Há cinquenta anos eu era
garotinha feliz! Morava com minha
família, em casa branca, de janelas azuis, no tradicional estilo colonial da
zona rural, situada às margens da Barragem de Três Marias. Lá estão as mais
doces lembranças que tenho de toda a minha vida. Não havia luz elétrica, banho
era de bacia, com água tirada da cisterna, balde a balde. As visitas a casa de
parentes e amigos, eram a pé, a cavalo ou de carro de boi. Jornal, revista, rádio, televisão,
telefone era um luxo que somente as
pessoas ricas da cidade usufruíam. Eu não tinha consciência da dureza de
minha vida, pois não conhecia outra. Recordo com saudade da primavera com suas flores vermelhas, floria
o ano inteiro. Tenho em minha memória, a imagem da paineira á esquerda de quem chegava, do pequizeiro em frente a casa que oferecia generosamente
sombra aos cavalos das visitas. Sim, eu era feliz, mas já tinha dentro de mim o
desejo de conhecer o que havia além das montanhas azuis.
Há quarenta anos atrás eu já não era
mais feliz. Enfrentava a vida escolar na cidade, conflitos internos na família e crescia dentro de mim o desejo de trabalhar,
economizar e partir. Eu acreditava que a minha felicidade estaria bem distante. Esta década foi tão difícil
que não me vem á memória nenhuma lembrança
boa, somente angústia e expectativa de
conseguir o primeiro emprego. Em minha
mente ecoava as palavras de um professor
“ A emancipação da mulher se dá pelo
trabalho.” Ele tinha razão! Eu precisava
de um trabalho e por ele eu lutaria com
todas as minhas forças.
Há trinta anos atrás eu estava na mesma situação: Novamente procurando emprego. Ainda não tinha encontrado o amor e nem a felicidade, porém, eu já tinha
rompido barreiras familiares e
culturais e tinha experiência. Estava motivada e esperançosa, tinha a força
necessária para a árdua procura. Procurei e encontrei o trabalho que precisava e, tudo que sou hoje, devo a ele. Esta foi
uma década de estudos e descobertas.
Porém, não encontrei nem o amor e nem a felicidade. Esta foi uma década de
grandes turbulências e, eu fui uma das
milhares de pessoas vítimas das
mudanças na política do governo da época. Dias difíceis esperavam
por mim!
Há vinte anos atrás, lá estava eu
novamente procurando emprego. Encontrei trabalho sim, mas com salário menor,
sem benefícios, relações difíceis com os pares e, uma luta diária para manter a
contabilidade doméstica no azul. Nem preciso dizer que,
esta década foi difícil em todos os sentidos e não encontrei nem o amor
nem a felicidade.
Há dez anos atrás, eu estava
novamente começando do zero. Só que, desta vez por opção! Eu tinha esperança de
encontrar melhor salário, condição de trabalho e melhorar o meu padrão de vida,
novas amizades e claro, o amor e a felicidade. Porém, o que eu jamais poderia imaginar é que fosse,
novamente, ser vítima de desmandos na política, desmando estes, que
interferiram não só no âmbito profissional, mas no pessoal também e fui
diagnosticada com “Exaustão
emocional”. Estou sendo repetitiva, mas
infelizmente, tenho que dizer a verdade e, também nesta década, não
encontrei nem o amor nem a felicidade. Como
este decênio está chegando ao fim, quem
sabe eu consiga fechar este ciclo de
lutas dolorosas, angústias e incertezas e, finalmente encontrar o amor e a
felicidade. São estes os pedidos que farei ao Papai Noel e tenho esperança de
ser atendida.
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