domingo, 16 de outubro de 2022

Remédios que não são vendidos em farmácias e drogarias

     Tem gente que não tem desconfiômetro,  às seis horas da manhã, enviando mensagem  e não é de falecimento. Nota de falecimento não pode esperar porque o corpo do morto tem pressa em retornar  ao útero da mãe terra, e como não fala, exala  odores que expressam o desejo de partir.  Olhei a mensagem já com o coração não mão, pensando de qual amiga eu me despediria para sempre ou  na melhor das hipóteses, acompanharia-a  ao Pronto Socorro, felizmente era apenas uma mensagem  sobre os medicamentos que não são  encontrados no comércio legal e menos ainda no clandestino.

E  a lista começou falando da importância da atividade física, bem, quem mora em casebres e minúsculos apartamentos, encontram  obstáculo para praticar até mesmo uma caminha porque são pobres e isto significa que trabalham muito, enfrentam no mínimo quatro horas diárias dentro de ônibus urbanos, não tem espaço em casa  para exercitarem e menos ainda, calçado para enfrentar ruas esburacadas,  comuns nas cidades brasileiras.

Comida natural. Impossível   para o trabalhador brasileiro  que recebe em média, dois salários mínimos comprar comida orgânica simplesmente pelo preço, a grande massa consome somente produtos ultraprocessados e com baixo valor nutricional, e quanto a verduras, legumes e frutas, embora pareçam saudáveis estão repletos de  pesticidas e adubos químicos, e quando podem comprar, já que os preços  estão nas alturas por culpa da guerra, da chuva, do sol, do combustível e por aí a fora.

Rir. Pois é, este é de graça,  mas com as contas atrasadas, cobradores na porta a todo instante, celular sem crédito,  faltando remédio no Posto de Saúde, crianças chorando de fome, professores enviando lista de materiais escolares quilométricas, como o cidadão vai conseguir usufruir desta dádiva divina que é o riso?

Sono.  Essa sugestão  só pode  ser oriunda da cabeça de alguma madame que recebe café na cama e tem uma empregada até para lhe oferecer  o pijama, na hora de dormir. O trabalhador tem que sair de casa às quatro da manhã para entrar às oito  horas no trabalho, sai às dezessete horas,  e enfrenta um trânsito pesado, ônibus apertado, tem que passar no mercado, enfrentar fila para pagar a compra ou pedir fiado, preparar algo para comer, tomar banho, aí já  são quase meia noite, mais uma dádiva divina  gratuita que o pobre não  consegue  desfrutar, assim como sol, já que quando não está em trânsito, está trabalhando sob luzes artificiais.

Duas boas sugestões: amar e ser amado! Na teoria  é fácil, mas no dia a dia do trabalhador brasileiro só há espaço no coração para rogar misericórdia divina para que a sua carga diária  seja aliviada e que ele consiga viver até desfrutar de sua aposentadoria, que não lhe proporcionará conforto e lazer,  mas poderá  ficar  no sofá o dia inteiro  assistindo televisão.

Gratidão é outro remédio indicado. Ah! Isto o trabalhador tem de sobra. Ele é grato porque   ainda consegue  levar um pouco de comida para casa com dignidade, enquanto grande parte da população revira lixo em busca de algo para aplacar  a dor da fome. É grato por ter o privilégio de se apertar dentro de um ônibus lotado porque ir caminhando ou de bicicleta é impossível em virtude da distância.

Cantar e dançar! Também são bênçãos divinas gratuitas que o pobre não pode desfrutar porque não há espaço em sua residência para dançar e frequentar bailes  tem um  custo  e cantar, os vizinhos não permitem.

            Ter bons amigos.  Eita dureza! Amigos estão  bem vinculados a dinheiro e favores. Se faltar dinheiro, os amigos desaparecerão no ar feito fumaça. Se você deixa de fazer favores, eles somem.  Então, posso concluir que os remédios   para uma vida plena e feliz existem, mas se não há dinheiro, nem mesmo da luz solar  e ar puro, o  trabalhador pode se beneficiar.

 

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