domingo, 30 de junho de 2024

Promessas vazias

                        Zilma era uma mulher ambiciosa e sempre sonhara com uma vida luxuosa,  que ninguém de sua família desfrutava, porém, no quesito administração   do dinheiro que recebia, trabalhando como diarista, era simplesmente sofrível, pois gastava tudo em frivolidades, para ostentação de um poder aquisitivo que não tinha. Quando conheceu Giovanni, logo viu que era a sua chance de mudar de vida e realizar o desejo de seu único filho, de abrir um negócio próprio,  pois ele, além de preguiçoso, não tinha a ambição de conquistar uma vida melhor por esforço próprio, vivia sempre à espreita, esperando a próxima ajuda. Ela era mais nova dezessete anos, mas isto era apenas um detalhe, e depois, quanto mais cedo partir desta para a terra do sol poente, melhor, pensava a inescrupulosa.

         Com aproximadamente nove anos de união, Giovanni começou apresentar problemas de saúde,uardo começou a enfrentar problemas cardíacos sérios, afetando sua respiração e limitando suas atividades diárias. Uma das filhas de Melina, preocupada com o estado de saúde do pai, decidiu procurar ajuda médica especializada. Convenceu o geriatra de confiança de seu pai a recomendar fisioterapia para melhorar sua capacidade respiratória, o que ela não esperava era que a  sua madrasta Zilma, e sua irmã, Judite, resistiram veementemente, temendo uma melhora no quadro de saúde dele e a retomada do controle do dinheiro da família. Fragilizado e temendo represália por  parte da atual esposa e do enteado, recusou o tratamento, mesmo   após Melina afirmar que   arcaria com todos os custos do tratamento continuar. Giovani continuou sofrendo com sua condição, enquanto Zilma, preocupada apenas em manter sua nova vida luxuosa, fechou os  olhos para o sofrimento do marido e para as necessidades reais de sua família e  continuou a exibir  suas jóias e frequentar  eventos sociais. Enquanto Giovanni, esquecido em seu leito, lutava sozinho contra seus problemas de saúde, ignorado pela mulher que jurara amá-lo na saúde e na doença.

  

sábado, 29 de junho de 2024

Festa na terra e cansaço no céu

     Hoje é 29 de junho, dia  de São Pedro Apóstolo, o porteiro celestial, e nos idos  tempos, em que as Companhias de  Telefonia contratavam  uma profissional, cuja função hoje já não existe mais, a telefonista, nesta data, havia festa para esta profissional,   portanto, para o Santo era um dia exaustivo, pois além das responsabilidades da  portaria do céu,  acumulava a função de  “protetor, patrono das telefonistas, já que antigamente, era uma profissão quase  que exclusiva do sexo feminino. Assim, é impossível não imaginar como o céu ficava movimento naquela data, pior que a entrada da estação do Metrô Sé, em horário de pico e com greve de ônibus. Com o halo pesado na cabeça, o molho de chaves nas mãos, atender anjos, santos e receber as almas, que  ainda não perceberam que já morreram e acreditam que estavam apenas sonhando, verificar no caderno celestial, as ocorrências  relacionadas à  recém-chegada e ainda enviar bênçãos  àquelas que estão na terra, ávidas por  garantir a entrada no reino de Deus, mesmo sem ter cumprido os 10 Mandamentos da Lei de  Deus.  Apesar de velhinho, São Pedro tem boa memória, consciência de suas responsabilidades e olhos de águia, não deixa passar um pecadinho. Com tão ilustre cargo, ele não vai querer uma demissão por justa causa.

Despedidas Silenciosas


Às vezes, é preciso muita coragem para dizer adeus às lembranças das pessoas que se foram. Hoje, ele enfrentou a dor da perda e começou o processo de dar vazão ao lado emocional, com uma limpeza de papéis antigos que estavam guardados dentro de uma caixa de madeira maciça, que deve ter mais de um século de vida; esta ele vai reformar e guardar como lembrança do homem sábio, trabalhador habilidoso e honrado. Enquanto separava os papéis para ver quais poderiam ir para a reciclagem e quais precisavam ser guardados por mais algum tempo, lágrimas silenciosas desciam pelas suas faces. Era como se ele estivesse dizendo adeus aos seus sonhos de adolescência; foi o momento de tomada de consciência de que agora está inteiramente só no mundo, sangue do seu sangue, todos já entregues a Deus, e confia que agora, que estão morando nas estrelas, zelam por ele. Ele teve que dizer adeus à presença física de seus pais, mas deve sempre lembrar que eles vivem em seu corpo, pelo DNA, em seu coração, pelo amor e cuidado, em sua conduta, pelos valores transmitidos, e em seu espírito, pela religião Católica Apostólica Romana, que lhe deram de presente quando o batizaram. Foram horas rasgando lembranças, notas fiscais de compras de material de construção para a construção da casa, doravante, sua. Seus holerites, e vendo o minguado salário de seu pai, ele compreendeu a grandeza do homem que foi seu pai; e chorando, pediu perdão a Deus pelas vezes que reclamou dele quando pedia coisas e ele não dava, ele realmente não tinha condições de atender o pedido do filho e ambos sofriam secretamente. Ele foi um verdadeiro guerreiro em ter conseguido construir um patrimônio considerável e sustentar a família com parcos recursos. Ele errou ao criticar o pai, deveria ter procurado aprender com ele, ser como ele; ele, sim, é um exemplo a seguir, a prova viva de que com muito trabalho, persistência e planejamento, é possível viver dignamente. Papéis amarelados pelo tempo acenderam a chama da gratidão em seu coração e as lágrimas lavavam as dores de sua alma.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

O Intrigante Legado

             

    Na antiga currutela  conhecida por Olho D’água, onde outrora fora  pouso de tropeiros para dar águas aos animais e descanso destes, havia a  pousada do  respeitável e saudoso Senhor Afrânio, hoje administradas pela  viúva e suas enteadas. Era um estabelecimento modesto, porém, significativo para o padrão local e para a  Elza, a viúva, era tudo que possuía, uma vez que ela vivia em extrema pobreza quando conheceu o falecido, que lhe deu emprego por caridade, quando ele ainda era casado, misteriosamente, meses depois, da contratação, a doce Emanuela, caiu  no açude e morreu afogada. Sem perda de tempo, a  maquiavélica empregada, usou as artimanhas da sedução e conseguiu casar com o viúvo,  mesmo antes de completar o período do luto, o que deixou as  enteadas, consternadas, e era só o começo do  que estava por vir.

         A antipática  viúva Elza,  era tolerada  pelos  hospedes fiéis,  em respeito aos saudosos fundadores da pousada e pois  esta era o único meio de sustento destas.  Forasteiros que    pernoitavam, se esbaldavam nos  braços de Elza, embora era tentasse manter a aparência de uma viúva respeitável e, em conluio com sua nora, tramavam abocanhar o patrimônio das legítimas herdeiras,  mesmo não tendo direito legal sobre ele em virtude da idade do Afrânio e pelo regime do casamento que era de separação  parcial de bens e nada foi adquirido após a união, pelo contrário, ela e a nora gastara todo o dinheiro deixado no Banco, mas as duas gananciosas não de deixavam deter por essas trivialidades jurídicas, e confiavam, que na cama, com o homem certo, conseguiriam  que a pousada fosse transferida para o nome delas.

         Embora Elza mantivesse  um controle rígido sobre  o bens das  enteadas, mas como tinha dificuldades com a tecnologia,  passou a posse do cartão de crédito para a nora, e com ele, fez compras extravagantes,  justificando ser para a pousada, mas na verdade, eram luxos pessoais disfarçados.

A trama de nora não parava por aí. Ela sabia que as herdeiras legítimas   iriam completar a maioridade e iriam reclamar  a posse da herança. Foi então que Luísa concebeu um plano diabólico: convencer o advogado das herdeiras a aceitar um acordo. Um acordo que lhe renderia uma generosa quantia em troca de informações privilegiadas e documentos que poderiam agilizar a partilha da herança.

O advogado, um homem de ética questionável, viu na proposta de nora uma oportunidade para enriquecer rapidamente. Subornado com promessas de uma fatia considerável, ele concordou em colaborar, ignorando o fato de que estava jogando com a justiça e a moralidade.

No entanto, o destino é frequentemente um juiz implacável. Num dia ensolarado de outono, quando a nora aguardava ansiosamente a confirmação do acordo, a verdade veio à tona de maneira inesperada. O advogado, cuja ganância o cegara para as consequências, foi denunciado por um colega mais íntegro. As herdeiras, alertadas pela astúcia pelo advogado honesto,  que  descobriu o conluio, intervieram a tempo.

As herdeiras que sempre souberam  a verdadeira natureza da madrasta e sua nora, observavam com alegria e sensação de justiça, sogra, nora e o advogado  sendo  levados perante a justiça. As mulheres, cuja ganância e desonestidade eram tão profundas quanto  elas  próprias, estava agora desmascaradas e enfrentariam as consequências de seus atos.

Assim termina a história de da viúva Elza e sua nora, um conto de intrigas familiares e ambições desmedidas, onde a justiça, por fim, prevalece sobre os corações gananciosos que ousam desafiar os limites impostos pela honra e pela lei.

 

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Entre linhas e latidos, o amor de um cão

                                     Dona Eufrásia residia de favor, em um cômodo comercial, improvisado para residência, cedido por familiares; embora fosse exímia costureira, ela cobrava  barato pelos seus serviços, alegando que suas clientes eram donas de casa de baixo poder aquisitivo, tinha freguesia fiel pois sua habilidade com tesouras e agulhas era lendária no bairro, muito embora tivesse um temperamento difícil e era de poucas palavras, há quem diga que nunca a viu sorrir,  Em sua casa, o silêncio  era quebrado somente pelo som constante da máquina de costura e dos latinos frenéticos de  seu   Nequito, seu velho e arisco cachorro, animal que confirma o dizer popular de que “é o cão quem escolhe o dono.” Até onde  se sabe, Neguito era um cachorro de rua, que perambulava pela cidade e quando conheceu Dona Eufrásia,  os populares dizem que foi amor à  primeira vista, o animal entrou sem ser convidado e lá permanece até o seu último suspiro.

            Neguito, por outro lado, era uma criatura misteriosa! De pelagem negra e olhos penetrantes, ele vagava  pelo quintal e pelas redondezas, como a temer que os seus segredos do passados fossem descobertos e ele tivesse que retornar ao seu antigo lar. Embora fosse um vira-lata comum, era cão de guarda, sempre dava sinal  com a proximidade das freguesas e os transeuntes evitavam o portão  da costureira, temendo umas boas dentadas, já que  murmuravam a “boca miúda” que ele já havia atacado várias pessoas, todas do sexo masculino e não moradores das proximidades, e por prudência, iam pela outra calçada, que também os levava aos mesmos destinos.  Uma tarde, embora concentrada na costura, ouviu um burburinho incomum do lado de fora, a vizinha, Dona Arminda, aflita e bastante ofegante, viera lhe contar que o Neguito havia mordido um adolescente, que não aceitou ajuda e, mesmo com a perna sangrando, saiu correndo em direção ao bairro dos Tamboris. O fato deixou Dona Eufrásia bastante envergonhada e preocupada, era por isso que ela nunca tivera um cão antes, para evitar problemas. – O que eu faço agora? Eu não escolhi este animal, ele me escolheu, deve ter uma razão para ele  ter decido morar aqui? Disse consternada a pobre costureira.

            Preocupada com a situação, ela comprou uma microcâmera e  amarrou no pescoço do animal, e do celular ela acompanhava  os movimentos do cachorro.  Colocou um aviso em sua porta que iria tirar uns dias de folga  para descanso. Em dois dias de observações, ela percebeu um padrão nos ataques, ele ignorava crianças, idosos, grávidas, portadores de necessidades especiais, pessoas olhando celular, ele apenas as acompanhavam por algum tempo, caso houvesse algum outro transeunte que não fosse da vizinhança, e claro, adorava latir e correr atrás de ciclistas e motoqueiros. – Curioso, ela dizia em volta.

            Lá pelo quarto dia, quando já estava mais prática com a tecnologia, próximo à meia-noite, ela observava uma senhora que trabalhava no hospital e voltava  para casa, num ritmo que demonstrava cansaço. De repente surge um jovem de aparentemente uns 17  anos que a observava atentamente e era visível que ele estava seguindo a senhora, quando ele estava bem próximo, e já estendia a mão para puxar a bolsa da vítima em potencial, eis que neguito salta e morde a mão do  jovem que fugiu apressadamente sem dar atenção  aos gritos da mulher que perguntava se ele precisava de ajuda. – As incursões noturnas são para proteger o seu território e  os moradores! disse  em voz alta. Observou por mais uma semana, e quando viu que todos os ataques tinham uma justificava, chamou os vizinhos e mostrou as imagens das câmeras. Eles ficaram extasiados com a sabedoria do animal. Paulínia, a filha da bordadeira Joanita uma criança de  cinco anos, porém muito esperta, pediu a palavra e disse: - Dona Eufrásia, costure um colete para o Neguito. Mamãe, a  senhora pode bordar a frase: Neguito- guardião do bairro, para ele usar quando estiver patrulhando os bairros, como os policiais? Assim foi feito e a vida no bairro seguiu serena por muitos anos, mesmo depois do cão ter partido para o céu dos animais. O lendário Neguito é hoje uma lenda urbana, mas o mistério do porquê ele ter escolhido Dona Eufrásia, como sua dona, somente Deus, que tudo sabe  e tudo vê,  poderá dizer,  mas como dizia dona Eufrásia,  - esta curiosidade vai ficar comigo por muitos anos ainda, pois não tenho pressa de partir. 

domingo, 23 de junho de 2024

Inverno: um convite à introspecção e renovação

 


          Nos ciclos da natureza, o inverno é    um convite ao ser humano para  se  deixar envolver em um véu de introspecção. Nesta estação, os dias são mais curtos e as mais frias o que proporciona  oportunidade para a reflexão sobre os próximos passos da jornada humana na terra. O que o inverno têm a  ensinar?

         A palheta de cores na natureza, durante  o inverno é mais suave, é como se  terra convidasse  à vida para mergulhar  em uma atmosfera de reflexão e serenidade, parece que nesta estação, tudo desacelera, como a convidar  o ser humano a olhar para dentro de si, examinar as próprias escolhas e emoções profundas.

         A exemplo das  árvores que  deixaram cair as suas folhas no  outono e  permanecem desfolhadas, armazenando energia para explodir  na primavera  em uma diversidade de cores  vibrantes  que exalam perfume que atraem insetos, o ser humano precisa deixar ir as energias negativas e demais sentimentos e relacionamentos que o impeçam de  florescer como pessoa plena, em consonância com os preceitos bíblicos e de direitos humanos e do meio ambiente. O inverno é a estação  que a natureza mostra que é preciso dar atenção  à saúde física, emocional  e espiritual  e seguir a vida no ritmo da natureza.

         A exemplo da natureza que hiberna para renascer, o ser humano  também necessita deste tempo de repouso porque é na reclusão que se tem a oportunidade de se  fortalecer, discernir com sabedoria seus erros e acertos e aceitar com gratidão e alegria a promessa de renascimento que solstícios de inverno traz intrinsicamente.

         À medida que o frio do inverno vai cedendo espaço para a entrada dos dias quentes das  próximas estações, os seres humanos, aqueles conectados com os ciclos da natureza, vou se  emergindo de suas  introspecções, se deixando florescer como  pessoas melhores, pois  cada  estação   tem uma mensagem a compartilhar, sempre uma promessa de renovação porque esta é a lei da natureza, renovar sempre para  que a vida possa continuar, a estagnação é a morte. Renovar é preciso!

quinta-feira, 20 de junho de 2024

A vitória das filhas de Juan

         

Homens sábios e inteligentes também cometem erros, e o maior erro de Juan foi ter casado com Cruela,  uma viúva que trouxe na bagagem  um filho, nora e neto. A partir da entrada da nova mulher na casa, a  vida das enteadas tornaram-se um martírio,  ela  as maltratavam e  eram alimentadas somente com as sobras de alimentos, a prioridade sempre era os seus, até o marido fica de escanteio.

            Enquanto as enteadas faziam  todo o serviço da casa e viviam maltrapilhas, ela esbanjava dinheiro em compras caras e desnecessárias  e guloseimas para o seu neto. O infeliz marido trabalhava dia e noite para manter a casa e de tão exausto, não tinha forças para defender as filhas. Não havia dinheiro que chegava para Cruela!   Cansaço, tristeza, arrependimento  fizeram que o homem adoecesse e partisse  em um curto espaço de temo. Em volta do caixão do marido, Cruela mal conseguia disfarçar um sorriso sinistro de quem mal podia conter a felicidade de enfim estar viúva, acreditando que agora estaria livre e rica.

            O que ninguém sabia é que  Juan havia feito um testamento beneficiando suas filhas e deixou especificado que  Cruela e os seus não  podiam residir na  casa das filhas e também, como ele deixou de pagar o INSS, ela não teria pensão por morte. Como não tinham para onde ir e como viver, Cruela implorou perdão às enteadas, que com sabedoria   compram uma passagem só de ida  para a terra natal de Cruela, Ruanda, na África e nunca mais tiveram notícias da família e a avarenta Cruela virou uma lenda  urbana que era contada para as crianças da cidade como um lembrete de que, no final, o amor sempre triunfa sobre a maldade, pois mesmo após a  morte o pai protegeu as suas filhas.

 

terça-feira, 18 de junho de 2024

A sombra da suspeita

        

Ninguém nunca conseguiu entender como Rafael, um homem conhecido por sua sensatez  e inteligência poderia ter casado com uma mulher  que  se vangloriava de ter cuidado do pai, do sogro e do primeiro marido idosos e ambos morreram em seus  braços. Embora idoso, quando eles contraíram núpcias, ele gozava de uma vitalidade acima do esperado  para a sua idade e claro, tinha construído um   patrimônio considerável  para alguém que  não tinha nada, quando contraiu núpcias com a primeira esposa, ao contrário de Zilma, que sempre trabalhou em casas de família, casou com um caminhoneiro e há quem diga que o filho do casal, pode não ser dele. Aparentemente, era uma boa esposa, mas no silêncio do lar, somente Deus é testemunha.   

            As aparências enganam, todos acreditavam que ela cuidava dele com  esmero pois sempre o viam limpo, a casa impecável e a geladeira cheia, diga se de passagem, tudo comprado com o dinheiro dele, seu filho, nora e netos todas as noites lá iam comer. Diante deste quadro, quem iria questionar a dedicação da nova esposa?  Com o passar do tempo, a vizinhança já murmurar  sobre os mistérios da vida, um homem anteriormente tão vigoroso, estava se definhando aos poucos e ela  falava e falava que o levava ao médico mensalmente e que parecia que os não melhoravam sua condição, e que estava desesperada, sem saber a quem mais recorrer.

 Um primo bem próximo a Rafael, ficou intrigado, antes um homem forte e ativo, agora se deteriorava rapidamente e chamou um geriatra, mas  foi uma tentativa frustrada porque  ela  participou da consulta e não deixou que a vítima pudesse  falar com segurança com o médico, porém, este suspeito que ela estava ministrando os remédios de forma errada, prescreveu uma nova receita com os horários certos  e  nunca mais abriu a porta de sua casa ao primo de sua esposa.

Ao contrário do esperado,  ela não seguiu a  prescrição médica e intensificou a sua tentativa de abreviar a morte do marido e, no espaço de três meses, ele faleceu com  infecção generalizada; Os parentes não tinham provas para acusá-la formalmente,  mas ela  a boca do povo ninguém controla e ela ficou na memória da cidade como a mulher que matou o marido e ao contrário do que ela esperava, não conseguiu herdada nada porque eles casaram em comunhão parcial de bens, não adquiriram bens após a união e toda a fortuna dela, foi para o neto. Este foi o castigo dela, ter o peso de uma morte nas costas e não receber nada. E assim, a história da mulher que dava o remédio errado para o marido viveria para sempre na memória daquela pequena cidade, como um conto sombrio de ganância e traição disfarçado sob o véu da bondade aparente.

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segunda-feira, 17 de junho de 2024

Viagem interrompida

                   Cada dia que passa estou mais convicta que na vida, só existe dois problemas graves: doença e escassez de dinheiro, o resto, é romantismo é falta de pegar uma roça para capinar limpar fossa ou trabalhar a vários metros de profundidade em plataformas de petróleo. Por que digo isso? Pautada na experiência diária  com  os bolsos vazios desde que me entendo por gente. Com bastante sacrifício, consegui comprar em uma promoção na internet, um par de sandálias  de couro legítimo para presentear a minha única sobrinha viva,  já que as outras três, retornaram à  casa do Pai Celestial;  de posso do mimo, reaproveite uma embalagem vazia, guardada  não sei quanto tempo, laço reaproveitado, discurso ecológico dos cinco ‘Rs”, reutilizar, mas na prática, pobreza mesmo, necessidade de  economizar, pois  embalagem  para presente  é como frete, às vezes, sai mais caro que o regalo. Com os presentes embalados, faltava dinheiro para o táxi e uma carona apareceu. Aceitei!  Como diz o velho ditado popular: alegria de pobre dura pouco, faltando apenas uns trinta minutos para  chegarmos ao  destino, o telefone do patriarca da família que ofereceu a vaga no carro tocou e, do outro lado, a pessoa  pediu que regressássemos porque um parente  acabara de falecer, assim, o dia que prometia ser de comemoração e alegria terminou em lágrimas em volta do caixão  do jovem que partira de maneira súbita em plena for da idade.

sábado, 15 de junho de 2024

Compras com o meu cartão

                         Angustiada é a palavra que me define hoje.  Mais um caso misterioso em minha vida. Primeiro o sumiço do meu celular. Entrou  um meliante  pela janela, pegou o meu celular e não tocou em mais nada na casa, agora, mais este mistério; acabei de receber mensagem do banco, sobre duas compras que  foram feitas às 15 horas, quando eu estava  cuidando do jardim, o cartão em minha bolsa e a casa fechada. Isto é muito intrigante e preocupante! Que situação de vulnerabilidade é esta em que nos encontramos, nem  no Banco, nosso dinheiro não está seguro? Liguei pedindo para cancelar o cartão, fiz o boletim de ocorrência on-line o que é bem difícil porque não tem todas as opções para relatar o que de fato ocorreu.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Dia de Santo Antonio

                Treze de junho, dia de Santo Antônio e  mais uma vez eu me encontro em profunda solidão, sem saber o que fazer, aonde ir em busca de alívio  para a minha alma solitária, precisando do alimento  especial que é a companhia de um homem.  Não há como negar a esperança  de que  o Santo casamenteiro  traga-me um amor, embora mais de sete décadas de vida  tenha comprovado que ir à missa, pegar um pãozinho, botar o santo de cabeça para baixo, retirar o menino, deixá-lo de molho até  que apareça o candidato a  ocupar a vaga em meu coração  não tenha dado resultado satisfatório, continuo sozinha e carente.  Eu sempre estive aberta ao amor, ao casamento, à construção de uma família, por que  meu Deus, todo poderoso,  pela estrada da vida eu não cruze com aquele que tornará  os meus dias  sombrios em dias luminosos e  plenos.

terça-feira, 11 de junho de 2024

Um grilo em meu lar

                         

             Durante várias noites, tive a visita inesperada de um grilo, dormia e acordava com o seu chirriar estridente; admito, fiquei irritada, munida de uma vassoura,  procurei o visitante,   e foi uma busca frustrada, ele ficou enquanto quis, e uma noite, para meu alívio, não mais ouvi o som estridente de seu canto.  Em conversa com uma conhecida, queixei-me do visitante noturno e das tentativas inúteis de expulsá-lo, porém, fui repreendida por ela, que é neta de chinês,  e na longínqua terra  de seus antepassados o  canto do referido inseto é  considerado  sinal de boa sorte, e acreditam que  até ajuda a pegar no sono,  comigo foi  ao contrário.  Além da boa sorte, simboliza felicidade, vitalidade, fertilidade e ressurreição. Enfim, de nossa conversa, pude concluir que devo agradecer quando receber a visita do inseto.

                A explicação foi convincente e doravante, quando o inseto adentrar em meu lar,  não  tentarei expulsá-lo, pelo contrário, agradecerei o mensageiro  da natureza e  tentarei confiar no Universo e  preparar o meu coração  para receber as bênçãos a  mim destinadas.  Hoje, recebi a visita de um filhotinho de grilo,  estava dentro da pia da cozinha todo molhado, eu, com todo o cuidado, com o auxílio de uma colher, o coloquei na sacada para tomar sol, seco, ele voou  e não mais o vi, talvez à noite, eu ele retorne e eu possa  dormir ao som de seu chirriar estridente, mas ciente que   a providência divina zela por mim e que dias melhores chegarão em breve e com o coração  repleto de gratidão, receberei as boas novas; novas oportunidades, novos amores, novas alegrias e muita saúde e longevidade!

domingo, 9 de junho de 2024

Abandono do ofício

            A combinação  perfeita para aderir ao misticismo é  carestia financeira e a  falta de um amor. Nos idos tempo em que a internet,  que é o refúgio dos solitários  carentes sequer era imaginada pela  massa popular, os costumes eram outros, as brincadeiras,  as conversas vazias  eram o que davam o tom da vida. Uma rotina dura e, foi neste contexto que eu fiz um curso de  baralho cigano, na vã ilusão de conseguir ganhar um dinheiro extra e ajudar as  pessoas em suas mazelas diárias. Nunca recebi um centavo pelas tiragem de  cartas, todos queriam uma consulta grátis, nas horas mais improprias, e   foi quando eu descobri  eu não era a única pessoa a carregar dentro do peito o vazio existencial. Eu não desenvolvi o dom da vidência, ficava apenas com as  interpretações genéricas das cartas; era horrível: aparecia a carta da morte e eu não sabia quem era o próximo da fila, assim,  o jeito era sair pela tangente e aconselhar o consulente a rezar  para cortar o mal que estava por vir e achei mais prudente  abandonar o ofício, mesmo antes de  me firmar no mercado e esta, foi a única decisão sábia que tomei em toda a minha vida.