacadistas  e varejistas. Você pensa em  ampliar o seu negócio,  mas o tomate é extremamente perecível e vulnerável ao tempo, seria necessário uma logística especializa e mais cara o que encareceria o produto.

          A natureza seguiu o seu ciclo e a sua colheita está ali, centenas de milhares de tomates esperando os caminhões  chegarem  para carregar e rodar dia e  noite  para colocar o seu tomate  no mercado. Você fraqueja, pensa que não vai conseguir caminhoneiros  que estão atendendo  os grandes produtores que pagam mais. É desesperador!  O coração bate rápido,você sabe que precisa  firmar os novos contratos rápidos, no máximo oito dias  para colher, carregar, transportar e entregar ao comprador.Você agradece a Deus  pelo ano agrícola que transcorreu  excelente  para todos os agricultores tomateiros da região. Nenhum deles tem uma frota de  uns trinta caminhões para  auxiliar em caso de algum imprevisto. Você  confere se há caixas  suficientes para  embalar toda a produção. Seu coração se rejubila quanto avista a poeira ao longe, é a  primeira carreta contratada  para  levar o seu tomate  para o CEASA, CEAGESP, para ser vendido ao intermediário, que o distribuirá em várias praças. Serão mais de quinhentos quilômetros rodados no frescor da madrugada. Aparecerão intermediários, atravessadores fazendo propostas indecorosas, quanto ao preço, prazo, formas de pagamento. Pechinchando e  pechinchando. Eles não sabem o custo do produto. O desespero toma conta de você  e sentirá seus  olhos  a borbulhar de lagrimas salgadas, a emoção está a flor da pele. Imagina que  o tomateiro amadureceu ao mesmo tempo e não há tempo hábil para a colheita. Está ciente que  perdeu um anos de trabalho e o dinheiro investido em  insumos e mão de obra. Sem catadores, sem  caminhão para o transportes. Tudo está perdido.

          Uma buzina  o desperta do devaneio. A carreta chegou!. Você    a ordem para carregar e o caminhoneiro segue o destino. Você não está tranqüilo, sabe que problemas acontecem em viagens longas. A carga pode estar acima do peso  permitido pela Polícia Rodoviária,  o motorista lhe repassará a multa. O primeiro prejuízo. O segundo vem a seguir, dois pneus estouram, devido ao excesso de peso. A demora em resolver o problema resulta em perda de qualidade  e  os compradores pagarão menos.  Donas de casa reclamarão da baixa qualidade do seu produto. Ah! Se elas soubessem o quanto é difícil colocar um produto fresco   no mercado!      

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