sábado, 28 de setembro de 2024

O Silêncio da Alma Solitária

 Em todas as fases de sua vida, a solidão sempre foi a fiel companheira de Rosalina, como uma sombra inseparável. Ao seu lado, caminhava a carestia crônica, que o obrigava a escolher sempre o mais barato, o que a vida oferecia de mais modesto: o pão amanhecido no balcão de promoções, a oferta do dia. No que dizia respeito ao lazer, ela somente desfrutava do que fosse gratuito, acessível ao público em geral. E, por isso, não podia se queixar — frequentara diversas exposições de arte nos centros culturais do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e FIESP. Entretanto, verdade seja dita, Rosalina jamais conseguira captar plenamente a beleza das obras ou entender a mensagem que os artistas tentavam transmitir. Seu conhecimento escolar, escasso e fragmentado, jamais lhe permitiu adentrar nos mistérios da arte. Ela fora à escola, passara de ano, mas o saber, esse, se perdera em algum canto da sala de aula, esquecido, talvez, entre carteiras vazias e dias nublados. Hoje, sequer sabia calcular uma porcentagem. Sua linguagem era desajeitada, quase inábil, mas o vazio existencial que carregava era tão vasto que ela se via vagando sem rumo, à procura de algo que preenchesse, ainda que por poucos instantes, sua alma solitária.

Com uma aposentadoria modesta, Rosalina decidira mudar-se para o interior, fugindo da humilhação de mendigar nas ruas. Escolhera bem, ao menos em termos de dignidade, mas, mesmo assim, não conseguira fazer amizades. Vagava pelas ruas da pequena cidade em busca de algo que pudesse atenuar sua tristeza. Naquele dia, encontrou uma feira de empreendedorismo infantil, organizada por crianças do ensino fundamental. Embora as apresentações fossem desajeitadas e sem graça, ela sabia que aquele era o melhor que a cidade tinha a oferecer. E, com o coração resignado, sentiu-se grato. Afinal, ainda tinha um teto sobre a cabeça e um prato de comida na mesa,  e lazer gratuito, o que, em sua longa jornada, já era motivo suficiente para agradecer

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