Em tempos idos, batizar uma criança
era assumir a responsabilidade de
instruí-la na fé e transformá-la
em uma pessoa piedosa, segundo os preceitos da
Santa Madre Igreja Católica Apostólica Roma e os padrinhos eram
escolhidos entre os familiares dos dois costados e também entre as pessoas próximas que professavam a mesma fé. O
batismo é o primeiro dos sete sacramentos; o que introduz o sujeito ao seio da
comunidade religiosa, perdoa o pecado original
e confere ao batizado o privilégio
de tornar-se para sempre um filho de
Deus e membro inalienável da Igreja de
Cristo. Neste ritual alguns símbolos estão presentes, entre eles: Á água que purifica e
liberta do pecado original, o óleo que representa a fortaleza do Espírito Santo e confere ao batizado a força necessária para vencer as
lutas cotidianas. A vela que simboliza Cristo, a Luz do mundo e o sal que dá
sabor e conserva, simboliza a sabedoria e é presságio dos alimentos divinos ““Vós sois o sal da terra...”(Mateus
5, 13) Bíblia de Jerusalém. No decorrer dos séculos o batismo perdeu sua sacralidade e foi reduzido apenas a um evento comercial e festivo e a nobre responsabilidade moral dos padrinhos de
conduzir o afilhado nas trilhas do Senhor perdeu-se nas brumas do tempo
e em seu lugar ficou a dura sina de
presenteá-lo anualmente, por ocasião de seu aniversário natalício, natal, dia
da criança, formatura e recebê-los em férias. Haja dinheiro e paciência!
Enya
recebeu de sua irmã o convite
para batizar o seu filho. Solteira, solitária e sem filhos, aceitou com prazer,
e ingenuamente acreditou que o afilhado
iria trazer cores aos seus dias
continuamente envolvidos em brumas de tristezas e ressentimentos. Por
morarem em cidades distintas, começou uma rigorosa economia, privando-se inclusive de
uma refeição da noite, para conseguir o dinheiro das passagens e presente para
o afilhado e com ansiedade, esperava o nascimento e o dia do batizado.
Na vida de Enya sempre houve uma
peculiaridade: toda alegria sempre vinha acompanhada de uma grande tristeza, e,
ciente desta sina, dobrava os joelhos e clamava ao Misericordioso para que o
bebê nascesse forte e saudável. Como o fato ocorreu na década de 1980, e a
facilidade das redes sociais ainda estavam para ser inventadas, o telefone fixo era o meio de comunicação à distância mais
eficiente, porém era privilégio de
alguns, as noticias demoravam a chegar, já que o serviço mais eficiente para os
pobre era o Correio e a carta simples, que é mais barata, Telegrama? Nem pensar!
Era pago por palavra e assim, ia
correndo os dias.
Em uma tarde fresca de primavera, Enya
resolveu passar algumas horas em companhia de sua mãe, já que fora dispensada
do trabalho em virtude de uma dedetização na Empresa e por coincidência,
enquanto degustavam um delicioso bolo de
fubá com erva doce e tomavam café, ouviu-se o grito tão esperado: “Carteiro” finalmente chegara a carta de sua irmã,
comunicando à avó o nascimento e
convidando-a para o batizado do neto, que aconteceria na próxima semana e,
também explicava que havia hotéis baratos na cidade, caso ela desejasse
participar do evento, já que não tinha como hospedá-la. O coração de Enya
explodiu de alegria, esqueceu-se do bolo, da mãe e retornou rápido ao lar, na
expectativa de também ter recebido a tão esperada missiva que de fato, estava à
sua espera, na caixa de correios.
As lágrimas que escorreram de seus olhos não foram de
alegria, mas de dor, decepção! Sua irmã, comunicava-a, que escolhera outra pessoa para batizar o primogênito porque ela morava
distante e a nova madrinha escolhida, era vizinha e iria acompanhar o crescimento da criança e mais uma vez: uma grande alegria acompanhada
de imensa tristeza.
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seu comentário, caso já tenha sofrido uma grande decepção em família.
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