Rosalina amada,
Espero que esta missiva encontre-te em perfeita saúde e disposição de
espírito. Eis que me vejo obrigada a recorrer ao artifício da escrita mecânica,
pois minha caligrafia, qual hieróglifo indecifrável, torna-se mais desregrada a
cada dia que passa.
Permita-me trazer à tua lembrança a augusta sabedoria de tua bisavó paterna,
Dona Bella Célia da Silveira, mulher de fibra e entendimento singular, que, com
suas palavras certeiras, legou-nos conselhos eternos. Não raro, ela alertava:
"Nunca permita que friagem assente-se em teu peito ou em teus pés."
Ora, não era vã essa advertência, pois de seu ventre vieram ao mundo treze
almas, todas conduzidas à idade adulta por sua diligência e cuidados.
Agora que o verão se aproxima, trazendo consigo tormentas e ventos impiedosos,
minha alma inquieta pensa em ti, que habitas distante, e temo que as
intempéries possam encontrar-te despreparada.
Por isso, deixo-te um conselho prático, amparado pela sabedoria herdada: na
Rua Princesa Leopoldina, nas cercanias
dos Correios e próximo ao Varejão de Grãos, há uma loja de variedades. Ali,
podes adquirir uma capa de chuva, tão necessária para que te protejas das águas
imprevistas. E, se o troco permitir, adquira também uma sombrinha, pois a
precaução nunca é exagerada.
Quanto ao mais, tudo caminha em ordem. Tua mãe goza de boa saúde, e por aqui
os dias seguem em seu ritmo ordinário.
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