Hoje é Dia de Finados, e o coração se veste de
memória e gratidão. É dia de lembrar, de agradecer àqueles que abriram os
caminhos que percorremos agora, mais leves e mais amplos. Graças a esses passos
passados, tenho uma vida que me chega com o perfume do esforço de quem me
precedeu. E é com reverência que sigo até o cemitério municipal, onde a missa
ecoa entre os túmulos floridos. As flores espalhadas entre as lápides me
emocionam, um gesto tão simples e tão imenso: levamos flores aos que amamos.
Elas ficam lá, como um abraço em nossa ausência, a beleza persistindo onde a
presença já se foi.
Durante a missa, o celebrante comentou sobre o ato
de ofertar flores. "Oferecemos flores a quem amamos", disse ele, com
um olhar compassivo, como quem traduz para o coração o que as palavras nem
sempre alcançam. E, ainda que nossos entes queridos tenham voltado à casa do
Pai, as flores permanecem como mensageiras de nosso amor.
Em um instante de rara sensibilidade, o padre
compartilhou uma tradição tocante. Lembrou-se de um sacerdote que, em missas de
corpo presente ou no sétimo dia, pedia que todos rezassem uma Ave-Maria por
aqueles que ainda iriam partir. O sentido da prece pairou no ar, como um
convite à reflexão sobre nossa própria mortalidade, mas também como um alento,
uma oração em compasso com o mistério da vida. No fim, rezamos juntos, cada um
com suas intenções – pedi vida longa e saúde, silenciosa e serena em meio
àquelas preces.
A caminhada entre as lápides me trouxe ainda uma
surpresa gentil: o Grupo Zelo, que cuida de velórios e despedidas, havia deixado
uma acolhida singela – café, chá, suco, biscoitos em saquinhos delicados, um
terço e uma vela, todos embalados com carinho, quase um gesto de mãos dadas com
nossa dor. Era mais do que uma simples oferta; era um cuidado, um carinho
inesperado que aquecia o coração num dia frio de saudades. E no cartão que
acompanhava o presente, uma frase tão simples e verdadeira: “Que as
lembranças daqueles que amamos permaneçam sempre vivas, inspirando nossos
corações e iluminando nossos caminhos.”
Saí dali com uma paz rara, consciente de que o amor
que dedicamos aos que partiram reverbera em nós, feito eco de um amor que nunca
se apaga, mesmo nas horas de despedida.
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