A história do maior santuário
mariano que recebe anualmente quase
treze milhões de romeiros tem suas raízes no século XVIII, por ocasião da
passagem por Guaratinguetá, SP da
comitiva do Conde de Assumar, governante da Capitania de São Paulo e Minas
Gerais e para recebê-los a comunidade local preparou uma grande festa e sobre
os ombros dos três humildes pescadores: Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João
Alves pesou a responsabilidade de conseguir peixes para o banquete. Cientes da
dificuldade de cumprir a missão
por não ser época propícia para a
pesca, eles fizerem uma oração pedindo a intercessão da Mãe de Deus e
lançaram inúmeras vezes suas redes e
nada conseguiam, já desanimados, João
Alves faz mais uma tentativa e desta vez, pescou algo inusitado: a imagem de uma Santa, sem a cabeça,
surpreso, lançou novamente a rede e desta
vez veio a cabeça que encaixou perfeitamente no corpo, após este fato
inusitado, lançou novamente a rede e ela retornou cheia de peixes. Este é
considerado o primeiro milagre de Nossa Senhora Aparecida, fato ocorrido no dia
17 de outubro de 1717. Mas como a imagem foi parar no fundo do rio Paraíba do
Sul? Talvez ela, por ter sido quebrada,
tenha sido jogada no rio conforme uma antiga tradição popular. Outra
versão, acredita que a imagem pertencia a uma capelinha da região
e fora levada pela enchente. A imagem
permaneceu por quase quinze anos na casa
do pescador, Pedroso, onde as pessoas compareciam para rezar e a cada dia,
aumentava o números de devotos; ficando o espaço pequeno, o vigário de
Guaratinguetá decidiu construir uma capela no Morro dos Coqueiros. A obra foi
entregue aos fiéis em 1745 e em pouco tempo o novo espaço também já não comportava o número crescente de romeiros, assim, em 1834, deu-se o início da construção da Basílica Velha que
também em um curto espaço de tempo já
não tinha mais condições de receber o
volume crescente de devotos e houve a
necessidade de construir uma igreja maior. Em 1946 foi lançada a pedra
fundamental do atual santuário, porém, ela foi roubada na mesma noite e a nova
pedra somente foi colocada em 1954.
O projeto arquitetônico do
Santuário em forma de cruz grega, assinado pelo arquiteto paulistano, Benedito Calixto Neto, data de 1947 e para desenvolvê-lo, ele viajou ao Peru,
México, Canadá e Estados Unidos para
estudar a arquitetura sacra e encontrar ideias para a planta daquele que viria a ser o maior santuário mariano; foi bem sucedido em sua busca, porém, a obra não prima pela
originalidade, é uma adaptação
simplificada e ampliada do Santuário
Nacional da Imaculada Conceição, em Washington, EUA. Com 71,936 mil m², cúpula com 70 metros de altura e 78 de diâmetro, a torre 107. o Santuário
impressiona pela sua grandiosidade e
comporta até 45 mil pessoas por missa.
A decoração interna ficou
a cargo do maior artista sacro de seu
tempo, o paulistano Cláudio Pastro (1948 – 2016), em sua concepção artística, o artista
soube aproximar a liturgia com
a fé popular e o conjunto da
obra surpreende pela beleza, simbologia
e simplicidade das formas. Foram necessários dezessete anos de trabalho para
transformar o interior da basílica em um grande livro sacro. Logo na entrada, o
olhar atento do romeiro depara com o
painel de azulejos que narra o início da devoção, quando a imagem foi
encontrada por pescadores, no rio Paraíba do Sul e caminha sobre os peixes , símbolo cristão, desde os
primórdios do cristianismo na antiga
Roma, e que levam o devoto ao encontro
da Padroeira do Brasil. Em 2011, foi
inaugurado o retábulo de Nossa Senhora, com 37 metros de altura e a
fonte de inspiração do artista foi a
citação bíblica:
“
Um sinal grandioso
apareceu no céu:
uma Mulher vestida com o sol,
tendo a lua sob os seus pés
e sobre a cabeça
uma coroa de doze estrelas;
estava grávida e gritava,
entre as dores do parto,
atormentada para dar à luz”. (Ap. 12, 1-2)
O interior da basílica é
de uma beleza impar, tanto no quesito qualidade técnica como na simbologia
da ornamentação. Fazem-se necessárias horas de observação e pesquisa
sacra para que o fiel consiga descobrir e absorver a grandiosidade da obra de Cláudio Pastro que
sabiamente soube unir tradições brasileiras com a sabedoria bíblica em que cada
detalhe transmite um ensinamento. A estrela remete à peregrinação dos três Reis
Magos a Belém. A faixa vermelha com
muiraquitãs representa a Ressurreição.
Algumas espécies de rãs em tempos de
seca, enterram-se na lama e reaparecem
com as primeiras chuvas. Jesus Cristo desceu a mansão dos Mortos e ressuscitou
ao terceiro dia. A pomba simboliza o
Espírito Santo. Princípio e fim são
representados pelo círculo, cujo interior é preenchido com a cruz de ramos que
representa o Cristo salvador.
Em 26 de maio de 2019, graças a excursão organizada peoruma Associação da terceira idade, pude visitar com segurança e tranquilidade o Santuário da Padroeira do Brasil e confesso, fiquei encantada com a grandiosidade arquitetônica, a delicadeza das pinturas internas, a comovente fé dos romeiros e as sábias palavras dos celebrantes em suas homilias, razão pela qual sou profundamente grata à Associação e a você que se desdobrou em cuidado e carinho com os passageiros. A viagem suscitou em mim o desejo de conhecer mais sobre a história de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e fiz uma pesquisa que compartilho com os leitores devotos.
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