sexta-feira, 30 de abril de 2021

Adoção é para os fortes

                  

          A  infertilidade feminina  é um fardo pesado para os povos que professam as crenças judaicas cristãs porque acreditam  na passagem bíblica em que Deus disse a Abraão “ crescei-vos e multiplicai-vos”. E não é só o peso religioso que recai sobre os seus ombros das jovens nesta situação, o social também. Chegar ao trinta anos sem ter dado a luz a  uma criança é um verdadeiro martírio  que as mulheres enfrentam. São lembradas a todo instante que  são balzaquianas e que o corpo não espera o sucesso profissional, a carreira deslanchar, ele segue o próprio ritmo e se esperar muito, pode ser tarde demais. Aquelas que,   por alguma problema biológico não conseguem  conceber uma vida também não são poupadas por aquelas que defendem que a felicidade da mulher está  na maternidade, aconselham-nas a adotar uma criança e constituir uma família tradicional.

          Para adotar uma criança, é preciso ter um amor incondicional, compaixão  e não ter forte apego a laços sanguíneos e a histórias dos antepassados. A criança chegará   carregada de um DNA e uma ancestralidade que os novos pais não conhecerão e  jamais poderão dizer: “Você herdou os olhos negros do seu avô paterno e a pirraça de sua avó materna e  é tão tagarela quanto o seu tio João Pedro e corajoso quanto o seu bisavô materno, que foi um verdadeiro desbravador.” Estes são papos de família que podem ser benéficos  quando enaltece uma qualidade do antepassado e maléfica quando realça em seu descendente as suas fraquezas.

          Adotar um filho é sim um gesto amor e coragem! O amor é necessário  para cuidar da frágil vida, abandonada por alguma razão desconhecida, e coragem para conduzir um ser que chegou  aos pais adotivos com uma história ancestral que não faz parte da deles, mas é uma vida que depende de todo o seu cuidado e dedicação e ajuda para  construir  a sua história  a partir da vivência com os novos pais, do momento em que estes  o acolheu em suas vidas. Ele chega com outro DNA e  atado a uma ancestralidade que desconhece e que jamais ouvirá histórias daqueles que vieram antes. É comum mulheres estéreis adotar  crianças  mais por pressão social do que por compaixão e acabam se frustrando por não reconhecer  no filho adotado, traços de seus antepassados, mas também há aquelas, que acreditam que os seus antepassados estarão orgulhosos da atitude que ela tomou ao incluir um ser desconhecido em sua vida.

          Existem centenas de milhares de crianças órfãs à espera de uma lar amoroso em que possam crescer saudáveis e   mudar o rumo de sua história, de rejeitada para acolhida.  A adoção tardia é um exercício continuo de amor e dedicação e abençoados são aqueles pais que recebem adolescentes em suas vidas e os amam como se os tivessem gerado e os conduzem pela vida com amor e firmeza. Adoção tardia é para os fortes!

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