A vida dos trabalhadores domésticos no Brasil não foi fácil após a Abolição da Escravatura que
aconteceu em 13 de maio de 1888. Durante
o período de transição do trabalho escravo para o remunerado, muitas
patroas mantiveram os terríveis hábitos
da época da escravidão. As principais
vítimas das violências foram às mulheres, principalmente as mais jovens e
oriundas de famílias mais pobres e também
da zona rural. Sobre elas recaiu, sem piedade, a exploração de algumas
empregadoras que não souberam ou não
quiseram entender que os tempos haviam
mudados e as atrocidades cometidas na casa grande e senzala haviam chegado ao
fim. As proles numerosas do início do século XX, normalmente seguiam o exemplo
dos genitores e achavam inconcebível
que os trabalhadores domésticos fossem tratados
como cidadãos brasileiros, portadores de deveres e também de direitos, iguais
perante as leis dos homens e de Deus.
Bete foi uma das vítimas daquele
tempo difícil, no qual, patroas não conseguiam entender que as relações
trabalhistas são pautadas no respeito
mútuo, direitos e deveres.Trabalhou como doméstica por dois anos, ganhando meio
salário mínimo, acumulando as funções de cozinheira, lavadeira/passadeira,
arrumadeira e babá de três crianças. Mesmo sem experiência, foi contratada
porque podia dormir no emprego e aceitou receber um salário simbólico, hoje,
equivalente a meio salário mínimo. Assim, a sua jornada diária era de vinte e quatro horas, já
que patroa não levanta para atender criança chorando à noite. Trabalhava
de segunda a segunda, e, mesmo no dia de sua folga, que havia sido
combinado, dois domingos por mês,
mantinha o mesmo ritmo de trabalho. Era
da zona rural, pouco estudo e estava em uma cidade que não conhecia ninguém,
e, o pouco que recebia, enviava para sua
irmã, que fora abandonada pelo marido com dois filhos pequenos nos braços.
Bete era amorosa e cuidava dos filhos da patroa com muito
carinho. Mesmo sendo uma profissional extremamente dedicada, que nunca se
queixava de nada, nem das agressões físicas, da
primogênita, foi vítima de difamações sérias, sem saber como se defender
e provar que eram denúncias falsas. Nem
sequer tinha com quem se orientar. É possível imaginar a dor, o desespero de um
jovem sozinha, em uma cidade grande, sem dinheiro, sem direitos, sem ter para
aonde ir e o pior, sem ter uma boa referência para conseguir um novo emprego. Sim, Bete foi demitida injustamente, e o
pior, carregando em seus ombros pesadas calúnias. Quantas outras Betes também
devem ter trilhado o caminho da injustiça e crueldade das patroas? Assim, bem-vinda seja a lei que
regulamenta a profissão dos trabalhadores domésticos! Direitos e deveres
claros, com amparo legal, não há espaço para o assédio moral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário