No coração do cerrado, onde a terra árida e o sol abrasador ditam o ritmo da vida, os moradores aprenderam a decifrar os segredos da natureza. Ali, cada som, cada movimento, cada fragrância carrega um significado, uma mensagem cifrada pelos deuses antigos, que os anciãos transmitem com reverência aos mais jovens.
Dizem os
mais velhos que a natureza, em sua sabedoria silenciosa, dá sinais claros antes
da chuva. Para quem sabe observar, as formigas revelam muito sobre o tempo.
Quando começam a se agitar e construir suas fortalezas de barro, é sinal de que
a terra logo será abençoada pela água dos céus. As vacas, por sua vez, deixam
os pastos abertos e se refugiam sob as árvores, como se pressentissem o
alvoroço que está por vir. E os pássaros, em vez de pairarem no alto como de
costume, baixam seus voos, quase roçando as copas das árvores, numa dança
premonitória que alerta os que sabem ver.
As
flores, belas e frágeis, também têm seu papel na grande sinfonia da natureza.
Quando a caliandra do cerrado e o ipê amarelo explodem em cores, é porque as
chuvas se aproximam. Essas árvores, verdadeiras sentinelas do campo, nunca
erram em suas previsões. O perfume das rosas, sempre tão marcante, suaviza,
quase desaparece, como que preparando o espírito dos homens para o frescor que
vem do céu.
As aranhas,
por outro lado, são as guardiãs do tempo seco. Quando tecem suas teias
meticulosamente entre os galhos, é porque a chuva está longe. Elas sabem que
suas obras de arte, tão delicadas, não sobreviveriam à força das águas. Assim,
seus movimentos lentos e precisos são sinais de um céu claro e sem ameaças.
E há os
sapos. Criaturas noturnas e discretas, passam o dia na água, submersos em seus
pequenos lagos, refrescando-se na umidade do ambiente. Mas quando o céu se
fecha, quando as nuvens se acumulam e o ar se torna pesado, eles emergem,
sentindo a mudança no ar. Coaxam com mais força, como se chamassem a
tempestade, e é então que se sabe: a chuva não tardará.
O céu,
com suas nuvens dançarinas, é talvez o maior oráculo de todos. Os tons de
branco, cinza, preto e marrom, cada um deles fala uma língua própria. As nuvens
pretas, pesadas e densas, anunciam tempestades sem ventos fortes, um alívio
para os que temem a fúria da natureza. Já as nuvens marrons, escuras como a
terra, são sinais de perigo. Elas vêm acompanhadas de ventos fortes, de rajadas
que sacodem as árvores e espalham poeira por toda parte.
As nuvens
brancas, tão comuns em dias ensolarados, são enganosas. Podem sugerir calma,
mas são traidoras. O céu, tão sereno, pode se fechar rapidamente, e uma tempestade
pode surgir sem aviso. E, por fim, as nuvens cinzas, essas são as mais
conhecidas dos moradores do cerrado. Elas indicam chuvas leves, mas constantes,
aquelas que duram dias e que encharcam a terra seca, dando vida nova ao campo.
Mas não
são apenas as cores das nuvens que falam. O movimento delas é igualmente
revelador. Quando começam a descer, a se aproximar umas das outras, é sinal de
que o tempo vai fechar. É como se as nuvens, cansadas de vagar solitárias,
decidissem unir forças para trazer a tempestade. Porém, se se elevam e se
afastam, é porque o perigo passou. O céu se abrirá, e o sol voltará a brilhar.
Os
moradores do cerrado, com seus olhos atentos e ouvidos apurados, sabem que a
natureza é sua maior aliada. Não há necessidade de tecnologia, de previsões
meteorológicas complicadas. Basta olhar para o céu, sentir o cheiro no ar,
observar o comportamento dos animais e plantas. A natureza, em sua sabedoria
milenar, sempre avisa, sempre cuida.
E assim,
cada estação, cada ano que passa, reforça a sabedoria dos anciãos. As crianças
crescem ouvindo essas histórias, aprendendo a ler os sinais, e assim a tradição
se perpetua, como as raízes profundas das árvores do cerrado, firmemente
ancoradas na terra.
E, em um
dia de nuvens pretas no horizonte, quando os sapos coaxam mais alto, e o
perfume das rosas desaparece, todos sabem: é hora de se preparar. A chuva vem.
E com ela, a renovação da vida.
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