Humilhação.
Eis aí uma palavra que deveria vir estampada na capa de qualquer manual de
sobrevivência artística. Se você sonha em ser escritor, prepare-se: não é só o
coração que vai sofrer, é o pulso também — tendinite é praticamente um troféu
da profissão.
A vida do
aspirante a escritor é uma mistura de fé cega com masoquismo refinado. A gente
passa horas em frente ao computador, escrevendo com a mesma dedicação de quem
está salvando o mundo, só que sem o reconhecimento, sem o salário, e sem o
mundo salvo. No máximo, salva-se um arquivo em .docx.
E quando
finalmente se termina um livro — aquele filho literário que você gerou com dor,
suor e café — vem a parte mais cruel: ninguém quer comprar. Nem de graça.
Distribuir é um ato de generosidade que beira o desespero. E mesmo assim, o
leitor olha a capa, vira o nariz e pergunta: “Mas esse autor é famoso?” Não,
meu querido, não sou. Mas o texto é bom. Só que no Brasil, talento sem fama é
como Wi-Fi sem senha: ninguém acredita que existe.
A saída?
Concursos literários. Antologias. A esperança de ser selecionado e, com sorte,
poder comprar o próprio livro. Sim, você leu certo: comprar o próprio livro.
Porque ser publicado não significa que você vai receber um exemplar. É tipo ser
convidado pra festa e ainda ter que levar o bolo.
Pois bem,
fui selecionada. Assinei o contrato com a empolgação de quem acha que agora
vai. Dois dias depois, recebo um e-mail da editora. “Relendo seu texto,
percebemos que ele não se encaixa no tema do concurso. Poderia enviar outro?”
Claro, com todo prazer. Só que não.
Agora
estou aqui, encarando o cursor piscando como se fosse um desafio pessoal. A
vontade é de não mandar nada. De fingir que não vi o e-mail. De mudar de nome e
começar uma carreira como vendedora de tapetes. Mas como sou iniciante, não
posso me dar ao luxo de me indispor com quem ainda dá oportunidade aos
desconhecidos.
E é nesse
momento que entendo por que escritores consagrados se tornam difíceis de lidar.
Não é arrogância. É vingança. Vingança por cada texto ignorado, por cada “não
se encaixa no tema”, por cada livro que ninguém quis ler — nem de graça.
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