quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Corujas inquilinas

              

            O corpo pede descanso, mas a mente nunca se cansa e está sempre a pensar em algo, especular sobre outras possibilidades   de fazer a mesma coisa e até mesmo especular por especular. Isolamento social é isto, fazer a única coisa que  restou, a possibilidade de pensar livremente. Pela primeira vez, inúmeras pessoas   passarão o natal sozinhas e desobrigadas dos gastos  em tempo e dinheiro  relativos às festanças, dedicam o seu ócio a pensar. Para  o gado leiteiro, são construídos currais, para os cavalos os estábulos, para os porcos os chiqueiros, para as galinhas o galinheiro, para os pombos o pombal, e  se  algum aventureiro decidir a criar corujas, com certeza, construirá um corujal e deverá ser diferente dos tradicionais pombais porque  as aves de  espécies e hábitos  diferentes, deve haver diferenças  que o  carpinteiro e o  pedreiro deverão observar, para que a habitação fique confortável e atenta as necessidades dos habitantes quanto alimentação, repouso e reprodução.

            É comum em  construções inacabadas ou vazias, que corujas   escolham um apartamento somente para elas, com vista privilegiada para que possam estar sempre em alerta para surpreender alguma presa com mais facilidade, e o principal, segurança para procriar sem ninguém incomodá-las. Como são aves de hábitos noturnos, elas preferem construções  onde o silêncio reina soberano durante o dia.  Deve ser interessante compartilhar moradia com estas aves, com certeza, ratos e cobras não seria uma preocupação para os habitantes humanos durante a noite. Deve ser maravilhoso ter por inquilinos um  lindo casal de corujas brancas, enormes, maiores que um galo bem graúdo. Pode ser que alguma noite em que o proprietário chegue cheirando a álcool,   as aves não  o reconheça  e comecem  a chirriar altíssimo,  para avisar as demais espécies da redondeza, a respeito de algum perigo eminente, ou supondo que fosse um estranho, tipo ladrão, malfeitor, elas poderiam  estar  avisando os demais moradores. É fácil imaginar as corujas em voos rasantes, fazendo um barulhão danado, parando pertinho e provocando a sensação  de que poderá atacá-lo, que está na iminência de agredi-lo. Pode ser também, apenas a fêmea a proteger o filhote que acabara de nascer, ou talvez o pai, a marcar o território para proteger  os novos membros da família.

            Seria interessante ter como ave de estimação, uma coruja  branca, sempre pousada  no ombro, como  um papagaio de pirata, mas como símbolo da sabedoria,  com certeza, daria alerta  quando pressentisse a proximidade do inimigo. Como era a convivência  das corujas brancas com o homem primata, selvagem,  moradores das cavernas?

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