domingo, 20 de novembro de 2016

Décadas procurando a felicidade



            Há cinquenta anos  eu era   garotinha feliz!  Morava com minha família, em casa branca, de janelas azuis, no tradicional estilo colonial da zona rural, situada  às margens da  Barragem de Três Marias. Lá estão  as  mais doces lembranças que tenho de toda a minha vida. Não havia luz elétrica, banho era de bacia, com água  tirada da  cisterna, balde a balde. As visitas a casa de parentes e amigos, eram a pé, a cavalo ou de  carro de boi. Jornal, revista, rádio, televisão, telefone era um luxo  que somente as pessoas ricas da cidade usufruíam.             Eu não tinha consciência da dureza de minha vida, pois não conhecia outra. Recordo com saudade  da primavera com suas flores vermelhas, floria o ano  inteiro.  Tenho em minha memória, a imagem da paineira á  esquerda de quem chegava,  do pequizeiro   em frente a casa que oferecia generosamente sombra aos cavalos das visitas. Sim, eu era feliz, mas já tinha dentro de mim o desejo de conhecer o que havia além das montanhas azuis.
            Há quarenta anos atrás eu já não era mais feliz. Enfrentava  a vida  escolar na cidade, conflitos internos  na família  e crescia dentro de mim o desejo de trabalhar, economizar e partir. Eu acreditava que a minha felicidade  estaria bem distante. Esta década foi tão difícil que não  me vem á memória nenhuma lembrança boa, somente angústia e expectativa  de conseguir o primeiro emprego.  Em minha mente ecoava  as palavras de um professor “ A emancipação da mulher se dá  pelo trabalho.” Ele tinha razão!  Eu precisava de um trabalho  e por ele eu lutaria com todas as minhas forças.
            Há trinta anos atrás eu estava  na mesma situação: Novamente procurando  emprego. Ainda não tinha encontrado  o amor e nem a felicidade, porém, eu já tinha rompido barreiras  familiares e culturais   e tinha experiência.  Estava motivada e esperançosa, tinha a força necessária para a árdua procura. Procurei e encontrei   o trabalho que precisava  e, tudo que sou hoje, devo a ele. Esta foi uma década de   estudos e descobertas. Porém, não encontrei nem o amor e nem a felicidade. Esta foi uma década de grandes turbulências e, eu fui  uma das milhares de pessoas vítimas das  mudanças  na política  do governo da época. Dias difíceis esperavam por mim!
            Há vinte anos atrás, lá estava eu novamente procurando emprego. Encontrei trabalho sim, mas com salário menor, sem benefícios, relações difíceis com os pares e, uma luta diária para manter a contabilidade doméstica no azul. Nem preciso dizer  que,  esta década foi difícil em todos os sentidos e não encontrei nem o amor nem a felicidade.

            Há dez anos atrás, eu estava novamente começando do zero. Só que, desta vez por opção! Eu tinha esperança de encontrar melhor salário, condição de trabalho e melhorar o meu padrão de vida, novas amizades e claro, o amor e a felicidade. Porém, o que eu  jamais poderia imaginar é que fosse, novamente, ser vítima de desmandos na política, desmando estes, que interferiram não só no âmbito profissional, mas no pessoal também e fui diagnosticada        com “Exaustão emocional”.  Estou sendo repetitiva, mas infelizmente,  tenho que dizer  a verdade e, também nesta década, não encontrei nem o amor nem a felicidade.  Como este decênio  está chegando ao fim, quem sabe  eu consiga fechar este ciclo de lutas dolorosas, angústias e incertezas e, finalmente encontrar o amor e a felicidade. São estes os pedidos que farei ao Papai Noel e tenho esperança de ser atendida.

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