segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Esperança silenciada

 Amanheceu um dia comum, mas o peso no meu peito anunciava que as coisas não seriam fáceis de digerir. A apuração já havia terminado, e as ruas, agora silenciosas, pareciam refletir o vazio que senti ao descobrir o resultado. Era como se a cidade inteira estivesse em um luto silencioso, o luto por uma oportunidade perdida, uma esperança que se esvaiu com o soar do último voto computado.

O candidato que tanto me empenhei em apoiar não venceu. Não por falta de preparo, de vontade ou de ética. Pelo contrário, ele tinha todas as qualidades que buscamos em quem deveria nos representar. Conhecia de perto as necessidades da região, tinha a confiança de quem realmente poderia fazer a diferença. Mas isso, aparentemente, não bastou. Não foi o suficiente. E o que restou foi uma sensação amarga, um desalento difícil de descrever.

Fico pensando no que leva uma cidade a se render ao mais despreparado dos candidatos. No que faz as pessoas escolherem o caminho mais curto, mais barato, mas também mais sombrio. No fim, foi isso: o preço de um voto valeu uma cesta básica, um alívio imediato, que vai saciar a fome de um dia, talvez dois. E depois? Depois, a fome volta. Mas quem poderia trazer algo mais duradouro, quem poderia garantir o futuro de todos, ficou para trás.

É triste ver como o preparo e o conhecimento foram derrotados pela compra descarada de votos. Cada cesta distribuída, cada promessa vazia, cada sorriso cínico, valeram mais do que seis leitos de UTI que poderiam salvar vidas. Cada mão estendida em troca de migalhas deu as costas para uma chance real de mudança.

E agora, só resta a tristeza de ver a cidade escolhendo a continuidade do abandono. A vida segue, mas para quem se preocupa, para quem acreditava na possibilidade de dias melhores, o desânimo pesa. A frustração de ver a ética e a honestidade serem vencidas por estratégias tão sujas é difícil de suportar. E o pior é saber que, ao longo dos próximos anos, essas decisões vão nos assombrar, silenciosamente, a cada falta de atendimento, a cada sonho de desenvolvimento enterrado.

No fim, o que restou foi o silêncio das urnas e o eco de uma esperança sufocada.

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