domingo, 12 de fevereiro de 2023

As mão de Rosalina

                   Quem não admira as mãos dos bebês, que seguram com firmeza o dedo do cuidador? Assim era as mão de Rosalina quando nasceu: pequenas, delicadas e brancas e sua avó não cansava de admira-las. - não têm uma manchinha sequer, dizia com  orgulho!  Em seu íntimo, a anciã já sabia que tanta beleza em mãos de uma criança não duraria muito porque a labuta da vida no campo é diária  e dura e o trabalho não cessa, sol a pino ou chuva torrencial, plantações e animais precisam de cuidados e as mãos são as principais ferramentas da lida diária. Há quem diga que a maior descoberta  da humanidade não foi o fogo, mas o uso das mãos!

          As  alvas mão de Rosalina começaram a trabalhar cedo! Sua mãe não produziu leite suficiente para alimenta-la e segurar a mamadeira foi o seu primeiro trabalho, antes mesmo que se juntassem em prece, pedindo  chuva a Santo Isidoro Lavrador. E à medida que crescia, as tarefas foram sendo acumuladas, como arranca ervas daninhas na horta,  semear feijão, aduba-lo, colhê-lo, e  tantas outras. No ritmo da natureza, os anos seguiam  as marcas do tempo foram ficando nas  mãos alvas de Rosalina.

        Graças a modernidade  impulsionada pelo governo de JK, mudanças ocorreram no país e na vida das pessoas e o pobre teve acesso, entre tantas outras coisas, aos cremes para as mãos e para todos os  poderes aquisitivo, então Rosalina pode enfim, cuidar de suas maltratadas mãos, com cremes baratos, disponíveis em supermercados, já aposentada,  recebendo apenas um salário mínimo e com a responsabilidade de todos os trabalhos domésticos, porque os filhos  abandonaram o ninho, agora  podia se dar a   este pequeno luxo.

        Rosalina, como a maioria da população brasileira associava o valor do produto a qualidade e  lamentava não poder comprar um creme caro, mas ganhou um, no bingo da igreja, e usava todas as noites, antes de dormir, no entanto, suas mãos começaram a soltar pele,  e ela pediu uma consulta com o dermatologista do  SUS, que levou quase um ano para conseguir e neste lapso de tempo, o creme acabou e ela   comprou o mais barato do mercado, e por  ter custado pouco, ela usava sempre que  executada uma tarefa doméstica e em três dias,  a pele de suas mãos estava   normal e em sua ingenuidade ela refletiu que  as indústria desenvolvem creme  barato para as mãos dos pobres. Suas mãos trazem as marcas do tempo e do trabalho duro no campo  e no lar, porém, ainda dotadas de força.

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