terça-feira, 7 de outubro de 2025

Desabafo de uma inicialmente


Humilhação. Eis aí uma palavra que deveria vir estampada na capa de qualquer manual de sobrevivência artística. Se você sonha em ser escritor, prepare-se: não é só o coração que vai sofrer, é o pulso também — tendinite é praticamente um troféu da profissão.

A vida do aspirante a escritor é uma mistura de fé cega com masoquismo refinado. A gente passa horas em frente ao computador, escrevendo com a mesma dedicação de quem está salvando o mundo, só que sem o reconhecimento, sem o salário, e sem o mundo salvo. No máximo, salva-se um arquivo em .docx.

E quando finalmente se termina um livro — aquele filho literário que você gerou com dor, suor e café — vem a parte mais cruel: ninguém quer comprar. Nem de graça. Distribuir é um ato de generosidade que beira o desespero. E mesmo assim, o leitor olha a capa, vira o nariz e pergunta: “Mas esse autor é famoso?” Não, meu querido, não sou. Mas o texto é bom. Só que no Brasil, talento sem fama é como Wi-Fi sem senha: ninguém acredita que existe.

A saída? Concursos literários. Antologias. A esperança de ser selecionado e, com sorte, poder comprar o próprio livro. Sim, você leu certo: comprar o próprio livro. Porque ser publicado não significa que você vai receber um exemplar. É tipo ser convidado pra festa e ainda ter que levar o bolo.

Pois bem, fui selecionada. Assinei o contrato com a empolgação de quem acha que agora vai. Dois dias depois, recebo um e-mail da editora. “Relendo seu texto, percebemos que ele não se encaixa no tema do concurso. Poderia enviar outro?” Claro, com todo prazer. Só que não.

Agora estou aqui, encarando o cursor piscando como se fosse um desafio pessoal. A vontade é de não mandar nada. De fingir que não vi o e-mail. De mudar de nome e começar uma carreira como vendedora de tapetes. Mas como sou iniciante, não posso me dar ao luxo de me indispor com quem ainda dá oportunidade aos desconhecidos.

E é nesse momento que entendo por que escritores consagrados se tornam difíceis de lidar. Não é arrogância. É vingança. Vingança por cada texto ignorado, por cada “não se encaixa no tema”, por cada livro que ninguém quis ler — nem de graça.

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