Hanna não tinha rival quando o assunto era uma boa confusão. Se existisse um campeonato de intrigas, era certo que ela levaria o troféu. Naquela manhã abafada, rumou com a irmã para a chácara da família, no perímetro urbano da cidade. Mas qualquer esperança de um dia tranquilo foi rapidamente descartada—afinal, Hanna já chegava pronta para o embate.
— Eu te falei que aqueles vizinhos eram falsos! — disparou ela, ajustando o chapéu e cruzando os braços como se fosse uma xerife prestes a fazer justiça.
A irmã suspirou, já prevendo o drama que viria. Desde a última visita, os vizinhos passaram a jogar cachorros dentro da propriedade, acompanhados de restos de comida, mas sem água. Um claro movimento estratégico para transformá-las em criminosas aos olhos da lei. Afinal, maltratar animais era crime inafiançável.
Quando desceram do carro e caminharam até o terreno, Hanna parou abruptamente. Apontou para o chão, onde se espalhavam penas de galinha. Seus olhos se arregalaram, e sua boca se abriu num "ó" dramático antes de declarar solenemente:
— Pronto! Agora apelaram pra feitiçaria!
E sem esperar confirmação, saiu em disparada para buscar lenha. Empilhou os galhos e acendeu uma fogueira sobre as penas, murmurando orações que, segundo ela, cortariam qualquer mal.
A irmã observava a cena em silêncio, relembrando os últimos acontecimentos. "Talvez alguém tenha trazido pedaços de galinha para atrair os cães", pensou. Mas havia outra hipótese, menos conspiratória: "Ou então algum dos cachorros caçadores pegou a galinha dos vizinhos". Preferiu não verbalizar nenhuma das teorias—já sabia que Hanna se alimentava das confusões como quem toma um bom café preto pela manhã.
Ainda assim, enquanto a irmã entoava suas orações, ela própria se sentiu tomada por um receio estranho. Para garantir, recitou o Credo e a oração de São Bento, como um escudo invisível contra qualquer maldição.
— Pronto — anunciou Hanna ao fim do ritual. — Vamos ver se agora param de nos atormentar.
Mas, conhecendo os vizinhos e, principalmente, conhecendo Hanna, a irmã sabia que aquele era apenas o começo de mais um longo capítulo de fuxicos, pirraças e encrencas intermináveis.
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