quarta-feira, 12 de maio de 2021

Falar é perigoso

           Existiu uma vida mais alegre e fraternal antes da pandemia e do uso obrigatório de máscara, do constrangimento de tossir ou espirrar em público.  As  normas de boa educação orientavam que, quando uma pessoa  espirrava os presentes dissessem: “Deus te crie”, expressão remanescente do judaísmo Hayim Tovim, quem em uma tradução livre significa “tenha uma boa vida”. Hoje, os tempos são outros e a etiqueta social acompanhou a mudança forçada de comportamento; quando alguém espirra, mesmo de máscara, ninguém diz nada e procurar afastar-se mais do que os dois metros convencionados pelo  Ministro da  Saúde. A vacinação avança e  misteriosamente, os casos aumentam, como também o número de mortos, e a tão conhecida afetuosidade dos brasileiros  desaparece e o medo toma o seu lugar.

      O inimaginável  acontece diariamente entre as pessoas conscientes da real situação enfrentada pelo mundo- Distanciamento social e contenção de palavras-. Falar tornou-se perigoso porque as gotículas  expelidas pela boca podem ser fatais. A sabedoria popular, desde tempos imemoriáveis já proclamou que falar  liberta, cura as feridas da alma, e quando se fala com estranhos, que não  serão mensageiros de intrigas familiares e profissionais, a pessoa angustiada  sente-se mais  encorajada a esvaziar   a alma. Locais como ponto de ônibus, fila de banco, sala de espera de  hospitais e postos de saúde,  sempre funcionaram como excelentes divãs. De repente tudo mudou! Cada um em seu espaço, agarrado ao seu celular, olhando de relance para ver se todos estão a dois metros de distâncias e histórias de vida não mais são repassadas  e já não somos mais terapeutas uns dos outros.

      As corridas de táxis tornaram-se silenciosas e as incríveis histórias dos companheiros de viagens médias ou  longas são doces lembranças para quem teve o privilégio de viver em uma época em que dialogar com   estranhos em locais movimentados não eram perigoso. Foi-se o tempo em que sentar na calçada com os vizinhos para “tomar a fresca” e jogar conversa fora  era salutar e a única preocupação eram as palavras ofensivas e caluniosas. Agora,  preocupa-se com a eficácia da máscara, se ela é capaz de conter  o fluxo de ar cônico carregado de gotículas que  em uma conversa normal podem alcançar até dois metros de distâncias e o temor que  a  vivente possa tossir ou espirar pois a nuvem gasosa expelida neste processo natural pode  espalhar gotículas até oito metros. São tantos os cuidados para ter uma conversação  segura que o mais prudente é silenciar-se  com o coração oprimido.

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