segunda-feira, 26 de abril de 2021

Atrasos da vida

            Esta  doeu! Para quebrar a monotonia dos longos e tediosos dias da rotina de um idoso, decidi assistir vídeos aleatórios na internet, e  como é de praxe, assista um e aparece uma gama  de sugestões   para o deleite de pessoas ociosas como eu. Um chamou a minha atenção, discorria sobre os atrasos da vida e esqueci a primeira opção  e logo no primeiro minuto, já vesti a carapuça e percebi que não devo e nem posso culpar ninguém  pelas derrotas e frustrações que acumulei ao longo de oito décadas de  vida e o meu coração sangrou de tristeza, se eu tivesse  tido estas informações a sete décadas atrás, quem sabe meus dias não seriam tão amargos hoje.

Reclamar – Este hábito de reclamar de tudo e de todos, desde que me entendo por gente eu o faço.  Nada está bom para mim, nada me satisfaz e me deixa feliz. Nos dias  chuvosos reclamo pois não quero usar guarda – chuva, botas  ou tênis ao sair, que a roupa não seca e a casa fica com cheiro ruim. Se faz sol, reclamo do calor e da possibilidade de  desenvolver um câncer de pele, que transpiro muito e sinto muita sede, que as calçadas estão sempre lotadas de transeuntes.  Caso aconteça de eu receber uma visita, queixo-me do custo que tive com o lanche ou almoço para ela, se é o contrário, eu sou convidado, reclamo do transtorno de usar transporte público e  por aí vai...

Vitimismo  Este é um velho hábito desde a mais tenra idade. Se é algo que desejo fazer, que me fará feliz, procrastino, fico ansioso, torço o bigode  e a minha  compulsão por cigarro aflora e não consigo desfrutar  do momento. Diante de algo que precisa ser feito, doenças comuns  como infecção urinária, crises de enxaquecas, aparecem do nada e misteriosamente desaparecem  finda a questão, que foi feita com muito sacrifício.

Não se preparar para os desafios – Este é o mais grave de todos os meus defeitos e por culpa dele, estou aposentado, recebendo um salário mínimo e nem casar conseguiu, porque mulher nenhuma teve paciência comigo, um homem que não consegue dar um passo adiante, apesar de ter a ideia, o meio  e o tempo, nunca conseguiu se preparar para uma promoção no trabalho ou até arriscar em um novo emprego em outra área, e até mesmo empreender; sequer consegui que uma semente minha vingasse e o desejo de ser pai, avô; bisavô, tataravô ficou apenas no sonho do passado.

Tentar justificar o injustificável – Pela  má qualidade do meu serviço,  meus relacionamentos em todas as esferas da vida, procurei justificar com argumentação fraca e inverossímil e  com o  péssimo hábito de incluir um  mal estar para dar mais credibilidade a mentira deslavada.

            Culpar os outros pelos meus fracassos – Esta sim, foi e ainda é a minha especialidade. Meus pais são os culpados por não terem me dado  a oportunidade de estudar em  boas escolas, por não ter me dado uma mesada generosa para que eu pudesse desfrutar da  juventude com os amigos, por não arranjado um bom casamento para mim. O patrão  foi  culpado por não ter acreditado em meu talento ocultado e ter-me oferecido um treinamento adequado para que eu pudesse exercer melhor a função. Minhas ex-namoradas também  têm sua parcela de culpada por não terem tido a paciência necessária  até que eu conseguisse mostrar o meu valor.

            Focar em algo errado. Eu fiz e ainda faço isso. Queria o topo da montanha e fique a vagar sem rumo na colina, sem ao menos levantar a cabeça para procurar um local adequado  para abrir as picadas necessárias para  a escalada, longa, difícil mais possível.  Queria  aprender línguas mas foquei minhas leituras em revistas em quadrinhos. Almejei um bom emprego, mas nunca fui capaz de  me inscrever e frequentar um curso profissionalizante, Sonhei aprender a tocar sanfona, comprei uma, procurei uma escola de música e consegui a proeza de ter 90% de faltas, sem falar que em casa, nunca tirava o instrumento da caixa. Mirei alto, desejei muito, mas todos os meus esforços foram destinados àquilo que leva a pessoa a mediocridade.

 

Anônimo

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