segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Visita ao Santuário de Aparecida

                        

        A história do maior  santuário mariano  que recebe anualmente quase treze milhões de romeiros tem suas raízes no século XVIII, por ocasião da passagem por Guaratinguetá, SP  da comitiva do Conde de  Assumar,  governante da Capitania de São Paulo e Minas Gerais e para recebê-los a comunidade local preparou uma grande festa e sobre os ombros dos três humildes pescadores: Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves pesou a responsabilidade de conseguir peixes para o banquete.  Cientes da  dificuldade de cumprir a missão  por não ser época propícia  para a pesca, eles fizerem uma oração pedindo a intercessão da Mãe de Deus e lançaram  inúmeras vezes suas redes e nada  conseguiam, já desanimados, João Alves faz mais uma tentativa e desta vez, pescou algo inusitado:  a imagem de uma Santa, sem a cabeça, surpreso, lançou novamente a rede  e desta vez veio a cabeça que encaixou perfeitamente no corpo, após este fato inusitado, lançou novamente a rede e ela retornou cheia de peixes. Este é considerado o primeiro milagre de Nossa Senhora Aparecida, fato ocorrido no dia 17 de outubro de 1717. Mas como a imagem foi parar no fundo do rio Paraíba do Sul?  Talvez ela, por ter sido quebrada, tenha sido  jogada no rio  conforme uma antiga tradição popular. Outra versão,  acredita que  a imagem pertencia a uma capelinha da região e  fora levada pela enchente. A imagem permaneceu  por quase quinze anos na casa do pescador, Pedroso, onde as pessoas compareciam para rezar e a cada dia, aumentava o números de devotos; ficando o espaço pequeno, o vigário de Guaratinguetá decidiu construir uma capela no Morro dos Coqueiros. A obra foi entregue aos fiéis em 1745 e em pouco tempo o novo espaço também já não  comportava o número crescente de  romeiros, assim, em 1834, deu-se o  início da construção da Basílica Velha que também  em um curto espaço de tempo já não tinha  mais condições de receber o volume crescente de  devotos e houve a necessidade de construir uma igreja maior. Em 1946 foi lançada a pedra fundamental do atual santuário, porém, ela foi roubada na mesma noite e a nova pedra somente foi colocada em 1954.

          O projeto arquitetônico do Santuário  em forma de cruz grega,  assinado pelo arquiteto paulistano,  Benedito Calixto Neto,  data de 1947  e para desenvolvê-lo, ele viajou ao Peru, México, Canadá e  Estados Unidos para estudar a arquitetura sacra e encontrar ideias para a planta daquele  que viria a ser o maior santuário mariano;  foi bem sucedido em sua  busca, porém, a obra não prima pela originalidade,     é uma adaptação simplificada e ampliada  do Santuário Nacional da Imaculada Conceição, em Washington, EUA.  Com 71,936 mil m²,  cúpula com 70 metros de altura  e 78 de diâmetro, a torre 107. o Santuário impressiona pela sua grandiosidade  e comporta  até 45 mil pessoas por missa.

          A decoração interna ficou a cargo do  maior artista sacro de seu tempo, o paulistano Cláudio Pastro (1948 – 2016),  em sua concepção artística, o artista soube  aproximar a  liturgia com  a fé popular  e o conjunto da obra  surpreende pela beleza, simbologia e simplicidade das formas. Foram necessários dezessete anos de trabalho para transformar o interior da basílica em um grande livro sacro. Logo na entrada, o olhar atento do romeiro depara com  o painel de azulejos que narra o início da devoção, quando a imagem foi encontrada por pescadores, no rio Paraíba do Sul e caminha sobre   os peixes , símbolo cristão, desde os primórdios do cristianismo  na antiga Roma, e que  levam o devoto ao encontro da Padroeira do Brasil.  Em 2011, foi inaugurado o retábulo de Nossa Senhora, com 37 metros de altura e a fonte de inspiração do artista  foi a citação bíblica:

Um sinal grandioso apareceu no céu:
uma Mulher vestida com o sol,
tendo a lua sob os seus pés
e sobre a cabeça
uma coroa de doze estrelas;
estava grávida e gritava,
entre as dores do parto,
atormentada para dar à luz”. (Ap. 12, 1-2)

          O interior da basílica é de uma beleza impar, tanto no quesito qualidade técnica como  na simbologia  da ornamentação. Fazem-se necessárias horas de observação e pesquisa sacra para que o fiel consiga descobrir e absorver  a grandiosidade da obra de Cláudio Pastro que sabiamente soube unir tradições brasileiras com a sabedoria bíblica em que cada detalhe transmite um ensinamento. A estrela remete à peregrinação dos três Reis Magos  a Belém. A faixa vermelha com muiraquitãs  representa a Ressurreição. Algumas espécies de rãs  em tempos de seca, enterram-se  na lama e reaparecem com as primeiras chuvas. Jesus Cristo desceu a mansão dos Mortos e ressuscitou ao terceiro dia. A pomba  simboliza o Espírito Santo. Princípio e  fim são representados pelo círculo, cujo interior é preenchido com a cruz de ramos que representa o Cristo  salvador.

                  Em 26 de maio de 2019, graças a excursão organizada peoruma Associação da terceira idade, pude visitar com  segurança e tranquilidade  o Santuário da Padroeira do Brasil e confesso, fiquei encantada com a grandiosidade arquitetônica, a  delicadeza das pinturas internas, a comovente fé dos romeiros e as sábias palavras  dos celebrantes em suas homilias, razão pela qual sou profundamente grata à Associação e a você que se desdobrou em cuidado e carinho com os passageiros. A viagem suscitou em mim o desejo de conhecer mais sobre  a história de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e fiz uma  pesquisa que compartilho com os leitores devotos.
              

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