sexta-feira, 4 de outubro de 2024

O misterioso desconto da Prefeitura

         Era uma vez, nas longínquas terras da burocracia brasileira, uma heroína. Sim, a nossa protagonista não enfrentava dragões, mas algo muito mais temido: o georreferenciamento das terras da família. A ordem vinha de cima, do governo, que com uma canetada mágica decretava que, sim, todos deveriam mapear suas propriedades ou enfrentar o temível exército de multas. E lá foi ela, com humildade e uma pitada de esperança, bater nas portas da prefeitura local.

Munida de paciência (que, convenhamos, era quase sobrenatural), ela explicou a sua situação. Queria saber, de forma educada e simples, quanto precisaria juntar para pagar o tributo pela atualização da área. O simpático atendente, que claramente estudou anos para se especializar em cara de tédio, consultou os pergaminhos da prefeitura e sentenciou: “Seis mil reais”. Um valor que fez o coração da heroína dar uma leve tremida, mas nada que o bom e velho planejamento financeiro não resolvesse.

Meses se passaram. Nesses intervalos, nossa heroína enfrentou algumas batalhas pessoais, com saúde fragilizada, mas jamais perdeu o foco. Conseguiu economizar, centavo por centavo, até reunir a quantia necessária. Agora, já que os deuses da saúde não estavam sendo generosos, pediu ao fiel contador para que fosse à prefeitura pagar a dívida.

E foi aí que a surpresa veio. O contador retornou com uma novidade de fazer qualquer um engasgar: o valor agora era de... três mil reais! Três mil! Como assim?! A área das terras não havia mudado. A heroína, com toda sua lógica imbatível, começou a questionar. Será que a alíquota havia diminuído misteriosamente? Algum decreto de última hora? Ou, quem sabe, um feitiço que só funcionava para quem enviava um homem à prefeitura?

A conclusão era inevitável: ou o georreferenciamento tinha poderes mágicos de ajustar preços conforme a pessoa que pedia o orçamento, ou talvez, apenas talvez, a simpatia masculina rendesse algum tipo de desconto oculto. E assim, com uma mistura de sarcasmo e resignação, ela aprendeu que na terra das tributações, o valor das coisas é tão flutuante quanto as justificativas dos atendentes.

Mas tudo bem. Afinal, se o preço da próxima vez fosse ainda menor, quem sabe ela começaria a enviar o cachorro para fazer essas simulações.

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