Havia uma tarde morna e silenciosa se derramando sobre as estradas sinuosas de Minas Gerais. O céu, coberto por nuvens suaves, tingia os morros de um dourado melancólico, daqueles que fazem o coração desacelerar para escutar melhor a alma. Eu dirigia devagar, sem pressa de chegar, porque há dias em que o destino pouco importa — o que vale é o caminho.
Foi então
que, numa curva qualquer, entre o cheiro de capim fresco e o canto distante de
um sabiá, a vi. Uma pata. Caminhava com dignidade maternal, escoltada por seus
pequenos, já não tão pequenos assim — patinhos adolescentes, em fila
desajeitada, como jovens aprendendo o compasso da vida.
Sorri. A
cena era comum por ali, mas algo chamou minha atenção: entre os patinhos de
plumagem clara, havia um diferente. Suas penas eram castanhas, densas, e o
pescoço, mais curto do que o dos demais. Era evidente: ele não se tornaria um
cisne. Não havia nesse destino nenhum encanto de conto de fadas, apenas a
verdade suave da natureza.
Mas foi
ali que meu coração vacilou. Quem era aquele patinho? De onde viera?
A mente,
guiada pelo coração, começou a costurar possibilidades. Talvez ele fosse descendente
de uma linhagem antiga de patos domésticos, esquecida pelas gerações, perdido
no tempo como uma memória que insiste em permanecer. Ou, quem sabe, fosse
selvagem — fruto de uma história de entrega silenciosa.
Imaginá-lo
como o protagonista de uma pequena epopeia me enterneceu. Pude ver, com os
olhos da alma, uma mãe pata de olhos tristes, escondida entre as folhagens,
depositando seu ovo no ninho de outra, na esperança de que seu filho tivesse
uma chance — não de ser igual, mas de ser amado.
E aquela
outra pata, sem entender muito, talvez apenas sentindo o chamado da vida,
acolheu o ovo entre os seus. Não questionou. Apenas aqueceu. Apenas esperou. E,
ao nascer, o tratou como seu. Porque amor, às vezes, é isso: aceitar o
diferente e protegê-lo como se fosse parte do próprio coração.
Fiquei
ali, com o carro parado e o pensamento longe, até que a pequena família se
perdeu entre os capins altos da beira da estrada. Levei comigo uma cena
singela, mas que carregava um mundo dentro.
Se alguém
souber de que espécie era aquele patinho, ou se essa história tem um nome na
biologia, que me diga. Mas, se não souberem, tudo bem. Talvez seja melhor
assim. Porque algumas histórias não precisam ser explicadas. Basta que sejam
sentidas.
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