terça-feira, 6 de agosto de 2024

O Último Encontro Sob as Roseiras Amarelas

 

Era uma tarde de outono, quando o sol derramava seus últimos raios sobre a pequena casa de pedra. A mulher centenária, enrugada como o tronco das árvores que a cercavam, repousava na velha poltrona junto à janela. Seus olhos, ainda lúcidos, contemplavam o jardim que se estendia além do vidro embaçado.

As roseiras amarelas, fiéis companheiras de uma vida inteira, balançavam suavemente sob a brisa. Ela lembrava-se de quando seu marido, agora há muito tempo falecido, plantara aquelas rosas. Ele as escolhera por sua cor vibrante, dizendo que eram como o sol em forma de flor. Eram o símbolo de sua união, da paixão que os unira desde os primeiros dias.

Os filhos, netos e bisnetos haviam partido. Cada um seguira seu próprio caminho, deixando-a com as memórias e as rugas. Mas ela não se sentia só. O marido, aquele homem de olhos ternos e mãos calejadas, ainda a visitava em sonhos. Às vezes, ele aparecia na penumbra do quarto, sorrindo como se o tempo não tivesse passado.

Naquela tarde, enquanto o crepúsculo se aproximava, a mulher centenária sentiu uma leveza em seu peito. Era como se as raízes das roseiras a chamassem para perto. Ela se levantou com dificuldade, apoiando-se na bengala de madeira escura. O chão de tábuas rangia sob seus passos lentos.

Lá fora, o jardim a esperava. As pétalas amarelas pareciam brilhar com uma luz própria. Ela se ajoelhou junto à roseira mais antiga, acariciando suas flores com dedos trêmulos. O vento sussurrava segredos em seu ouvido, e ela juraria que ouviu a voz do marido.

“Minha querida” – murmurou a mulher, olhando para o céu que se tingia de tons alaranjados. – É hora de nos reencontrarmos. As estações passaram, mas nosso amor permaneceu.

E então, como se as raízes da roseira a envolvessem, ela fechou os olhos. Sentiu-se leve, flutuando entre as pétalas. O mundo material desvaneceu, e ela viu o marido à sua frente, estendendo a mão.

“Vamos, minha amada” – disse ele. – O céu nos aguarda. Lá, entre as estrelas, seremos eternos como estas flores que plantamos juntos."

E assim, a mulher centenária partiu. Seu corpo enrugado desfez-se em luz, e ela ascendeu, deixando para trás o jardim e as roseiras amarelas. O marido a esperava, e o céu abriu-se para recebê-los. Juntos, eles dançaram entre constelações, enquanto as rosas na Terra continuavam a florescer em sua memória.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário