segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Bete- A vítima


           
            A vida dos  trabalhadores domésticos no Brasil não  foi fácil após a Abolição da Escravatura que aconteceu em 13 de maio de 1888. Durante  o período de transição do trabalho escravo para o remunerado, muitas patroas mantiveram  os terríveis hábitos da  época da escravidão. As principais vítimas das violências foram às mulheres, principalmente as mais jovens e oriundas de famílias mais pobres e também  da zona rural. Sobre elas recaiu, sem piedade, a exploração de algumas empregadoras que  não souberam ou não quiseram entender que os tempos  haviam mudados e as atrocidades cometidas na casa grande e senzala haviam chegado ao fim. As proles numerosas do início do século XX, normalmente seguiam o exemplo dos genitores e achavam  inconcebível que  os trabalhadores domésticos fossem tratados como cidadãos brasileiros, portadores de deveres e também de direitos, iguais perante as leis dos homens e de Deus.
            Bete foi uma das vítimas daquele tempo difícil, no qual, patroas não conseguiam entender que as relações trabalhistas  são pautadas no respeito mútuo, direitos e deveres.Trabalhou como doméstica por dois anos, ganhando meio salário mínimo, acumulando as funções de cozinheira, lavadeira/passadeira, arrumadeira e babá de três crianças. Mesmo sem experiência, foi contratada porque podia dormir no emprego e aceitou receber um salário simbólico, hoje, equivalente a meio salário mínimo. Assim, a sua  jornada diária era de vinte e quatro horas, já que patroa não levanta para atender criança chorando à noite. Trabalhava de  segunda a segunda, e,  mesmo no dia de sua folga, que havia sido combinado,  dois domingos por mês, mantinha  o mesmo ritmo de trabalho. Era da zona rural, pouco estudo e estava em uma cidade que não conhecia ninguém, e,  o pouco que recebia, enviava para sua irmã, que fora abandonada pelo marido com dois filhos pequenos nos braços.
            Bete era amorosa e  cuidava dos filhos da patroa com muito carinho. Mesmo sendo uma profissional extremamente dedicada, que nunca se queixava de nada, nem das agressões físicas, da  primogênita, foi vítima de difamações sérias, sem saber como se defender e  provar que eram denúncias falsas. Nem sequer tinha com quem se orientar. É possível imaginar a dor, o desespero de um jovem sozinha, em uma cidade grande, sem dinheiro, sem direitos, sem ter para aonde ir e o pior, sem ter uma boa referência para conseguir  um novo emprego.  Sim, Bete foi demitida injustamente,   e  o pior, carregando em seus ombros pesadas calúnias. Quantas outras Betes também devem ter trilhado o caminho da injustiça e crueldade  das patroas? Assim, bem-vinda seja a lei que regulamenta a profissão dos trabalhadores domésticos! Direitos e deveres claros, com amparo legal, não há espaço para o assédio moral.

           





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