segunda-feira, 17 de novembro de 2025

A memória das mãos


Hoje, como quem desperta de um sonho antigo, vi o poder secreto da memória das mãos.
Essas mãos, que outrora aprenderam a dobrar o papel em origami, guardaram em seus nervos e músculos um saber que minha mente já não alcançava. Durante anos, ensinei a outros essa arte delicada, como quem semeia estrelas no silêncio, acreditando que o conhecimento não deve morrer com seu detentor, mas florescer nos mais jovens, perpetuar-se como chama que não se apaga.

Mas o tempo, esse escultor invisível, afastou-me dos discípulos e apagou da mente os passos da dobradura. Restou-me apenas o desejo, próximo ao Natal, de criar uma decoração original. Tentei, e falhei. Cinco vezes, o pensamento se fechava em brumas, e eu rogava às minhas mãos que lembrassem. E foi então que, após longos minutos de insistência, elas, como sacerdotisas silenciosas, revelaram o segredo. O origami renasceu perfeito, não pela mente, mas pela carne que recorda.

A ciência, em sua linguagem fria e luminosa, confirma este mistério: escrever à mão, manipular objetos, repetir gestos, tudo isso desperta uma sinfonia de conexões cerebrais, uma dança entre regiões do cérebro que não se acende quando apenas digitamos. Há, portanto, uma memória tátil, muscular, sensorial — uma memória das mãos. Elas sabem, mesmo quando o pensamento se perde.

E eu, diante da dobradura renascida, senti-me feliz como criança. Desejo que este Natal seja um instante de beleza, que os enfeites brilhem como constelações dentro da precariedade da minha morada, há mais de trinta anos clamando por uma pintura. Que o contraste entre o brilho das formas e a aspereza das paredes me traga paz no coração e prosperidade na vida.

Assim, compreendo: reter é perecer, compartilhar é frutificar. O gesto que se transmite, a dobra que se ensina, a palavra escrita à mão — tudo isso é eternidade.
E minhas mãos, fiéis guardiãs, provaram que a memória não é apenas da mente, mas também da carne, do sangue, do nervo.
São elas que, em silêncio, perpetuam o saber, como se fossem as asas invisíveis da al
ma.

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