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Era
uma vez, em um rincão esquecido do cerrado, onde o sol se derramava generoso
sobre a terra ressequida, que viviam dois velhos amigos: o Ipê Amarelo e a
Caliandra. Suas raízes entrelaçadas contavam histórias antigas, segredos
sussurrados pelo vento e promessas de chuva.
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Os
mais velhos da região diziam que a natureza tinha seus próprios sinais. Quando
as formigas marchavam em fila indiana, carregando folhas maiores que elas
mesmas, era sinal de que a chuva estava a caminho. As vacas, normalmente
preguiçosas sob o sol escaldante, ficavam inquietas, olhando para o horizonte
como se esperassem algo. E os pássaros, esses alados mensageiros, voavam mais
baixo, como se quisessem tocar a terra antes que as primeiras gotas caíssem.
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Mas
o verdadeiro espetáculo acontecia quando o Ipê Amarelo e a Caliandra decidiam
florescer juntos. Suas copas se enchiam de cores vibrantes: o amarelo do Ipê e
o vermelho intenso da Caliandra. Diziam que, quando isso acontecia, era sinal
certo de chuva. Os velhos apontavam para o céu e murmuravam: “Olhem, as árvores
estão celebrando. A chuva está próxima.”
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E
havia outros indícios. Quando as aranhas teciam suas teias em cantos
estratégicos, era porque a chuva ainda estava distante. Elas eram as
sentinelas, fiandeiras de destino, e sabiam quando era hora de preparar seus
laços para capturar as gotas que cairiam do céu.
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Os
sapos, esses pequenos filósofos do brejo, também tinham seus segredos. Em dias
de baixa umidade, eles permaneciam mergulhados na água, olhos semicerrados,
esperando. Mas quando a chuva se aproximava e a umidade do ar aumentava, eles
emergiam, saltando de folha em folha, coaxando com alegria. Era como se
soubessem que a vida renascia com a água.
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E
então, os olhos se voltavam para o céu. As nuvens, essas viajantes errantes, traziam
consigo mensagens codificadas. As pretas anunciavam tempestades sem ventos
fortes, como se o próprio ar segurasse o fôlego. As marrons, essas eram as
tempestades com ventos furiosos, capazes de arrancar telhados e desafiar a
coragem dos homens.
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As
brancas, ah, essas eram traiçoeiras. Pareciam calmas, mas escondiam segredos.
Quando o céu se tingia de branco, os mais experientes sabiam que era hora de se
abrigar, pois a tempestade viria sorrateira, sem alarde.
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E
as cinzas? Essas eram as chuvas leves, as que lavavam a poeira das folhas e
traziam alívio à terra sedenta. Mas quando o céu se vestia de cinza, era porque
a tempestade abraçaria toda a região, demorando-se como um velho amigo que não
quer partir.
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Assim,
entre Ipês e Caliandras, aranhas e sapos, nuvens e ventos, o cerrado dançava
sua dança ancestral. E os velhos, com olhos enrugados e corações sábios,
observavam o espetáculo, sabendo que a chuva era a promessa da vida renovada.
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E
assim, sob o céu amplo do cerrado, o mistério dos Ipês e a dança das nuvens
continuam, entrelaçando passado e presente, esperança e saudade, como um poema
escrito pelas mãos invisíveis da natureza.
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