O cheiro da terra molhada anunciava a chegada do entardecer. O céu tingido de dourado parecia querer acolher minha saudade, como se entendesse que eu voltava depois de tantos anos, guiado apenas por uma lembrança: as flores da assa-peixe.
Na infância, aquelas pequenas vassourinhas floridas faziam parte do nosso ritual na cozinha. Antes de enfiar as assadeiras no forno a lenha, limpávamos as brasas com suas hastes delicadas. O cheiro que subia junto ao calor era um perfume esquecido no tempo, uma saudade que só se revelou quando me vi longe, na cidade grande, cercado de concreto e pressa.
Mas agora eu estava de volta. E no silêncio das trilhas poeirentas, caminhei devagar, deixando que o olhar curioso explorasse cada recanto. Quando vi, lá estava ela—crescendo livre à beira da estrada, como se tivesse me esperado todos esses anos.
Ajoelhei-me, toquei suas folhas ásperas, segurei as flores brancas como quem segura um pedaço do passado. Fechei os olhos. Minha mãe estava ali, ajeitando os biscoitos no forno. Meu pai sorria, contando suas histórias antigas. O calor das brasas, o cheiro de queijo, as risadas soltas pelo quintal.
Os anos tinham levado muitas coisas, mas a assa-peixe ainda estava ali. E naquele instante, eu entendi: algumas memórias nunca nos abandonam.
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