Era uma vez, nas longínquas terras da burocracia brasileira, uma heroína. Sim, a nossa protagonista não enfrentava dragões, mas algo muito mais temido: o georreferenciamento das terras da família. A ordem vinha de cima, do governo, que com uma canetada mágica decretava que, sim, todos deveriam mapear suas propriedades ou enfrentar o temível exército de multas. E lá foi ela, com humildade e uma pitada de esperança, bater nas portas da prefeitura local.
Munida de
paciência (que, convenhamos, era quase sobrenatural), ela explicou a sua
situação. Queria saber, de forma educada e simples, quanto precisaria juntar
para pagar o tributo pela atualização da área. O simpático atendente, que
claramente estudou anos para se especializar em cara de tédio, consultou os pergaminhos
da prefeitura e sentenciou: “Seis mil reais”. Um valor que fez o coração da
heroína dar uma leve tremida, mas nada que o bom e velho planejamento
financeiro não resolvesse.
Meses se
passaram. Nesses intervalos, nossa heroína enfrentou algumas batalhas pessoais,
com saúde fragilizada, mas jamais perdeu o foco. Conseguiu economizar, centavo
por centavo, até reunir a quantia necessária. Agora, já que os deuses da saúde
não estavam sendo generosos, pediu ao fiel contador para que fosse à prefeitura
pagar a dívida.
E foi aí
que a surpresa veio. O contador retornou com uma novidade de fazer qualquer um
engasgar: o valor agora era de... três mil reais! Três mil! Como assim?! A área
das terras não havia mudado. A heroína, com toda sua lógica imbatível, começou
a questionar. Será que a alíquota havia diminuído misteriosamente? Algum
decreto de última hora? Ou, quem sabe, um feitiço que só funcionava para quem
enviava um homem à prefeitura?
A
conclusão era inevitável: ou o georreferenciamento tinha poderes mágicos de
ajustar preços conforme a pessoa que pedia o orçamento, ou talvez, apenas
talvez, a simpatia masculina rendesse algum tipo de desconto oculto. E assim,
com uma mistura de sarcasmo e resignação, ela aprendeu que na terra das
tributações, o valor das coisas é tão flutuante quanto as justificativas dos
atendentes.
Mas tudo
bem. Afinal, se o preço da próxima vez fosse ainda menor, quem sabe ela
começaria a enviar o cachorro para fazer essas simulações.
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