domingo, 20 de dezembro de 2020

Cartas esquecidas

                 Feliz era o tempo  em que os enamoradas trocavam cartas de amor!  Esperava-se ansiosamente a chegada o carteiro que  sempre, no mesmo horário, atirava a tão esperada missiva pela  janela e gritava: Carteiro! Ofegante, a donzela recolhia  a preciosidade, e lia inúmeras vezes e guardava-a em uma caixinha e lá ela ficava por anos esquecida. Um dia, durante uma limpeza geral para mudança de residência após o casamento, a então jovem senhora, encontra o tesouro escondido. Felizmente está sozinha em casa, esquece os afazeres, senta no chão e começa a ler  as cartas de um antigo namorado, do qual já nem se lembrava mais.

“ Minha Delícia,

            Acaso você pensa que eu não tenho nada a fazer? Que pego gasolina gratuitamente no rio?  Você acha mesmo que eu tenho tempo para ir buscá-la em sua residência, levá-la   ao hospital onde está internado o seu avô,  e ainda ficar no carro, esperando  todo o tempo  da visita? De fato, eu estou apreensivo, não sei quais são as intenções oculta, pois  durante todo este tempo em que estamos juntos, você nunca falou no patriarca da família; isto coloca  medo em  mim e já  me preparo para por o meu par de ferraduras para proteger—me  dos reais objetivos desta viagem. Eu não acredito que você faça uma viagem de mais de três mil quilômetros apenas para dizer ao moribundo  o quanto o ama. Você está  escondendo o leite. Ademais a mais, ao contrário do que você pensa, eu tenho trabalho a fazer, não sou motorista particular de madame. Era só o que faltava. Você me conta cada piada que me faz dar boas gargalhadas. Um cara bem apessoado como eu, profissional competente, servindo de motorista particular. Bom era o tempo em que eu era o professor e você a ingênua aluninha ávida para aprender   mais e mais. Agora você quer rebaixar-me e assumir a liderança, botar arreio, colocar-me por baixo e cavalgar sobre mim  o quanto quiser Que malvadeza a sua!!!  Transformou-me em  um singelo motorista particular, sua feiticeira malvada.”

            A jovem não lembra mais o conteúdo da missiva escrita ao namorado por ocasião da  internação e posteriormente, morte do avô, acredita que tenha sido algo  mais ou  menos assim: “ Meu amado homem das cavernas, que um dia foi um gentil cavalheiro. Após  ser preterida, rejeitada e desmerecida por você, naturalmente  a plena confiança  que tinha na sua pessoa transformou-se  em receio, cautela.  Insegura e com medo de você pedir emprestado as ferraduras dos cavalos, vou arriscar um pedido, e se o faço é por extrema necessidade. Você seria capaz de uma atitude generosa, desprendida para com  a minha pessoa.?  Buscar-me em casa ás seis horas da manhã e levar-me  a capital, ao hospital onde encontra-se  internado, em estado grave, o meu avô paterno? Temerosa, despeço-me

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