quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Candidata a madrinha



          Em tempos idos, batizar uma criança era assumir a responsabilidade de  instruí-la na fé  e transformá-la em uma pessoa piedosa, segundo os preceitos da  Santa Madre Igreja Católica Apostólica Roma e os padrinhos eram escolhidos  entre os familiares dos  dois costados   e também entre as  pessoas próximas que professavam a mesma fé. O batismo é o primeiro dos sete sacramentos; o que introduz o sujeito ao seio da comunidade religiosa, perdoa o pecado original  e    confere ao batizado o privilégio de tornar-se  para sempre um filho de Deus e membro inalienável da Igreja de  Cristo. Neste ritual alguns símbolos estão  presentes, entre eles: Á água que purifica e liberta do pecado original, o óleo que representa a fortaleza do  Espírito Santo e confere  ao batizado a força necessária para vencer as lutas cotidianas. A vela que simboliza Cristo, a Luz do mundo e o sal que dá sabor e conserva, simboliza a sabedoria e é presságio dos alimentos divinos ““Vós sois o sal da terra...”(Mateus 5, 13) Bíblia de Jerusalém. No decorrer dos séculos  o batismo perdeu sua sacralidade e   foi reduzido apenas a  um evento comercial  e festivo e a nobre responsabilidade  moral dos padrinhos  de  conduzir o afilhado nas trilhas do Senhor perdeu-se nas brumas do tempo e  em seu lugar ficou a dura sina de presenteá-lo anualmente, por ocasião de seu aniversário natalício, natal, dia da criança, formatura  e recebê-los  em férias. Haja dinheiro e paciência!
          Enya  recebeu de sua irmã  o convite para batizar o seu filho. Solteira, solitária e sem filhos, aceitou com prazer, e   ingenuamente acreditou que o afilhado iria trazer cores aos seus dias  continuamente envolvidos em brumas de tristezas e ressentimentos. Por morarem em cidades distintas, começou uma  rigorosa economia, privando-se inclusive de uma refeição da noite, para conseguir o dinheiro das passagens e presente para o afilhado e com ansiedade, esperava o nascimento e o dia do batizado.   
          Na vida de Enya sempre houve uma peculiaridade: toda alegria sempre vinha acompanhada de uma grande tristeza, e, ciente desta sina, dobrava os joelhos e clamava ao Misericordioso para que o bebê nascesse forte e saudável. Como o fato ocorreu na década de 1980, e a facilidade das redes sociais ainda estavam para ser inventadas, o  telefone fixo era  o meio de comunicação à distância mais eficiente, porém  era privilégio de alguns, as noticias demoravam a chegar, já que o serviço mais eficiente para os pobre era o Correio e a carta simples, que é mais barata, Telegrama? Nem pensar!  Era pago por palavra e assim, ia correndo os dias.
          Em uma tarde fresca de primavera, Enya resolveu passar algumas horas em companhia de sua mãe, já que fora dispensada do trabalho em virtude de uma dedetização na Empresa e por coincidência, enquanto  degustavam um delicioso bolo de fubá com  erva doce e  tomavam café, ouviu-se  o grito tão esperado: “Carteiro”  finalmente chegara a carta de sua irmã, comunicando à avó  o nascimento e convidando-a para o batizado do neto, que aconteceria na próxima semana e, também explicava que havia hotéis baratos na cidade, caso ela desejasse participar do evento, já que não tinha como hospedá-la. O coração de Enya explodiu de alegria, esqueceu-se do bolo, da mãe e retornou rápido ao lar, na expectativa de também ter recebido a tão esperada missiva que de fato, estava à sua espera, na caixa de correios.
          As lágrimas que  escorreram de seus olhos não foram de alegria, mas de dor, decepção! Sua irmã, comunicava-a, que  escolhera outra pessoa para  batizar o primogênito porque ela morava distante e a nova madrinha escolhida, era vizinha e iria acompanhar o  crescimento da criança e  mais uma vez: uma grande alegria acompanhada de imensa tristeza.

Deixe o seu comentário, caso já tenha sofrido uma grande decepção   em família.
         
         

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