- Hoje eu saí para fazer uma caminhada sem compromisso com o tempo e foi maravilhoso! Antes da pandemia, eu nunca tinha percebido que o ato natural de caminhar é prazeroso, antes, era apenas um ato mecânico para ir ao mercado, a igreja, em visitas e atividades de lazer, mas depois de cinco meses privada do meu direito de ir e ir eu percebi o valor da liberdade e o quanto o andar areja a cabeça, fortalece os músculos e melhora o equilíbrio físico e mental. Pela primeira vez, percebi a importância dos meus pequenos pés, que sustentam o peso do meu corpo e levam-me para onde eu quero, sem medo de tropeçar e cair, apenas com o desejo de chegar a algum lugar porque partir é bom mas retornar ao ponto de partida é melhor ainda. Doravante, a cada amanhar agradecerei a Deus por estar viva e poder desfrutar deste prazer gratuito, de poder tomar decisão como sair sem destino apenas pelo movimento do corpo, pelo frescor da manhã e deixar que meus olhos desfrutem livremente da beleza das árvores, da arquitetura e das vitrines das lojas. São tantas as opções que um simples caminhar proporcionam que estou perplexa por não ter percebido antes estes pequenos prazeres.
- A pandemia fez a humanidade dar uma desacelerada no ir e vir da labuta diária em busca do pão de cada dia, como também mostrou que sem trabalho não há alimento na mesa e que é necessário apenas encontrar um meio termo, nem tanto ao céu e nem tanto a terra. Equilíbrio! Esta é a palavra chave, mas quando a fome chega o estômago grita, a tendência natural é ir para um dos extremos da vida o que propicia o desencadeamento de tragédias. Como ser forte e equilibrado quando falta comida na mesa. Nestes cinco meses de caminhada em busca da cura para a Covid-19, centenas de cientistas debruçaram sobre o tema enquanto que milhares de pessoas inescrupulosas empenharam- se em ganhar dinheiro de maneira ilícita. Mas por ora, tudo o que desejo é escolher um novo ritmo para o meu caminhar, e desfrutar apenas dos pequenos prazeres de observar as folhas secas sendo levadas pelo vento tradicional de agosto, as nuvens brancas formando figuras em contrastes com azul anil do céu de inverno, ouvir o sons característicos da grande metrópole e tudo sem deixar de observar se não há por perto um meliante à espreita.
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Diário da quarentena- 146º dia
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