Era uma vez, em um
país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, onde o amor sempre teve
um quê de estratégia e o romantismo, um leve aroma de contrato social. Casar
por amor? Claro, desde que o amor venha com escritura, pensão e, quem sabe, um
carro quitado.
Nos tempos de
nossas avós, o plano era simples e eficaz: engravidar solteira. Bastava um
deslize calculado e pronto — o pai da moça, armado de honra e espingarda,
resolvia tudo no altar. O futuro da jovem estava garantido, com sobrenome novo
e um marido que, mesmo relutante, agora era patrimônio consolidado. O bebê? Um
bônus. A barriga era o boleto, o casamento, o pagamento.
Com o passar dos
anos, a legislação evoluiu e, com ela, a criatividade. Veio o divórcio, a
pensão alimentícia e o novo mantra: “filho é investimento”. Engravidar virou
estratégia de carreira. E por que parar em um pai, se o mercado oferece vários?
Multiplicaram-se os genitores, cada um contribuindo mensalmente com seu
quinhão. Três criança, três pensões. É o milagre da multiplicação — não dos
pães, mas dos boletos pagos.
E agora, em tempos
de afetividade líquida e vínculos flexíveis, surge o pai afetivo. Aquele que
não gerou, mas amou. E amar, como sabemos, tem consequências jurídicas. O afeto
virou débito automático. Some-se a isso o Bolsa Família e temos o combo
perfeito: uma criança que rende mais que poupança. Biológico, afetivo e governo
— três fontes de renda para um único CPF mirim.
Enquanto isso, o
pequeno herdeiro passa os dias na creche, financiada pelo município, e os fins
de semana são divididos entre os pais. A mãe? Livre para empreender, estudar ou
simplesmente descansar. Afinal, criar filhos nunca foi tão fácil — desde que se
saiba jogar com as regras do sistema.
Mas antes que
alguém se ofenda, vale lembrar: esta crônica não é sobre todas as mulheres, nem
sobre todas as mães. É sobre um fenômeno social que escancara as brechas de um
sistema que, em nome da proteção, virou palco para estratégias de sobrevivência
— e, por vezes, de oportunismo.
A pergunta que
fica é: quando o afeto virou moeda? E o que acontece com a criança quando ela
deixa de ser investimento e vira adulto — sem pensão, sem creche, sem bônus?
Porque no fim, o
que parece vantajoso hoje pode ser apenas mais uma conta a vencer amanhã.
Boa leitura e
boa reflexão. Porque domingo também é dia de pensar.
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