Na última edição da Conferência Municipal da
Cultura, o palco estava montado, os holofotes acesos e os papéis bem
distribuídos. Pena que o espetáculo não era sobre cultura, mas sobre como
manter o sistema público em sua eterna dança das cadeiras — onde os convidados
são escolhidos a dedo, os convites são sussurrados entre os iniciados, e o
povo, esse detalhe inconveniente, é mantido à margem, como figurante sem fala.
A plateia? Funcionários municipais devidamente
escalados para garantir que houvesse público. Afinal, não se pode realizar um
evento vazio — seria um vexame para a encenação. Já os líderes religiosos, que
poderiam contribuir com a vocação natural da cidade para o turismo espiritual,
foram ignorados com a elegância de quem finge que não ouviu. Talvez porque fé
não se encaixe bem no roteiro das panelinhas.
Durante os grupos de trabalho, surgiu a queixa
clássica: “A população não reconhece o patrimônio material e imaterial da
cidade.” Eis que uma alma ousada — eu — propôs algo concreto: um projeto de
educação patrimonial com escolas, ônibus, guia, caderno de atividades, passeio
pelos bairros, explicações sobre arquitetura e história das ruas. Uma ideia com
começo, meio e fim. Um crime imperdoável.
A relatora, fiel ao script do teatro burocrático,
ignorou solenemente a proposta. Preferiu registrar sugestões que não ameaçassem
o status quo, como levar idosos às escolas para falar sobre seus saberes. Uma
proposta que, embora poética, já se provou um fiasco: os idosos têm
conhecimento, sim, mas não têm a didática para lidar com estudantes inquietos e
professores que aproveitam o momento para corrigir provas e olhar para o além.
A conferência terminou como começou: com pompa,
protocolo e uma sensação de que tudo foi feito para parecer que algo foi feito.
A cultura, essa entidade abstrata, segue sendo usada como cortina de fumaça
para encobrir a falta de ação concreta. E as panelinhas? Bem, essas continuam
fervendo, temperadas com indiferença e servidas em pratos de porcelana
institucional.
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