sábado, 18 de fevereiro de 2023

Desentendimento no ateliê de costura

         

         As  duas palavras preferidas das mulheres  são “promoção e liquidação” e Rosalina não é diferente, não por opção, mas por necessidade, bem que gostaria de usufruir da qualidade da alta costura, mas enfim, nascer e permanecer na pobreza é sina de muitos infelizes, por mais que eles trabalhem; este mistério não é explicado nem pela  religião e menos ainda, pela ciência e avançar para a classe social acima da sua, é privilégio de poucos e a nossa personagem, amarga  o destino de viver na carestia, sempre tendo que optar, ou compra a blusa ou a saia, ou o tomate ou a alface, ou o sorvete ou a empada. Assim sempre foi e sempre será, desde os tempos  bíblicos. Pobre é pobre e ponto final!

        Em uma tarde quente de verão, em que perambulava pelas ruas paulistanas, entrou em um shopping com o intuito de usufruir  do ar condicionado, recuperar as forças e voltar para casa, caminhando, a condução está muito cara e táxi é para a  Angélica. Enquanto descansava as pernas, seus olhos percorriam as  vitrines e eis que deparam com  uma placa vistosa  que anunciava liquidação de camisas femininas, qualquer modelo por R$30,00. Estava com fome sim, porém, optou por pela compra e saiu satisfeita,  preço bom, porém, precisava cortar as mangas.

        Foi uma compra de impulso, abdicou do lanche, deixou o estômago padecendo por algumas horas,  e agora precisava de uma costureira. Consulta uma amiga, uma vizinha até que  conseguiu um ateliê  especializado em reparos e lá foi ela, levando uma blusa de modelo para o  acabamento modelo “francesinha” e a atendente já anunciou o preço, R$25,00, sendo 50% adiantado, prazo de cinco dias para retirar, ela não se opôs, e com o restante do dinheiro na bolsa, no dia marcado,  partiu para buscar a encomenda.

        Entregou a ordem de serviço, recebeu a sua sacola e pegou a blusa para  verificar o trabalho, para sua surpresa, a manga tinha  acabado simples. – Moça, não foi assim que pedi para fazer, trouxe uma blusa de modelo, e o trabalho foi executado de outra maneira,  disse à atendente que  prontamente respondeu. – A dona da loja não está, mas pode deixar que nós refaremos o serviço. Por ter noção de costura, Rosalina sabia que não seria possível e disse: - não dá para  reparar o erro, olha o pouco tecido para fazer a dobra, porém, a moça não se intimidou e  retrucou:  por que você está sendo ignorante comigo, eu não estou me negando a reparar o erro. E a cliente já irritada respondeu – não estou sendo ignorante, estou apenas dizendo que falta tecido para fazer a dobra necessária. A jovem não se deu por vencida e completou – tem as sobras ali. Enraivecida, frustrada a cliente  acrescentou- Sabe de uma coisa, vou resolver  do jeito mas simples, vou lhe pagar  e nunca mais voltarei aqui, entregou o dinheiro e quando ia saindo, a funcionária a insultou –Pode ir embora mesmo,  não precisamos de cliente como você.

        Rosalina  não conseguiu compreender porque o incidente a deixara tão abalada, talvez, pelo sofrimento de ter perdido o beneficio da promoção, abriu mão do alimento para  adquiri-lo, não ficou do seu agrado e ainda teve um custo de R$10,00 para levar a peça,R$10,00 para buscá-la  que somado aos R$25,00 do reparo,  mais o custo da blusa de R$ 30,00,  totalizando R$75,00, no qual ela poderia ter gasto em uma peça de  mais qualidade e sem dissabores. Pensando em direitos do consumidor, o certo seria que  funcionária se desculpasse pelo erro e não ofendesse a cliente  que não teve a ordem de serviço cumprida a contento. Maltratar cliente ofendido não é uma boa opção, da mesma maneira que ela chegou lá por indicação, outras  clientes em potencial não  irão levar serviço por recomendação, e com certeza, Rosalina irá contar à todas as mulheres de seu círculo de amizades a humilhação sofrida.

       

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