quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Paranóico

                       É normal  mudança de interesses durante o namoro e quando  o casal compreende esta necessidade, o relacionamento flui, porém, se uma das partes permanece inflexível,  a espiral do conflito  cresce e a separação é inevitável. Quando Pedro  reaproximou-se de  Talita, a proposta dela era  de eles se verem de quando em quando, sem maiores compromisso, alegando que precisava de um tempo para digerir o acontecido do passado, já que  não poderia falar que tinha um plano secreto de vingança  e precisava de tempo  para estudar todos os detalhes para que não houvesse nenhuma falha. De início, ela  se mostrou pouco interessada em reatar  o namoro, porém, após perceber a fragilidade emocional de seu ex-namorado, e em um momento de brincadeira, taxou- o de paranóico, posteriormente,  passou a falar, em tom de sedução e fantasia, em uma lua de mel; afirmava que seria uma loucura sair com um doente mental e como ela tinha uma vocação inata para a  harmonização de pessoas,  o ajudaria a encontrar a paz interior que ele tanto ansiava.

          Ele entrou na brincadeira e disse que o  seu desequilíbrio mental  poderia crescer repentinamente, e que uma pessoa sadia e um paranóico, juntos   poderia terminar em camisa de força ou algema. E ela   afirmava que sim, correria um risco sério, mas teria também a sua compensação: colo, calinhos, mimos, atenção e que tinha firme convicção que ele atenderia todos os seus caprichos com rapidez, já que com ela, o homem sempre tem a última palavra- sim, senhora. Seu pedido é uma ordem! A razão da minha vida é deixá-la feliz! Estou aqui para servi-la.  E ele alegava que  nem todas as ordens dadas por ela seriam cumpridas, como colocar-lhe um avental, bem curtinho, na frente, e bem comprido atrás. E mostrar-lhe uma pia  de cozinha, repleta de pratos, louças, talheres sujos, um tanque cheio de roupas para valar, uma taboa de passar roupa e um ferro a carvão, à moda antiga. E, depois: uma vassoura, com panos de limpeza de chão, com ele, não. Ele poderia ser um doente mental, mas idiota, ele não era, porém,  não imaginava que ela queria apenas  abandoná-lo  em plena lua de mel, iria simplesmente desaparecer do hotel, levando consigo somente os documentos pessoais e dinheiro, deixando a  mala sem nenhum bilhete.

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