Era uma tarde
de outono, quando o sol derramava seus últimos raios sobre a pequena casa de
pedra. A mulher centenária, enrugada como o tronco das árvores que a cercavam,
repousava na velha poltrona junto à janela. Seus olhos, ainda lúcidos,
contemplavam o jardim que se estendia além do vidro embaçado.
As roseiras
amarelas, fiéis companheiras de uma vida inteira, balançavam suavemente sob a
brisa. Ela lembrava-se de quando seu marido, agora há muito tempo falecido,
plantara aquelas rosas. Ele as escolhera por sua cor vibrante, dizendo que eram
como o sol em forma de flor. Eram o símbolo de sua união, da paixão que os
unira desde os primeiros dias.
Os filhos,
netos e bisnetos haviam partido. Cada um seguira seu próprio caminho,
deixando-a com as memórias e as rugas. Mas ela não se sentia só. O marido,
aquele homem de olhos ternos e mãos calejadas, ainda a visitava em sonhos. Às
vezes, ele aparecia na penumbra do quarto, sorrindo como se o tempo não tivesse
passado.
Naquela tarde,
enquanto o crepúsculo se aproximava, a mulher centenária sentiu uma leveza em
seu peito. Era como se as raízes das roseiras a chamassem para perto. Ela
se levantou com dificuldade, apoiando-se na bengala de madeira escura. O chão
de tábuas rangia sob seus passos lentos.
Lá fora, o
jardim a esperava. As pétalas amarelas pareciam brilhar com uma luz própria.
Ela se ajoelhou junto à roseira mais antiga, acariciando suas flores com dedos
trêmulos. O vento sussurrava segredos em seu ouvido, e ela juraria que ouviu a
voz do marido.
“Minha querida” – murmurou a mulher, olhando
para o céu que se tingia de tons alaranjados. – É hora de nos
reencontrarmos. As estações passaram, mas nosso amor permaneceu.
E então, como
se as raízes da roseira a envolvessem, ela fechou os olhos. Sentiu-se leve,
flutuando entre as pétalas. O mundo material desvaneceu, e ela viu o marido à
sua frente, estendendo a mão.
“Vamos,
minha amada” –
disse ele. – O céu nos aguarda. Lá, entre as estrelas, seremos eternos
como estas flores que plantamos juntos."
E assim, a
mulher centenária partiu. Seu corpo enrugado desfez-se em luz, e ela ascendeu,
deixando para trás o jardim e as roseiras amarelas. O marido a esperava, e
o céu abriu-se para recebê-los. Juntos, eles dançaram entre constelações,
enquanto as rosas na Terra continuavam a florescer em sua memória.
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