sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Epístola Barroca de Rosalina à Prima Amada

 

Rosalina amada,

Espero que esta missiva encontre-te em perfeita saúde e disposição de espírito. Eis que me vejo obrigada a recorrer ao artifício da escrita mecânica, pois minha caligrafia, qual hieróglifo indecifrável, torna-se mais desregrada a cada dia que passa.

Permita-me trazer à tua lembrança a augusta sabedoria de tua bisavó paterna, Dona Bella Célia da Silveira, mulher de fibra e entendimento singular, que, com suas palavras certeiras, legou-nos conselhos eternos. Não raro, ela alertava: "Nunca permita que friagem assente-se em teu peito ou em teus pés." Ora, não era vã essa advertência, pois de seu ventre vieram ao mundo treze almas, todas conduzidas à idade adulta por sua diligência e cuidados.

Agora que o verão se aproxima, trazendo consigo tormentas e ventos impiedosos, minha alma inquieta pensa em ti, que habitas distante, e temo que as intempéries possam encontrar-te despreparada.

Por isso, deixo-te um conselho prático, amparado pela sabedoria herdada: na Rua Princesa  Leopoldina, nas cercanias dos Correios e próximo ao Varejão de Grãos, há uma loja de variedades. Ali, podes adquirir uma capa de chuva, tão necessária para que te protejas das águas imprevistas. E, se o troco permitir, adquira também uma sombrinha, pois a precaução nunca é exagerada.

Quanto ao mais, tudo caminha em ordem. Tua mãe goza de boa saúde, e por aqui os dias seguem em seu ritmo ordinário.

Recebe o afeto sincero de tua prima,
Amélia

 

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