domingo, 19 de outubro de 2025

O Pequeno Investimento de Longo Prazo

 

Era uma vez, em um país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, onde o amor sempre teve um quê de estratégia e o romantismo, um leve aroma de contrato social. Casar por amor? Claro, desde que o amor venha com escritura, pensão e, quem sabe, um carro quitado.

Nos tempos de nossas avós, o plano era simples e eficaz: engravidar solteira. Bastava um deslize calculado e pronto — o pai da moça, armado de honra e espingarda, resolvia tudo no altar. O futuro da jovem estava garantido, com sobrenome novo e um marido que, mesmo relutante, agora era patrimônio consolidado. O bebê? Um bônus. A barriga era o boleto, o casamento, o pagamento.

Com o passar dos anos, a legislação evoluiu e, com ela, a criatividade. Veio o divórcio, a pensão alimentícia e o novo mantra: “filho é investimento”. Engravidar virou estratégia de carreira. E por que parar em um pai, se o mercado oferece vários? Multiplicaram-se os genitores, cada um contribuindo mensalmente com seu quinhão. Três criança, três pensões. É o milagre da multiplicação — não dos pães, mas dos boletos pagos.

E agora, em tempos de afetividade líquida e vínculos flexíveis, surge o pai afetivo. Aquele que não gerou, mas amou. E amar, como sabemos, tem consequências jurídicas. O afeto virou débito automático. Some-se a isso o Bolsa Família e temos o combo perfeito: uma criança que rende mais que poupança. Biológico, afetivo e governo — três fontes de renda para um único CPF mirim.

Enquanto isso, o pequeno herdeiro passa os dias na creche, financiada pelo município, e os fins de semana são divididos entre os pais. A mãe? Livre para empreender, estudar ou simplesmente descansar. Afinal, criar filhos nunca foi tão fácil — desde que se saiba jogar com as regras do sistema.

Mas antes que alguém se ofenda, vale lembrar: esta crônica não é sobre todas as mulheres, nem sobre todas as mães. É sobre um fenômeno social que escancara as brechas de um sistema que, em nome da proteção, virou palco para estratégias de sobrevivência — e, por vezes, de oportunismo.

A pergunta que fica é: quando o afeto virou moeda? E o que acontece com a criança quando ela deixa de ser investimento e vira adulto — sem pensão, sem creche, sem bônus?

Porque no fim, o que parece vantajoso hoje pode ser apenas mais uma conta a vencer amanhã.

Boa leitura e boa reflexão. Porque domingo também é dia de pensar.

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