terça-feira, 10 de dezembro de 2019


Fotografias antigas e recordações
          Fez-se sucesso por muitos anos os álbuns de fotografia de  papel, porém,  com a digitalização de imagens, eles caíram em desuso e há, até pessoas, que nunca viram um, porém, quem os tinha, esqueceu-se deles no maleiro do guarda-roupa ou na parte inferir da estante, junto a outras quinquilharias especializadas em acumular ácaros e traças, sendo Rosalina, uma septuagénaria, ela têm uns três  ou mais, esquecidos em algum canto qualquer e, em 06 de dezembro, dia tradicional das famílias montarem a árvore de natal, em busca dos enfeites encontrou um, esqueceu-se da decoração e perdeu-se nas brumas do tempo.
          O registro em papel tem o poder de abrir as comportas do passado e não é fácil folheá-los, sem que  as  lágrimas brotem generosamente em olhos saudosistas. Sorte ou infelicidade, fato é que Rosalina encontrou exatamente o álbum que continha várias  fotos suas, em diferentes  épocas  e ao observá-las teve ciência  das marcas do tempo a começar  pelas mãos. Quando  ainda, uma balzaquiana, não tinha consciência da beleza e delicadeza de suas mãos alvas como o algodão, macias como a seda e sem manchas sênior. Passados  quarenta anos, ela percebe o quão ridículo é uma mulher acreditar que possa mentir a sua idade. O corpo, silenciosamente,  registra cada janeiro vivido.  Os olhos alegres, vivos e brilhantes, hoje estão cansados, escondidos atrás dos óculos e pálpebras  caídas. Os  cabelos fartos e sedosos, hoje, raros, opacos e ressecados, não agradecem  as caras hidratações e tinturas.
          O seu coração sangrou  ao olhar as fotos de biquini, pernas bem torneadas,  sem celulites, varizes, manchas de sol e verrugas
 - Meu Deus! Como a minha cintura era fina! - exclama com surpresa e com tristeza, percebe que atualmente ela se perdeu entre os tradicionais pneus e uma protuberante barriga que resiste a horas de  pesados exercícios em academias e dietas severas  e a contragosto, tornou-se  companheira inseparável.  E os lábios? Um dia, foram carnudos e sedutores, atualmente, finos e expressam somente sorrisos amarelos pelas tristezas acumuladas  na vida.
          Rosalina, perdida em seus devaneios, percebe-se que o envelhecimento chega de mansinho, sem que as pessoas se dêem contas das perdas. Perde-se a cada dia um pouco da alegria de viver, da esperança em dias melhores, da vontade de lutar, e nesta lista, acrescenta-se também, a perda do equilíbrio físico, tato, paladar, audição, visão, olfato, memória, a força física. E o que se ganha com a idade? Medo das condições em que ocorrerá a sua morte, do sofrimento que está por vir. O remorso pelos erros do passado. A angústia de  sua experiência de vida não ser exemplo para  os jovens, para que eles  não cometam os mesmos erros. E a tão falada sabedoria da maturidade? Ah! Ela é uma ilusão criada para aplacar a dor  causada pelas estupidezes da juventude e a famosa benevolência dos idosos nada mais é do que  falta de forças para persuadir a nova geração a seguir o mesmo caminho trilhado  por eles. – Envelhecer é doloroso! -  diz Rosalina  e num impulso,  
começa a chorar compulsivamente enquanto vai rasgando as fotografias,  que estão como ela,  estão envelhecidas pelo tempo.

Deixe o seu comentário como você têm lidado com o peso dos anos.

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