quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

O caso da Zeladora



          Celita não admite a sua idade nem mesmo para as amigas mais íntimas, porém, menos de 70 anos ela não pode ter porque faz muito tempo que   aposentou e  desfruta dos benefícios   destinados aos idosos e, acredite, participou da fundação do PT, o que aconteceu em 1980. Desde então, tornou-se uma  militante atuante, participando de todas as greves, de sua categoria ou não, protestos,  sempre em busca de seus direitos, e supostamente, lutando para que todos  usufruíssem, dos direitos trabalhistas, outorgados pelo Governo Vargas e  as reivindicações  de mais alguns, de acordo com as necessidades dos tempos moderno. É comum, em seu círculo de amizades, alguém dizer que ela é um exemplo a ser seguido.
          Os  anos passam, a vida muda e surpresa: Celita comprou um apartamento na planta, quase fez o corretor desistir da venda, em virtude de sua  minuciosa vistoria na obra e na papelada obrigatória para a efetuação da compra e venda. Sempre atenda aos seus direitos. Enfim, toda construção que começa, uma dia, acaba e logo, ela já providenciou a sua mudança, sempre muito atenta, para que  não fosse prejudicada em nada, e tão logo se instituiu  o grupo  para administração do condomínio, ela levantou a mão, expressando o seu desejo para fazer parte do conselho fiscal e poder acompanhar tudo  e não permitir nenhum ato desonesto e prejudicial aos condôminos.
          Para cortar gastos, ficou acordo que não haveria portaria 24 horas e que o condomínio disporia apenas de um funcionário, que se desdobraria na função de zelador e porteiro. E assim foi feito. Contrataram uma senhora, com carteira registrada,  de acordo com a Lei, porém, não com todos os direitos trabalhistas. Sem vale refeição, apenas duas conduções diárias. No prédio, no espaço destinado aos funcionários, sem água potável para saciar a sua sede, sequer   colocaram um  tradicional filtro de barro, ou seja, ela tem  que levar água de casa. Desnecessário dizer também, que  sequer  disponibilizaram um microondas para que ela pudesse aquecer a sua marmita. E, quando  questionada, por outra moradora sobre  a dificuldade da funcionária,  Celita simplesmente respondeu – Ela que almoce em casa e traga o seu café, se sente tanta falta dele,- ou seja,   enquanto trabalhadora, Celita exige que seus direitos sejam   respeitados e na qualidade de empregadora, ela os nega sem o menor escrúpulo. E é uma militante esquerdista desde a década de1980. Ao saber do ocorrido, as amigas de longa data, chegaram a cogitar que fosse fake news. Difícil de acreditar que uma  petista convicta,   ignora os direitos dos trabalhadores.

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