Engana – se quem
pensa que a síndrome do ninho vazio afeta somente as mães. Outras pessoas, como
vizinhas, tia, madrinhas, avós, que formaram laços afetuosos com uma criança, quando esta parte em busca de seus ideais, sofrem
profundamente, apesar de ter ciência que as mudanças são inerentes à vida
e são divididas em três fases marcantes.
I – O período de
crescimento, quando se assimila o mundo
e vai lentamente se preparando para a maturidade e distribuem carinho
generosamente;
II – O tão esperado
período da maturidade, nesta
fase, os processos biológicos estão voltados manutenção, reparo, procriação e o mental para
realização profissional, aventuras de descobertas de novos horizontes,
aventuras e afirmação pessoal e, desligamento do ninho familiar;
III – E por fim, o não muito esperado período do declínio biológico
e mental. O intercâmbio biológico
torna-se lento em relação às necessidades de renovação e à morte fica cada dia mais próxima. Concomitante
ás perdas característica desta fase,
surgem outras necessidades. O desejo de companhia, de reconhecimento do tempo dedicado aos familiares e amigos que
ainda estão vivos, e este sentimento é
mais forte, naquelas mulheres que
abdicaram da maternidade em prol da carreira profissional, e agora se vêem sozinhas
e carentes, cujo afeto guardado no
peito, são destinados, prioritariamente a afilhados e sobrinhos que já passaram
da fase de querê-las por perto, agora são arrimos de família, outras
responsabilidades e objetivos profissionais.
As lembranças
são dolorosas! As lágrimas secaram e já não
mais é possível aliviar a dor no
coração chorando até cansar. Não há mais ombro amigo para ouvir as suas
lamurias, restam-lhes apenas ruminar os
fatos, como Rosalina, que relembra incessantemente o último dia
que recebeu o afilhado, a quem dedicou grande afeto e dinheiro. Ele
chegou com uma mala nova, sem perceber que ela estava vazia; ao ser indagado a razão do objeto, já que suas roupas
estavam cuidadosamente lavadas e passadas, na parte do guarda-roupa a ele
destinado. Objetos de higiene pessoal, eletrônicos
e sapatos, tudo permaneciam em suas
gavetas, na cômoda. A explicação não convenceu: Alegou que estava
levando-a para o seu irmão que planeja viajar, a madrinha fez que
acreditou na mentira deslavada, a
criança ainda é menor e não pode
viajar e nem poderá nos próximos cinco anos. Com tristeza, a
madrinha observa outras mudanças:
I – Aparência – adotou um visual destoante com as tradições de sua de família e terra natal. Roupas
pretas, justas e bermudas mais curtas e pouco adepto à higiene pessoal;
II - Maus modos à
mesa. Além de comer rápido, vorazmente, o fazia em silêncio. Finda as
refeições, não se oferecia para ajudar a
tirar a mesa. Alegava cansaço, enjoo, e dormia, ou fingia dormir até a hora da
próxima refeição. Nos intervalos destas sonecas e refeições, agarrava-se ao
celular como se este fosse a salvação de todos os problemas ambientais do
mundo. Mas, se a madrinha convidava-o a
sair, em passeios turísticos pela
cidade, pagando as despesas de condução e lanche, tinha cura
súbita e a indisposição retornava, assim que pisava em casa e, se ela pedia auxílio em alguma tarefa doméstica ou com os eletrônicos,
ele o fazia de má vontade e com descuido, mais atrapalhando do que ajudando.
III – O menino falante e amoroso desapareceu e, em seu
lugar, nasceu um rapaz, autoritário, arrogante, falso e quando arriscava falar,
era para reclamar e colocar defeito em tudo e todos e apresentar soluções
fantasiosas para os problemas alheios, sendo incapaz de resolver os seus.
IV – Para a visita do afilhado amado, Rosalina gastou o que não podia no mercado, para
oferecer-lhe refeições tradicionais e saborosas, e, cheia de boas intenções, comprou um vinho sem
álcool para que juntos, comemorassem o seu primeiro emprego. Para o seu
espanto, percebeu o quão ele entendia da bebida e juntando um comentário ao outro, percebeu que ele já faz
uso da bebida, além de desdenhar o
produto nacional. Esforçou-se para que ele não percebesse a sua frustração, ao
notar que ele está se transformando na
pessoa que ele, desde a mais tenra idade criticou: o próprio pai, um alcoólatra,
autoritário e promíscuo.
V – Rosalina refere-se esta última visita como a convivência
do silêncio. Em casa, em transito, em eventos, ele apenas respondia com
monossílabas, não se engajava em um
assunto. O rosto expressava um tédio
constante, e, foi com alívio que ela
recebeu a notícia que ele iria partir. Enquanto lavava a louça, ele fez a mala e partiu. Ao
retomar a sua rotina diária, ela teve ciência que aquela fora a última vez que o receberia em seu lar,
porque ele levou todos os seus
pertences, razão pela qual, ele chegou com a
mala vazia e deixo o ninho vazio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário