Fotografias antigas e recordações
Fez-se
sucesso por muitos anos os álbuns de fotografia de papel, porém, com a digitalização de imagens, eles caíram em
desuso e há, até pessoas, que nunca viram um, porém, quem os tinha, esqueceu-se
deles no maleiro do guarda-roupa ou na parte inferir da estante, junto a outras
quinquilharias especializadas em acumular ácaros e traças, sendo Rosalina, uma
septuagénaria, ela têm uns três ou mais,
esquecidos em algum canto qualquer e, em 06 de dezembro, dia tradicional das
famílias montarem a árvore de natal, em busca dos enfeites encontrou um,
esqueceu-se da decoração e perdeu-se nas brumas do tempo.
O registro em
papel tem o poder de abrir as comportas do passado e não é fácil folheá-los,
sem que as lágrimas brotem generosamente em olhos
saudosistas. Sorte ou infelicidade, fato é que Rosalina encontrou exatamente o álbum
que continha várias fotos suas, em
diferentes épocas e ao observá-las teve ciência das marcas do tempo a começar pelas mãos. Quando ainda, uma balzaquiana, não tinha consciência
da beleza e delicadeza de suas mãos alvas como o algodão, macias como a seda e
sem manchas sênior. Passados quarenta
anos, ela percebe o quão ridículo é uma mulher acreditar que possa mentir a sua
idade. O corpo, silenciosamente, registra cada janeiro vivido. Os olhos alegres, vivos e brilhantes, hoje estão
cansados, escondidos atrás dos óculos e pálpebras caídas. Os
cabelos fartos e sedosos, hoje, raros, opacos e ressecados, não
agradecem as caras hidratações e
tinturas.
O seu coração
sangrou ao olhar as fotos de biquini,
pernas bem torneadas, sem celulites,
varizes, manchas de sol e verrugas
- Meu Deus! Como a
minha cintura era fina! - exclama com surpresa e com tristeza, percebe que
atualmente ela se perdeu entre os tradicionais pneus e uma protuberante barriga
que resiste a horas de pesados exercícios
em academias e dietas severas e a
contragosto, tornou-se companheira
inseparável. E os lábios? Um dia, foram
carnudos e sedutores, atualmente, finos e expressam somente sorrisos amarelos
pelas tristezas acumuladas na vida.
Rosalina,
perdida em seus devaneios, percebe-se que o envelhecimento chega de mansinho,
sem que as pessoas se dêem contas das perdas. Perde-se a cada dia um pouco da
alegria de viver, da esperança em dias melhores, da vontade de lutar, e nesta
lista, acrescenta-se também, a perda do equilíbrio físico, tato, paladar, audição,
visão, olfato, memória, a força física. E o que se ganha com a idade? Medo das
condições em que ocorrerá a sua morte, do sofrimento que está por vir. O
remorso pelos erros do passado. A angústia de
sua experiência de vida não ser exemplo para os jovens, para que
eles não cometam os mesmos erros. E a tão
falada sabedoria da maturidade? Ah! Ela é uma ilusão criada para aplacar a
dor causada pelas estupidezes da
juventude e a famosa benevolência dos idosos nada mais é do que falta de forças para persuadir a nova geração
a seguir o mesmo caminho trilhado por
eles. – Envelhecer é doloroso! - diz
Rosalina e num impulso,
começa a chorar compulsivamente enquanto vai rasgando as
fotografias, que estão como ela, estão envelhecidas pelo tempo.
Deixe o seu comentário como você têm lidado com o peso dos
anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário